(2) Vizinho número 777

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Lembrei do apelido que eu Amanda e Rafaela demos á ele antes de descobrirmos seu nome, era o famoso "Vizinho número 777", não sabíamos o nome dele, mas sabíamos o número do seu apartamento, e o bom que era fácil de decorar. As vezes eu tinha até vontade que ele desce uma reparada em mim, bom eu e minhas amigas todas queríamos nem que fosse um olharzinho dele, mas isso não aconteceu nenhuma vez, ele era muito sério. Mas pra elas foi uma brincadeira, e pra mim que vivia no mesmo prédio que ele foi uma catástrofe.
Eu comecei a gostar dele, apesar de que havia trocado apenas "bom dias" "boas noites" e "boas tardes" com ele...
Mas isso não vem ao caso, não era nada definitivo que eu estava apaixonada por ele. Era só aquela coisinha de carência que você passa a gostar das coisas.
Isso estava dominando meu cérebro, eu estava praticamente dois anos sem me apaixonar ou qualquer coisa do tipo, talvez a carência fez isso comigo, mas para falar a verdade eu realmente estava achando ele mais bonito do que sempre hoje.
Apesar daquela roupa estranha, e de não poder olhar pra ele direito devido e espinha na ponta do nariz.
Maldita espinha.

-O que foi isso? -digo assim que o elevador parou, e com ele toda a luz.

-Ah não, deve ser a falta de energia. -ele diz.

-E agora? -digo me segurando.

-Eu não sei. -ele diz vasculhando a mochila.

Bem, era o que parecia. Afinal estava tudo muito escuro para saber o que estava acontecendo.
Então rapidamente vejo finalmente uma luz acender.

-Achei. -ele se alegra com a lanterna.

Eu não tinha nada para dizer, na verdade eu estava me sentindo uma idiota.
Em primeiro lugar por aquela roupa ridícula.
Eu bem que agradeci quando a luz se foi para que ele não visse o meu estado, mas...
Não queria ficar presa em um elevador com alguém que eu não consigo ter um diálogo normal, apesar de ele estar aqui desde o ano passado.

Sinto a luz de sua lanterna vir sobre mim.

-Ei, você tem um cachorro, não é? -ele pergunta e meu coração gela.

Ele estava falando comigo?

-É, eu tenho um cachorrinho... -sorrio de lado.

-Cachorrinho? -ele pergunta rindo.

Na verdade, meu "cachorrinho" não tinha nada no diminutivo, o nome dele era , Fumaça era um lindo e enorme pastor alemão.

Foi uma grande dificuldade fazer com que deixassem o Fumaça ficar no prédio, mas como morávamos no último andar, e por pagarmos mais por isso eles deixaram finalmente o Fumaça ficar comigo.

Mas falando nele, eu não o vi hoje, não acredito que ele tenha se metido em alguma enrascada, por que a síndica daqui é a verdadeira bruxa.

-Vamos dizer que ele é um cachorrinho pouquinho exagerado no tamanho. -sorrio.

-Sabia que eu já ia no seu apartamento? -ele pergunta.

-Sério? -pergunto.

-Seu "cachorrinho" resolveu invadir meu apartamento essa manhã. -ele diz e eu me sinto envergonhada.

Tinha que ser o Fumaça pra me passar por essa enorme vergonha.

-Nossa, perdão... -digo com vontade de esmagar a cabeça do meu pastor alemão.

-Que isso, ele foi muito bonzinho, e até me fez companhia. Ficar sozinho num apartamento é meio solitário. -ele diz.

-Sério que você mora sozinho? -pergunto me sentando no chão do elevador.

-Sério. -ele diz fazendo o mesmo, só que do outro lado do elevador.

-Deve ser ruim morar sozinho... -digo.

-As vezes é sim. -digo.

-Mas sem querer ser intrusa, eu acho que já vi uma garota no seu AP, sua namorada? -pergunto.

Eu não sei se era burrada mas eu queria muito, mas muito mesmo saber se ele tinha uma namorada.

-Na verdade não, aquela é só uma amiga da faculdade... Apesar de ela ter se declarado pra mim uma vez. -ele conta.

-Se declarou? -pergunto.

-É, aquelas coisas de que você acha alguém muito legal, sua amiga. E nem percebe que ela está gostando de você. -ele explica.

-Nossa, e o que você disse pra ela? -pergunto.

Eu era muito curiosa, e agia como uma pipa, e quanto mais me davam corda, mas eu tomava liberdade da conversa.

-Uma coisa em mim que algumas pessoas não gostam muito é a minha sinceridade. Eu sou muito sincero, e fui sincero com ela. Eu não era afim dela... -ele diz.

-Nossa... Mas só pra constar, qual sua idade? -pergunto.

-19, e você? -ele pergunta.

-Eu tenho 17... -digo.

-Pensei que era mais nova. -ele diz levantando a sobrancelha.

Olho pra ele sentindo minhas bochechas ficarem geladas.

-Por causa da roupa. -ele disse me deixando completamente envergonhada.

-Imaginei... -digo.

-Não se envergonhe, no meu AP eu tenho os foros de cama do homem aranha. -ele conta, o que me parecia ser para não me deixar tão envergonhada.

-Então somos dois jovens-criançonas... -digo.

-Esse foi um dos motivos por eu não ser afim da minha amiga. -ele conta.

-Lençóis do homem aranha interferem? -pergunto tentando fazer uma piadinha.

-Não é bem assim, mas acontece que ela era uma pessoa séria. Gostava muito de mim, mas esse meu jeito criança... -ele conta.

-Eu te imaginava a pessoa mais séria do mundo. -digo por dizer.

-Eu te imaginava completamente diferente do que nesse diálogo. -ele me surpreende.

-Por que? - pergunto.

-Ah, eu te achava uma patricinha... Se bem que não conversamos o suficiente para eu saber direito. -ele disse me decepcionando completamente.

-Eu não sou patricinha! -faço careta ficando triste por ele pensar isso de mim.

-Não queria ofender. -digo.

-Tudo bem. -abaixo a cabeça ficando emburrada.

Ficamos em silêncio por um grande tempo. Eu não acredito que finalmente conversei com o vizinho número 777 pela primeira vez, e ele me acha uma patricinha. Mas é claro que eu não sou, tudo bem que eu sou filha única e ganhar alguns mimos por isso. Mas eu nunca fique tão chateada assim, por que uma coisa simples vindo de um vizinho chato e lindo iria me deixar assim, tão para baixo.

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