(7) Vizinho número 777

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-Ta com medinho é? -ele ri de mim e eu dou um tapa nele.

De repente ouvimos o som de algo batendo, algo estrondoso vindo do andar de cima.
Dou um grito inesperado de susto.

-Meu Deus, o que foi aquilo? -pergunto.

-Deve ser ele. -ele diz.

-Ele quem? -digo assustada.

-João, o faxineiro. -ele diz me deixando horrorizada.

A única coisa que eu sei foi que eu virei mil descendo aquelas escadas puxando o vizinho, ele estava no comando mas quando se tratava do meu medo, caramba era mais forte que eu.

-Ah, ainda bem que chegamos. -digo com as mãos no joelho parada na frente de seu apartamento.

-Posso te confessar uma coisa? -ele pergunta rindo.

Eu olho para aquela escuridão vendo apenas o branco do seus olhos.

-Fala. -digo cansada.

-Sabe a história do faxineiro? -pergunto.

-Sei. -digo.

-Era mentira. -ele gargalha.

-Não acredito. -dou um soco de leve em seu ombro.

-Você tinha que ter visto sua cara, bem apesar de que eu não vi por causa da escuridão, eu imaginei devido a sua voz. -ele continuava rindo.

-Não acredito que você inventou aquilo tudo. -digo.

-Desculpa, mas foi muito engraçado. -começo a rir junto com ele.

-Bobo! -exclamo.

-Vem vamos entrar. -ele diz depois de um bom tempo tentando achar o buraco da fechadura.

-Nossa que AP legal. -digo assim que entramos. Era que não dava para ver nada, então fiz um bela cena.

-É lindo mesmo. -ele ri e em seguida bate a perna em alguma coisa.

-É sempre assim, quando fica escuro parece que as canelas são as únicas que enxergam, e elas vão direto nos móveis da casa. -digo rindo.

-Verdade. -ele diz com um voz de dor.

-Mas é bem feito, queria me fazer medo. -digo.

-Você é má. -ele ri.

-Onde você está? -pergunto.

-Aqui. -ele diz para que eu localiza-se.

-Calma, estou indo aí. -digo seguindo em direção a sua voz.

Mas algo na minha frente me fez tropeçar e cair bem em cima dele.

-Aí minhas costas. -ele parecia ter sentido dor. Não porque eu era pesada, mas sim pelo fato do chão ser muito duro.

Começo a rir dele, mas assim que sinto sua respiração perto da minha eu paro de rir.
Eu não precisava enxergar para saber que a boca dele estava bem na frente da minha, e a minha estava pedindo para ser beijada. E se ele tomou a liberdade de beijar meus lábios uma vez, eu poderia quem sabe beija-lo.

Então vou me aproximando devagar com as mãos em volta da cabeça dele pregadas ao chão.
Mas a decepção veio quando ele virou o rosto, e começou a se levantar.

-Temos que arranjar um lugar pra você dormir. -ele diz.

Então eu me levanto de cima dele sem dizer nada, apenas fiquei com aquilo na cabeça.
Ele sabia que eu iria beija-lo...
E mesmo assim evitou que nossos lábios se tocassem novamente.

-Vou procurar outra lanterna. -ele avisa e saí, me deixando completamente intrigada sentada no no chão de sua sala.

Pera aí, foi isso mesmo produção?
Ele se recusou a me beijar?
Mas por que?
Por que ele se recusaria me beijar?
Afinal quem começou ele joguinho foi ele, ele quem me beijou no elevador. E agora simplesmente ele me evita. Era impossível ele não saber que eu iria beija-lo, não tinha cabimento o que ele acabara de fazer.
Ouço passos da escada e um luz em seguida, suponho que seja ele.

-Olha, o AP é pequeno, mas você pode dormir na minha cama, e eu venho para a sala. -ele diz e eu continuo em silêncio absoluto.

Não acredito que ele teve a capacidade de me fazer de idiota.

-Ei. -ele me chama apontando a lanterna em mim.

-Que foi? -pergunto sem um pingo de educação.

-Nossa, a educação mandou lembranças mocinha. -ele diz.

-Da próxima fala pra ela mandar dinheiro, porque de lembranças eu não estou gostando. -digo sem olhar pra ele.

-Só queria perguntar se você não esta com fome. -ele pergunta.

-Não, obrigada. Só quero dormir. -digo séria.

-Ta bom, você vai para o meu quarto e eu venho dormir aqui na sala, tudo bem? -ele pergunta.

-Não, eu estou na sua casa de favor então eu acho que devo dormir na sala. -digo.

-Mas eu faço questão. -ele diz.

-E eu também. -digo.

-Não se faça de difícil vai. -ele diz.

-Busca logo um travesseiro, eu me ajeito em qualquer lugar. -digo fria.

-Tudo bem... -ele sai da sala.

Que idiota esse cara, não acredito que uma pessoa que na mesma hora é super legal com você e em seguida parece um tosco.
Por que ele fica me dando esperanças, e em seguida acaba com elas?
Ele ta querendo brincar, com toda certeza é isso.
E se ele está querendo brincar eu sinto muito, mas brincar não faz meu tipo, e eu quero que ele me esclareça isso tudo.

Fico sentada no chão por um bom tempo, ou ele queria enrolar muito onde quer que ele estava, ou queria me deixar esperando como uma tonta.

Me diz como é que pode, não faz nem 6 horas que eu estou com um vizinho, praticamente presa a ele, e em tão pouco tempo o sujeito me deixou envergonhada, constrangida, intrigada, e apaixonada.
Esse destino viu...
Eu poderia ficar presa em um elevador com qualquer pessoa, mas não.
Tinha que ser o vizinho número 777.

-Pronto. -ele chega com um cobertor é um travesseiro.

Não digo nada, continuo olhando para frente.

-Que foi? -ele pergunta.

-Não é nada. -digo séria.

Ele se senta do meu lado, apaga a lanterna e se faz um grande silêncio.

-Eu ainda faço questão que você fique no meu quarto, é mais confortável. -ele quebra o silêncio que havia tomado conta do lugar.

-Eu também faço questão de uma coisa. -digo finalmente me virando pra ele.

-De que? -ele pergunta.

-Eu faço questão de saber por que você me beijou no elevador. -digo firme.

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