(8) Me repara

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Sai correndo atrás da Rafaela, ela precisava me ouvir e acho que tudo que ela disse me deu coragem pra falar tudo o que eu sinto.
Saio correndo desesperadamente atrás dela que não parava de correr, ela só foi parar na porta da minha casa. Ela sabia que não ia ser bom se ela fosse pra casa dela a essa hora, ainda mais que ela estava atacada da vida.

-Rafaela. -digo.

Ela não se move, nem se quer olha pra mim, fica apenas ali parada com o cabelo espalhado no rosto.
Sei que não era momento para piadas, mas lembrei logo da Menina do poço.

-Ei, olha pra mim. -digo.

-Por que você não toma atitude? -ela pergunta de uma forma me fazendo entender tudo errado.

No impulso puxei ela pelo braço agarrando pela cintura.

-O que você está fazendo? -ela pergunta dessa vez mais baixo, estávamos muito próximos.

-Eu estou fazendo isso. -disse colocando a mão na sua nuca por baixo dos longos cabelos castanhos e depositando um beijo apaixonado nela.

Caramba, nem da para imaginar o tempo que eu fiquei esperando por isso. O tempo que fiquei esperando por esse beijo. E era bom, o melhor beijo da minha vida.
No começo ela correspondeu o beijo, deixando lugar para minha língua tomar conta, mas ela nem se quer encostou a mão em mim e com um chute nos países de baixo, nos separamos bruscamente.

-O que você pensa da vida idiota? Por que fez isso? -ela pergunta estressada.

-Você disse pra eu tomar atitude. -digo ainda abaixado pela dor que ainda sentia.

As meninas sempre usam essa tática porque não sabe a dor de um ser humano homem, ser chutado bem nas  preciosidades.
Só um aviso:
Dói pra caramba!

-Eu não estava falando dessa atitude. -ela diz.

Fala sério, quem entende essas garotas?
Ela diz que gosta de mim, e me manda tomar atitude. O que ela queria que eu fizesse?

-Queria o que então? -pergunto ainda recuperando a dor o ar que me faltava.

-Queria que você fosse homem o suficiente para dizer o que seria dessa amizade tosca, que pra mim não valeu de nada. -ela explica.

-Você disse que gostava de mim. -mudo de assunto.

-Isso não importa. Só precisava desabafar e já fiz isso. -ela faz questão de mostrar que é durona.
Mas eu sabia que não era.

-Se você gosta de mim, e não gosta da nossa amizade, nem de nada do que vivemos, o melhor é nos afastamos então. -digo sem pensar.

-Ótimo. -sua voz fica fina por um momento, e ela sai andando pela rua escura sem entrar para minha casa.

Corro até ela.

-Onde você vai? -pergunto.

-Não importa, não somos amigos e nem nada a mais que isso. -ela diz sem parar de andar.

-Mas estamos no meio de um apagão em toda a cidade, você não pode ir embora assim. -digo.

-Quem se importa? -ela pergunta sem parar de andar.

-Eu me importo! -exclamo puxando ela pelo braço.

-Para de mentir, você nunca se importou com o que eu fiz ou deixei de fazer. -ela puxa o braço da minha mão com raiva.

-Eu me importo sim, se não importasse não teria te buscado naquela festinha chata! -exclamo.

-Há.há. Você acha mesmo que eu vou acreditar nessa? -ela pergunta.

-É a verdade. -digo.

-Seu erro é achar que palavras vão concertar atitudes. -ela diz com desprezo.

-Faça o que achar melhor, contanto que não vá embora nesse escuro. Você sabe muito bem o que pode acontecer, e se você for é por que é uma dissimulada. -digo.

-Como se você se importasse com o que pode acontecer comigo sozinha na rua agora. -ela diz.

Na boa eu to cansado desse papo.

-Rafaela, você lembra quando eu disse que estava apaixonado por você? -pergunto.

-Não recordo mentiras. -ela se faz de difícil.

-Eu sei que você lembra, foi agora a pouco. -digo.

-Lá! lá! lá! lá! -ela canta fingindo não me ouvir.

-Como você quer que eu concerte se você não me escuta. -digo.

Eu sabia que aquilo era show, e que ela estava me ouvindo. Só queria fugir da verdade, e pelo que eu percebi era medo de levar um grande fora, mas na verdade eu é quem estava com medo de levar um fora.

-Você sabe por que eu te beijei? -pergunto.

Nesse momento ela para e me observa.

-Fácil, por pena. -ela indaga.

-Não foi por pena. -digo.

-Então foi porque você é um idiota. -ela diz.

-Assim não tem como conversar com você. -digo.

-Eu não pedi para você conversar comigo. -ela alega.

-Tudo bem, se não quer conversa comigo tudo bem, agora vamos pra dentro. Amanhã você faz o que te der na telha, mas não posso te deixar ir embora. -digo.

-Eu não quero entrar. -ela diz.

-Não importa, você vai entrar do mesmo jeito! -digo puxando ela pela calçada.

-Me solta seu nojento! -ela grita.

Nesses instante pego ela no colo, e em cima do ombro levo ela até o portão, fazia tanto tempo que não pegava ela no colo que nem imaginava o quando ela estava pesada.

-Me põe no chão! -ela grita insultando.

-Pronto! -digo colocando ela no chão e trancando o portão mais que depressa.

-Seu otário! -ela exclama e entra.

Fico algum tempo no portão olhando para a lua que estava clara e apesar de não ter luz na pequena cidade, a lia fazia uma parte essencial para a paisagem noturna.
Mas o que me deixava preocupado era o fato da briga.
Ela e aquele jeito de menina travessa, com um sorriso desenfreado...
Era impossível não sorrir com ela, era impossível não gostar dela.

A verdade é que eu sempre gostei muito dela, claro que antes dos 15 era a mais pura amizade, mas depois...
Depois eu enxerguei mais além, percebi que o que eu estava procurando eu achei nela.
Mas daí eu pensei que ela não quisesse mais do que amizade, e agora que ela revelou isso tudo as coisas mudam completamente.
Fora que eu não consigo acreditar no beijo que trocamos, apesar de que eu levei um chute nos documentos por isso.

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