Capítulo 18

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Passei correndo pela entrada dos funcionários, eu ainda não tinha assinado a rescisão, então, teoricamente eu ainda era uma funcionária, fui direto para sala da Valéria e fui logo dizendo:

– Quero meu emprego de volta e quero ver o Otávio agora, por favor.

Ela me olhou assustada e eu já esperava um sermão mas o que aconteceu foi exatamente o oposto, ela levantou correndo, me abraçou e disse:

– OK para as duas coisas, estou trabalhando dia e noite, eu seria louca se não te aceitasse de volta.

– Muito obrigada, obrigada mesmo, me desculpe ter sido irresponsável desse jeito, eu...eu estava perdida.

– Não se desculpe, eu te entendo. Agora vem comigo que tem alguém perguntando por você. – Ela disse com um olhar de esperança renovada.

– Ele acordou? Quando foi? Meu Deus, eu não estava aqui quando ele acordou – entrei em desespero e dessa vez eu pude compreender o que o Humberto sentiu naquela noite em que estávamos juntos e o Otávio precisou dele e ele não estava lá; pude entender a dor que sentiu e isso me fez esquecer toda a magoa que guardei.

– Calma Laura, ele acordou hoje, aconteceu quando a enfermeira da tarde foi medicá-lo às três horas.

Três horas foi quando meu avião pousou, exatamente a hora que tocou o chão e chequei meu relógio, era como se ele soubesse que eu estava voltando, voltando por ele. Meu pai sempre me dizia que havia mais mistérios entre o céu e a terra que a nossa capacidade de compreensão, e hoje eu tive a certeza de que ele estava certo. Deus permitiu que o Otávio acordasse somente quando eu estivesse preparada para voltar, assim talvez ele não se sentisse abandonado por mim. Ele era apenas uma criança, não entenderia meus motivos. Os adultos são tão imaturos em lidar com as complexidades da vida, que se fossemos mais como crianças, resolveríamos tudo sem drama e sofrimento, era assim que o Otávio lidava com sua condição, sem drama, vivendo cada dia como se fosse o único.

– Quero vê-lo – eu disse.
– Ok, mas o pai esta aí, está sempre por perto.
– Tudo bem – eu disse enxugando as lágrimas e tentando me recompor, não queria que o Otávio me visse fraca e nem preocupada, queria passar a sensação de que tudo estava bem.

Quando viramos o corredor pude ver minha mãe encostada ao batente da porta do quarto, imaginei que ela estaria ali, Otávio era parte da família. Ela não sabia que eu estava de volta e eu não tinha ideia de como reagiria quando me visse, mas com certeza, não imaginei que correria me encontrar com um abraço e lágrimas nos olhos e que diria baixinho ao meu ouvido que me amava e que sabia que eu voltaria porque meu pai nunca se enganava.

– Está tudo bem dona Estela – eu disse afagando seus cabelos – Tudo vai voltar a ser como antes, vai ficar tudo bem.

Ela simplesmente acenou com a cabeça me dando passagem para que eu fosse a encontro do Otávio. Parei alguns minutos na porta, respirei fundo e coloquei um sorriso grande nos lábios antes de passar pela porta.

– Ei, como está meu grande garoto?
– Laura! – ele sorriu.
– Quem mais seria? Saudades de mim? – disse me sentando ao lado da cama e beijando sua testa.

Algo Grandioso (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora