꧁ Prólogo ꧂

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— Alteza?

Escutei a voz doce de Jade, tomar meus ouvidos. Repousei minha escova, que a segundos atrás penteava meu cabelo, sobre minha penteadeira branca com tons dourados. Encarei minha dama de companhia pelo reflexo do espelho.

Ela era linda. Os traços do rosto eram delicados, o nariz arrebitado, os olhos arredondados, num tom castanho, por pouco esverdeado. Ela tinha um cabelo castanho, volumoso e ondulado. Era consideravelmente magra, ombros secos e pernas finas.

Jade deixou sua família, na esperança de ser minha dama de companhia e ter mais oportunidades de conhecer homens ricos, que possam melhorar sua vida e de seus irmãos mais novos. Ela é uma ótima amiga, meio sistemática as vezes, talvez desengonçada. Mas é uma das poucas pessoas que sei que posso confiar, além dela tenho Jessica e Leigh-Anne, que também são ótimas amigas para mim.

— Vossa mãe anseia por sua presença.

Acenei levemente com a cabeça, e com uma rápida e desengonçada reverência, a dama saiu as pressas de meu aposento.

Fiquei com os olhos fixados nos meus próprios olhos, refletidos no reflexo do espelho. Eu aparentava estar exausta. Estava apresentável formalmente, porém exausta. A cor azul do meu vestido contrastava com o pálido de minha pele, e o loiro de meu cabelo que caía um pouco abaixo de meus seios. Prendi o ar dos meus pulmões por poucos segundos, depois soltei com toda voracidade. Enfrentar minha mãe não seria fácil, eu estava consciente que tudo aquilo não era sua culpa, sabia que apesar da coroa de rainha, do trono de rainha, ela não comandava absolutamente nada. Apenas balança a cabeça afirmando e concordava com tudo que meu pai dissera.

Passei os dedos pelo meu cabelo, só para confirmar que estava apresentável. Suspirei profundo e forcei um sorriso enfrente ao espelho, testando se aquele sorriso seria o mais adequado. Levantei-me e passei a caminhar graciosamente pelos corredores, com as mãos entrelaçadas a minha frente, apoiadas em meu vestido. Avistei a sala de chá, onde minha mãe, a rainha, aguardava a minha chegada.

Minha mãe estava sentada em um sofá bege de veludo, com uma pequena xícara de chá em sua mão esquerda, e conversava educadamente com uma mulher ao seu lado, que parecia concordar com tudo que saía pelos lábios de minha mãe apenas para agradá-la.

— Querida! — ela sorriu abertamente ao notar minha presença, perto da porta. Dei pequenos passos em direção onde ela estava.

Eu abri um pequeno sorriso ao me aproximar de vez, e acenei graciosa - porém constrangida - para a estranha que me encarava.

— Olá, mamãe. — minha voz tinha saído como um choro, ou um resmungo.

— Seu noivo irá retornar a corte em breve, amor. — ela sorriu contente. Não pude deixar de sorrir, mas não pela notícia, por ela. — O navio do príncipe partirá da França hoje á noite.

A primeira vez de meu noivo na corte, a primeira vez que eu o vi, foi a dez anos atrás. Eu tinha sete anos e não tinha dois dentes da frente. Tenho algumas lembranças com sua pessoa, graciosas até, mas só de me lembrar que toda nossa inocência infantil seria transformada nessa sujeira de casar por obrigação, me causava náusea.

— Não se preocupe, chegou em meus ouvidos que ele é muito simpático, e muito bonito por sinal. — minha mãe disse com satisfação.

Eu assenti levemente sem dizer uma palavra. Eu estava noiva, isso era fato e não seria desfeito. Eu era obrigada a dividir meu trono de direito, o meu direito de primogênita, com um príncipe qualquer.

Cumprimentei as duas senhoras e me retirei do local. Voltei para os meus aposentos em pleno silêncio e desconforto.

Não teria como mudar o destino. Iria me casar com o charmoso francês, e nada eu poderia fazer.

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