Capítulo 19

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Meu coração acelerado quase parou quando senti a desesperança do metal na maçaneta daquela porta que me convidava a partir, e ao mesmo tempo, o calor de uma mão pesada no ombro que me impedia. Olhei para trás e encontrei seus olhos, dessa vez calorosos e cheio de amor. Suas mãos me envolveram pela cintura e seus lábios encontraram os meus em um beijo urgente e desesperado. "Nunca mais pense em me deixar" – ele sussurrou entre meus lábios – "Nunca mais".

Passamos aquela noite deitados no tapete da sala em frente a lareira, em silêncio, cada um preso em seus próprios pensamentos, até adormecemos. Não tínhamos nada para falar, tudo havia sido dito, nos amávamos, seria difícil ficar juntos, a vida não era fácil e nunca seria, mas estávamos ali, um para o outro, e sempre estaríamos. 

Acordei com a luz do sol invadindo o ambiente, Humberto já não estava ali e pelo cheiro de café, provavelmente estava na cozinha.

– Hum, cheiro de fome!

Ele riu.
– Nunca ouvi essa expressão, mas sente-se que vou te servir. – Obrigada.

– Respondendo a sua pergunta de ontem, eu quero essa vida tanto quanto você – ele disse beijando a ponta do meu nariz – Quero essa vida para nós três.

– Tem certeza? – perguntei enquanto o olhava nos olhos.
– Mais que tudo.
– Que bom, porque não seremos três, seremos quatro.
– Como quatro? – ele perguntou já sentando-se – Você esta grávida? Mas nós não chegamos a..., você saiu com aquele idiota do seu ex?

– Claro que não – respondi incrédula – Como pode pensar isso? Está louco?

– É que está tudo confuso Laura, eu agradeceria se você explicasse melhor essa parte.

– Quero um filho seu, quero já.

Ele passou as mãos no rosto parando-as no alto da cabeça, respirou fundo.

– Laura nem sempre o tratamento com células troncos é bem sucedido, ainda mais quando não estamos falando da mesma mãe.

– Não importa, uma chance é sempre uma chance.

– Eu agradeço, meu amor, mas é muito para você digerir de uma vez, vamos aguardar que tudo vai dar certo, você não vive dizendo que tenho de ter fé.

– Não me agradeça, não estou fazendo um favor, estou fazendo por amor, eu quero tentar, temos de ter fé e eu tenho, mas, porque não fazermos uma pequena parte se podemos?

– Eu não sei, não parece certo, preciso pensar mais.

A semente estava lançada agora eu só tinha de regar. Se nos amávamos o que tinha de errado em ter um bebê? Por que ele via complexidade em tudo?

Voltei ao trabalho no hospital e após o expediente, visitava o Otávio e juntos voltamos a ler Harry Potter, um capítulo por noite para não cansá-lo demais. Humberto procurava estar sempre presente na hora da leitura, no fundo, acho que ele curtia o bruxinho e só não tinha coragem de admitir. Vinte dias depois, Otávio estava em casa, recebeu alta com ressalvas e recomendações médicas, mas o importante é que estava em casa com o pai e com o Nick. Minha mãe o visita todos os dias, não conseguia ficar um dia longe dele, assim como eu, que terminava meu turno no hospital e seguia rumo à fazenda, só saia de lá quando o colocava para dormir, depois de ler no mínimo um capítulo inteiro do livro, claro. Ele estava cada dia melhor e mais forte, já começava a passear com o Nick no jardim.

Algo Grandioso (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora