Pela manhã, Ridley deixou o apartamento 2D e desceu, vendo Link
sentado sozinho à uma mesa do Restaurante de Marilyn, falando ao
telefone.
Interessante.
Uma xícara fria e intocada de café estava diante dele. Link vestia uma
camiseta com o Mario e o Luigi, o que só podia significar uma coisa: estava
se sentindo nostálgico e sentimental. Isso normalmente significava
problema para Ridley, que nunca admitia sentir uma coisa nem outra.
Ela foi até ele, cautelosa. Estava com a meia-arrastão preferida, a botinha
de camurça aberta na frente, o minikilt com fivela e a camiseta preta mais
antiga. Roupas confiáveis — contudo, de algum jeito, naquela manhã elas
não estavam ajudando.
Ridley não sabia por que estava se sentindo tão fora de controle. Nada
ao redor parecia fora do comum. Ventiladores giravam sobre uma longa
bancada no centro do cômodo. Um certificado desbotado do Departamento
de Saúde de Nova York estava pendurado ao lado de um calendário
ultrapassado da Marilyn Monroe, a inspiração para o nome do restaurante.
Ela não foi uma Sirena, até onde Ridley sabia, mas deveria ter sido.
Erguendo-se atrás da bancada, vitrines empoeiradas de vidro ofereciam
rosquinhas grudentas com cobertura manchada por velhos granulados
coloridos. Fatias secas de bolo, embrulhadas com plástico, se apoiavam
sobre grandes muffins de chocolate, minicaixas de cereal de açúcar ou
pequenos recipientes cheios de calda doce — em outras palavras, isca de
Sirena. Ela podia sentir o cheiro no ar.
Mas Rid era a única Sirena no restaurante, disso tinha certeza. A bancada
e os bancos cobertos de vinil estavam cheios de estudantes com piercings
nos narizes, artistas tatuados e até mesmo profissionais estressados com
paletós e tênis de corrida — a maioria Mortais, ao que parecia. Quando
passou por eles, evitaram seu olhar, como se soubessem de alguma coisa
que ela não sabia. Como se houvesse alguma coisa nela que eles não
quisessem saber.
Ou temessem saber.
Estranho.
Ela sentiu o mesmo frio familiar; o da calçada, o do Feitiço Vindicabo.
Dos seus sonhos. Tentou se livrar da sensação. Nova York era uma cidade
suficientemente complicada — vulnerabilidade era um luxo que não
poderia se dar.
Nada que eu não dê conta aqui, certo?
Tentou não considerar a resposta à própria pergunta.
Além disso, havia alguns rostos familiares. Olhando mais de perto,
Ridley identificou um Incubus de Sangue cortando carne crua na cozinha,
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Sirena
FantasyRidley Duchannes nada tem de heroína de romances açucarados. Ela é uma Sirena e não hesita em usar seus poderes para enfeitiçar o que cruzar seu caminho, sejam Conjuradores das Trevas, Incubus ou Mortais. Desde que sua família lhe virou as costas, s...