(1) Foi tudo na biblioteca

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Tudo sobrava pra mim, não tinha lógica uma coisa dessas. E quando eu digo tudo, é tudo mesmo.
Mas também, quando se é uma garota inteligente acontece isso.

-Já vou mãe. -digo saindo de casa.

-Leva um guarda chuva, parece que vai chover. -ela aconselha.

-Falou a meteorológica. -digo saindo de casa sem dar a mínima.

Eu estava muito estressada para ouvir aquele papinho de mãe.

-Maria João! -ela grita.

Agora tenho mais um motivo para não voltar atrás, eu odiava quando ela me chamava pelo nome todo.

O fato de eu estar saindo aquela hora de casa era apenas um, e eu odiava:

Ajudar aluno burro de recuperação que está prestes a tomar bomba do segundo para o terceiro ano do ensino médio.
Como a vida é injusta com "alguns" seres humanos, tipo eu.
Praticamente no terceiro bimestre eu já havia passado em tudo, mas tinha que voltar ao colégio nas férias para ajudar o cretino metido a besta que brincou durante o ano inteiro.
Isso era de mais pra mim, ainda mais quando se tratava dele Alisson Braga, o idiota era um idiota.

Bem, eu não estava aqui, cheguei tem apenas um ano. E eu já vi o quanto ele era imbecil.
O garoto ficava bem la no fundo acompanhado de um loiro que se chamava Jean, mas o fato é que o tal de Jean passou, e o tonto ficou de recuperação em história e matemática, agora eu quem poderia estar aproveitando minhas férias tenho que ir no colégio ajudar o imbecil.

Eu tinha muita coisa para fazer de manhã, então a opção era de ir a noite. E eu odiava escola com força apesar de me da bem em todas as matérias.
Bem, eu não era a típica nerd, eu era mais aquelas garotas P da vida.
Mas era inteligente, e era a única coisa boa em mim.
Aliás o resto era resto, só de ouvir meu nome as pessoas já ficam com pena: Maria João Vieira.

Eu sei que é meio masculino e constrangedor, mas eu até já me acostumei com a idéia. Por isso quando eu tiver meus filhos (se eu tiver) vou colocar os nomes deles bem caprichados.
Se for menina, vai ser a Jubileusa.
Se for menino vai ser José Taioba.

Seria um privilégio a eles ter um nome mais feio que o da mãe.
Se bem que eu não posso reclamar, Maria era do nome da minha avó, e João do meu avô, ambos falecidos.
E quem achar meu nome feio pra mim tanto faz, é um honra ter o nome dos meus avós queridos...
Ou será que eram os bisavós?
Ou os tataravós?
Não lembro.

Mas enfim, o grande fato do meu dia não é meu nome, isso vem desde o dia em que nasci.
O fato é ter que dar aula a um idiota em plena segunda feira de férias.

Quando cheguei ao colégio ele estava de portas abertas, não porque tinha aula, mas sim pelo fato de que provavelmente as pessoas que estavam de recuperação ainda estavam se debatendo por la.

-Bom dia. -digo na porta da secretaria.

-Bom dia. -a moça me responde.

-A biblioteca esta aberta? -pergunto.

-Está sim. O que te trás aqui Maria? -ela pergunta.

-Vim ajudar um colega. -digo.

-Ah sim, pode ir para a biblioteca. -ela diz.

E é isso que eu faço. Vamos dizer que a biblioteca da escola fez parte da minha vida só nos primeiros anos aqui no colégio.
Depois eu não pegava mais livros por aqui, mas o cheiro da biblioteca era inesquecível.
Sabe aquele cheirinho de livros?
Onde as prateleiras ficavam cheias. Se bem que no fim do ano já era para estar acabando, e ficava o cheiro de livros velhos.
No começo de cada ano, era um cheiro diferente, aqueles que se referiam aqueles livros mais novos.

Mas enfim, quando cheguei a biblioteca não havia ninguém por lá.
E quando eu digo ninguém era ninguém mesmo, aquilo me fez ficar com raiva.
Quem precisava da minha ajuda era o Alisson, e ele não estava ali.
Sentei em uma cadeira que estava com mais algumas cadeiras em volta, joguei a minha mochila com os livros em cima da mesa.
Primeiramente eu fiquei ali por um tempo, em seguida fui até as grandes prateleiras de livros e nada do garoto chegar.

Quer saber, se ele quem pode tomar bomba não esta interessado, eu é que não vou me importar.

Pego minha mochila e vou até a porta, mas dou de cara com ele.

-Onde você pensa que vai? -ele pergunta.

-Garoto, você tem idéia do tempo que eu fiquei te esperando? -pergunto.

-Desculpa, a chuva me pegou no caminho. -ele explica.

Assim olho pela janela da biblioteca e percebo que estava chovendo, caramba eu nem percebi que estava chovendo.

-Isso não importa, quem quer passar de ano é você. -digo sem dar a mínima para a desculpa dele.

-Ei, você esta aqui para me ajudar. -ele diz.

-E você deveria chegar aqui no horário certo da aula. -digo sem um pingo de educação.

Era muita coisa pra mim, eu estava cansada, de tpm e ainda tinha que vir ao colégio no horário da noite ajudar esse palhaço.

-Chega, vamos logo estudar pois pelo visto a noite vai ser longa. Ainda mais com uma estressadinha como você. -ele diz passando por mim.

-Do que você me chamou? -pergunto brava.

-Nada, não te chamei de nada. -ele levanta as mãos em sinal de rendimento.

-Ainda bem. -digo me sentando com ele na mesa.

-Como é que você não conseguiu passar em história? Matemática eu até entendo, mas cara história estava muito mais fácil que física. -fico incrédula.

O garoto passou em quase tudo, as matérias mais fáceis, e agora está nessa de ficar nessas matérias.

-Primeiro, você é inteligente, e eu não.
Segundo, eu não gosto dos professores de matemática e história. -ele explica.

Santa paciência.

-Eu não gosto de nenhum professor, mesmo assim eu passei em todas as matérias. Isso não é desculpa. -digo.

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