Capítulo 8

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Quando acordei, senti como se tivesse voltado no tempo, minha cabeça doida, havia um balde do meu lado, e eu estava em uma cama que não pude reconhecer, pelo menos eu ainda estava com minha roupa.

– Beto – chamei e esperei, nenhuma resposta.

Levantei devagar para evitar que minha cabeça saísse do lugar, a sensação que eu tinha é que pesava tanto que poderia cair do meu pescoço. Fui até a janela e ao avistar a praça do centro da cidade, percebi que eu estava no pequeno e único hotel do nosso "grande" município. Ótimo, agora a cidade inteira ia comentar que cheguei bêbada, vomitando e provavelmente trançando as pernas. Onde por Deus estaria o Beto? Liguei para recepção e fui informada que meu amigo me deixou aqui, pagou pelo quarto e se foi dez minutos depois. Ao menos pagou, pois se alguma coisa na minha vida ainda permanecia a mesma, esse era meu salário, e eu sempre estava dura, pra variar. Voltei a deitar-me, afinal, eu tinha até o meio dia para fazer o check out, segundo a recepcionista.

– Droga – resmunguei antes de pular da cama de novo, sai correndo sem nem mesmo jogar uma água no rosto. Lembrei- me do cachorrinho do Otávio, se ele não ganhasse um cachorrinho do Papai Noel, nunca mais acreditaria em nada, eu tinha de fazer alguma coisa a respeito, por mais que o pai dele me matasse depois.

Entrei no primeiro táxi que achei e fui direto para o sítio vizinho ao nosso. Canela, a cachorrinha do sítio, havia dado cria há um mês, os cachorrinhos eram lindos, cor caramelo, da raça Labrador, seria perfeito para o Otávio. Cheguei ao hospital e ele já estava acordado e havia tomado café, isso significava que estava super ansioso, pois, ainda eram oito da manhã. Segundo a enfermeira, ele estava emburrado porque procurou por todo o quarto um cachorro e não havia encontrado nada. Perguntou para todos os médicos e para o enfermeiro que foi vê-lo se alguém havia visto um cachorrinho perdido pelo hospital e ouvira um não de todos, estava decepcionado. Pedi autorização para entrar com o cachorro no hospital e não me deram, é claro, afinal, aquilo era um hospital de gente e não veterinário, me disse o segurança. Não tive outra alternativa a não ser chamar o Joel meu "duende querido" para ser meu cúmplice. Joel morava nas proximidades do hospital, chegou rápido e trouxe uma bolsa esportiva grande que ele usava para ir à academia. Acomodamos o pequeno cão- zinho dentro da bolsa, torcemos para ele não latir e o Joel fez o trabalho sujo, já que eu estava marcada pela segurança. Nos encontramos na sala do marketing onde o Joel ficava, eu não podia perder muito tempo, então, amarrei uma fita vermelha com um laço grande, no lugar da coleira gasta que o cãozinho usava e sem que ninguém no hospital percebesse, soltei o cãozinho dentro do quarto do Otávio. Assim que o cachorrinho entrou naquele quarto, foi como sentisse que seu futuro dono o esperava, pois começou a latir estridentemente como os filhotes faziam. Eu os observava de fora, tomando cuidado para não ser descoberta e acabar com a magia daquele momento. Otávio percebeu a presença do seu amiguinho, pulou da cama e pegou-o no colo, foi incrivelmente mágico ver como ele sorria e pulava de alegria. Foi mais emocionante ainda sentir o que senti, e por mais que o Sr. sem fé, esse era o apelido que dei pro Sr. Humberto, me proibisse de ver o seu filho, eu não iria me afastar, Otávio era uma criança linda, de um coração enorme que despertou em mim algo pelo que valesse a pena; eu nunca senti essa vontade imensa de fazer os outros felizes, de ser o motivo do sorriso de alguém; eu nunca havia me importado com alguém além de mim mesma e essa sensação era incrível.

Sai do hospital e fui pro sítio, agora eu precisava enfrentar a fúria da dona Estela, explicar pra ela que eu não pretendia deixa-la sozinha na véspera de natal pra sair com o Beto, nem ficar bêbada e muito menos dormir em um hotel. 

Algo Grandioso (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora