(7) Me repara

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Ela coloca o rosto entre as mãos e começa a chorar sem parar.

-Desculpa. -peço ao me arrepender.

Mas ela não parava de chorar e nem se quer olhava pra mim.

-Sério Rafaela, desculpa. Eu não pensei que isso ia te chatear.

-Não precisa se desculpar. Eu quem sempre fui uma idiota. Eu devia ter me afastado de você quando pude. Agora me diz por que você nunca reparou em mim Jean?
Eu fazia de tudo para te agradar, fazia de tudo para você me notar, mas você sempre queria deixar claro que você não gostava de mim, e nem me via como as outras garotas. -ela explica chorando ainda com a mão no rosto.

-Eu não sei... -digo. Mas era a verdade, eu não sabia.

-Eu sei por que, eu era a idiota que estava sempre do seu lado. Eu aposto que você nunca percebeu quando eu chegava no colégio com os olhos inchados de chorar, de chorar por você. -ela grita a última parte.

-Desculpa. -peço.

-E você? Quando eu resolvi te deixar de lado depois que fiquei com o Alisson, eu pensei que você viria atrás de mim, que você sentiria minha falta.
Mas não, bastou a tal de Lígia chegar pra você nem olhar mais pra mim, e quando ela foi embora pra onde você foi?
Foi correndo atrás da "amiguinha" aqui. E eu estava la, estava te esperando. -nesse momento a voz dela ficou fraca.

-Eu não imaginava... -digo.
Na verdade eu não sabia o que dizer, eu sempre estava tentando salva-la de apuros, e agora eu quem machuquei ela.

-Quando eu soube da notícia de que a sua namoradinha foi embora eu fiquei a pessoa mais feliz do mundo. Pensei que finalmente você ia reparar em mim. Tanto que no dia que você chegou na minha festa de 15 anos eu fui correndo te abraçar, eu queria que você visse como eu estava. Queria que você olhasse pra mim e percebesse o quanto eu estava bonita naquela roupa, e tudo mais. -ela para um pouco.
-No começo eu até cheguei a pensar que você estava gostando de mim, mas foi completamente engano. Você voltou a ficar com um bando de garotas e a minha opção era fingir que não me importava, enquanto você me destruía por dentro. -ela não parava de chorar nem um segundo.

Como eu ia adivinhar que ela gostava de mim.

-Quantas vezes eu fingi gostar de outros garotos, pra você não perceber que na verdade eu gostava de você. Cada dia que passava mais eu ficava magoada, porque você frequentava minha casa, eu a sua. Sempre estávamos juntos e você nunca me olhou como para a tal de Lígia. Eu sei que no entanto parece falta de respeito olhar para a bunda das garotas, mas eu queria que você olhasse pra minha pelo menos uma vez. -ela sentou no chão da calçada enquanto chorava.

-Você quer saber de uma coisa?
Você pensa que eu não reparava mais eu reparei. Tanto é que eu me apaixonei por você Rafaela. -sou sincero com ela.

-Isso é mentira, você só ficou com pena de mim, mas pode esquecer tudo o que eu te disse. Isso foi apenas um desabafo. Agora pra mim não faz diferença alguma, não quero mais me decepcionar e fique sabendo que eu vou esquecer você Jean, e sabe o que mais?
EU ODEIO NOSSA AMIZADE! -ela grita.

-Não fala isso. -peço.

-Se eu pudesse voltar no tempo nunca iria me aproximar de você, nunca teria te abraçado naquele dia, nunca teria te apoiado nas suas artimanhas de menino levado. Nunca sairia atrás daquele garotinho loiro de cabelos lisos e amarrotados. -ela parecia soltar tudo para fora.

-Por que você se arrepende? Não foi bom? -pergunto.

-Pra você deve ter sido não é? Quem não quer um pau mandado. Mas você acha que foi bom pra mim?
Eu via você resgando as cartinhas que eu te mandava da fase introdutória, mas mesmo assim continuava junto de você e seus colegas, parecendo um garoto. Mas aquilo era pra ficar perto de você. Você sempre dizia para os seus amigos que eu era estranha. Eu sabia de tudo, mas gostava tanto de você que não me importava. -ela respira fundo.

Quando eu dizia que ela era estranha, não era uma estranha ruim. Ela era estranha porque preferia ser pirata do que brincar de casinha ou bonecas. E era por isso que eu gostava dela, ela era uma estranha legal.

-Eu não fiz por mal. Você nunca se declarou. -digo.

-Como você pode dizer que eu nunca me declarei? E as cartas, e o selinho na quadra. E tudo!
Parecia que você queria me afastar de você, queria me afastar pra que? Pra não passar vergonha com seus amigos? Ou não queria sua tripulante apaixonada por você? -ela pergunta.

-Não é nada disso. -digo.

-Desde tanto tempo eu venho batendo na mesma tecla. Na tecla de você talvez dizer que pelo menos uma vez, uma vez não me viu como um de seus soldadinhos de chumbo. -ela estava soluçando de chorar.

-Você não era um soldadinho de chumbo pra mim... Você era a minha melhor amiga e eu tinha medo de te perder, de perder sua amizade por causa de uma paixãozinha boba. -digo.

-Então você acha que a minha paixão era uma besteira não é? -ela pergunta.

-Não. -digo.

-Achava sim, eu te via como o cara mais legal que eu já conheci... Agora você não é mais nada pra mim.
EU SÓ QUERO TE ESQUECER! -ela se levanta e saí correndo pela rua escura e no meio da chuva.

Nesse momento percebo que perdi meu guarda-chuva, mas pelo menos a minha casa não estava tão longe.
Então eu saio correndo atrás dela na chuva, onde que eu iria imaginar que ela também gostava de mim.
Pra mim aquilo era apenas uma paixão não correspondia, mas ela acaba de provar ao contrário, e agora está com raiva de mim por uma coisa que eu nem tinha idéia, porque se eu soubesse já estava com ela.

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