(5) O vizinho número 777

470 45 7
                                    

-Você tem razão. -digo me virando em sua direção apesar da escuridão.

-Eu sempre tenho razão. -ele sorri.

-Não exagera. -sorrio.

-E eu tenho razão quando digo que você não é só bonita, e sim linda. -ele passa a mão no meu cabelo.

Agradeço pela luz não está aqui pois se não ele veria a enorme espinha na ponta do meu nariz. Engraçado como ele com esse jeito me fez mudar de idéia tão rápido. Sinto a respiração dele mais perto enquanto ele passava a mão sobre o meu cabelo.

Mas de repente a luz do elevador acende e ele desce um pouco, em seguida escorrego para o canto do elevador e o Gabriel junto.

Foi tudo rápido e a luz estava piscando sem parar.
Ao me virar vejo que Gabriel estava mais perto de mim do que nunca.

-Eu to com medo... -confesso encostando a cabeça no canto.

-Vai ficar tudo bem. -ele diz olhando pra mim e para a minha boca.

Estranho como em menos de 2 horas eu criei um certo afeto pelo vizinho, ele até que me entendia, entendia mesmo.

-Você não tem namorada mesmo, não é? -pergunto olhando pra sua boca como ele olhava para a minha, porém mordendo o lábio inferior.

-Não... -ele diz.

-Ah... -digo.

-Desculpa, mas eu preciso disso. -ele termina a frase rapidamente.

Me sinto ser puxada pela nuca enquanto ele enfiava a mão baixo do meu cabelo. Não precisa nem dizer que em pouco tempo estávamos com os lábios colados. Assim que sua língua pediu passagem, eu dei para que ela tomasse conta de mim, com a outra mão ele me abraçou fazendo sua língua dançar na minha boca junto a minha.
Era incrível a forma bagunçada que ele fazia em mim, mas era como uma bagunça gerenciada por ele. Parecia que eu já sabia o que ele iria fazer cada vez que sua língua mexia dentro da minha boca.
  Não esperei nem mais um minuto para esticar minhas mãos e agarrar sua nuca e seu cabelo, correspondendo cada milímetro, e aproveitando cada segundo.
Eu senti meu coração disparar e eu não acreditava que estava beijando o vizinho número 777.

O mais sério, lindo de olhos escuros e brilhantes e cabelos negros escuros, aquele que de vez em quando usava um óculos que deixava ele ainda mais lindo.
Aquele que só me dava um "bom dia", "boa tarde" e "boa noite".
Aquele que eu e minhas amigas ficávamos espionando.

E como era incrível o beijo dele, era lento, porém intenso e com uma pegada inesquecível.
Eu não sei o que ele tinha para beijar assim, não sei se era a emoção de finalmente estar beijando o Gabriel.
Mas era o beijo mais legal da minha vida, era uma coisa completamente sem preparação. Simplesmente aconteceu, aconteceu na escuridão de um elevador por causa do blecaute que se fez na cidade.
Acho que a melhor coisa de um beijo é quando nada está planejado, quanto tudo acontece assim.
E eu sempre tive uma queda por ele, sempre quis saber como era o gosto do seu beijo e agora eu sabia. E era bom, muito bom, mais que bom.
Devagar ele foi se separando de mim com selinhos delicados e foi em um desses selinhos que resolvi morder seu lábio, e com selinhos e mordidas fomos nos separando.

Eu pensei que ele diria algo, mas me enganei ele não disse absolutamente nada, e eu aproveitei a escuridão para fechar os olhos e passar a mão de leve nos meus lábios lembrando do que aconteceu segundos atrás.
Eu queria olhar pra ele, e olhe mas a escuridão não me mostrava a afeição no rosto dele.
Mas eu entendia o silêncio dele, pelo menos eu acho que entendia.
Ele não acreditava no que tinha feito provavelmente, o instinto de homem falou mais alto e ele me beijou, e beijou muito bem pra valer.

Mas se passaram quase 20 minutos e ele não disse nada a respeito do beijo...
Será que ele me beijou por pena da situação na qual eu estava?
Será que foi por causa do desabafo.
Respirei fundo olhando para o teto que estava completamente escuro.
Não foi por isso, não pode ser por isso.

Ouço meu celular tocar e olho o visor, a linha telefônica havia dado sinal de vida.

-Alô. -digo ao atender minha mãe.

-Oi filha, o sinal está caindo e voltando, mas está tudo bem ai? -ela pergunta.

-Está mãe. -digo com uma voz frustrada.

-Não parece está tudo bem, que voz é essa? -ela pergunta.

-Deve ser um resfriado mãe. -digo.

-E onde você está? -ela pergunta.

-Estou presa no elevador. -digo como se fosse a coisa mais normal do mundo.

-Você está presa no elevador filha? Você esta sozinha ai? -ela pergunta preocupada.

-Não mãe, eu não estou com um vizinho. -digo.

Não estava com um vizinho, mas sim com "o vizinho".

O que eu queria era desabafar com a minha mãe por telefone ou até mesmo com uma amiga.
Dizer que a pouco tempo o vizinho número 777 me beijou, e agora faz um tempo que ele não fala comigo, e antes do beijo estávamos conversando como se nos conhecêssemos há anos.
Eu não sabia por que esse silêncio me incomodava tanto, eu fiquei tanto tempo vendo ele por aqui, mas nunca tive um diálogo, e agora era como se eu necessitasse de um diálogo com ele, sei que fazia só quase 30 minutos que não nos falávamos, mas eu sentia falta.

-Filha? -minha mãe chama.

-Ah, oi? -respondo.

-Mãe? -chamo algumas vezes mas a ligação caiu.

-Mães, sempre preocupadas. -ele diz e eu sinto um frio enorme na barriga.

Graças a Deus, eu não acredito que ele finalmente disse algo.

-Mãe é sempre assim. -digo.

-A minha realmente era assim... -ele conta.

-Era? -pergunto.

-Ela morreu, tem 6 anos. -ele diz.

Sabe quando você sente uma vontade inexplicável de abraçar alguém, então era essa a vontade que eu senti, de abraçar o Gabriel e dizer que eu estava aqui.

Blecaute Onde histórias criam vida. Descubra agora