꧁ 22 dias antes ꧂

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"Anima-te por teres de suportar as injustiças, a verdadeira desgraça consiste em cometê-las." - Pitágoras

— Senti falta de tua presença, loirinha. — disse Harry retirando seus braços que estavam envolta de meu corpo.

De alguma forma, era como se a presença de Harry não afetasse meu psicológico. Ele sempre fora meu porto seguro, a minha zona de paz e agora, ele é só meu irmão que tem sorte por não ter o peso da coroa em suas costas.

Ergui meus ombros e fitei os olhos de meu pai com toda firmeza que eu poderia arrumar dentro de mim. Sou ruída por dentro, mas por fora sou de ferro. Sei impor respeito, sei colocar medo, mesmo que a pessoa mais assustada seja eu. E era exatamente isso que eu necessitava fazer com meu pai, fazer ele me temer.

— Perrie, preciso que acompanhe sua mãe a uma das terras ao Leste. — sua voz atravessou meus ouvidos e senti um raio de raiva passar por todo meu corpo. Aquele era o pai que vendia sua própria filha como sementes, e ouvir sua voz me dava nojo. — A carruagem saí amanhã cedo, não admito atrasos.

— Eu planejava dar uma volta com minha irmã amanhã, pai. — Harry acariciou minhas costas carinhosamente. — É realmente necessária a presença dela?

— Se não fosse necessária, eu não a solicitaria. —palavras voaram como pedra de seus lábios. — E leve aquelas suas damas de companhia, ou criadas, seja lá o que aquelas duas são.

— O senhor deseja mais alguma coisa? — falei com a voz firme, mesmo com a vontade de chorar apertando minha garganta.

— Fale para elas colocarem uma vestimenta descente. Dispensada. — ele fez um sinal grosseiro para eu me retirar de seu escritório.

Me virei em direção a porta, lançando um sorriso forçado para meu irmão. Caminhei lentamente de volta aos meus aposentos.

Ao menos eu teria a oportunidade de respirar um ar puro. Um ar sem veneno das ordens que meu pai impõe nessa corte.

[...]

Meu corpo foi empurrado pela frente quando Jade puxou forte demais o laço de meu vestido. A encarei pelo reflexo no espelho, tentando fazer uma feição desconfortável, mas acabamos rindo e ela continuou a amarrar meu vestido com toda sua "delicadeza". Ele tinha em sua cor um preto seco e tinha mangas compridas para suportar o frio que fazia lá fora. Os detalhes prateados eram chamativos, mas não tanto, a ideia de chamar muita atenção não era de meu agrado. A parte de baixo do vestido não era armada, a viagem poderia ser longa e aquilo iria se tornar algo desconfortável. Jade passou a capa preta aveludada pelos meus ombros e amarrou próximo ao meu pescoço. Ela sorriu com satisfação e se retirou de minha frente para que eu confirmasse tudo pelo espelho.

— Alteza, a carruagem já está a vossa espera. — a voz de Leigh-Anne ocupou todo o lugar. Jade depositou a tiara no topo de minha cabeça e em pouco tempo nos retiramos de meus aposentos. As três estavam cientes das exigências de meu pai.

A propósito, Leigh-Anne estava linda. Ela usava um vestido vermelho vinho, quase do mesmo modelo que o meu, apenas sem os detalhes em prata. Seus cachos aparentavam estar maiores hoje, eles iam até um pouco abaixo de seus ombros. Era magnífico observar como ela balançava a cabeça para retirar os cachos rebeldes que entravam em sua linha de visão.

Atravessei os longos corredores, desci escadarias que pareciam infinitas, com as duas cada uma de um lado meu. Por incrível que pareça, era com elas ao meu lado que eu sentia um fio de segurança aparecendo na escuridão que está minha mente.

O brasão da corte inglesa foi avistado por meus olhos em duas carruagens. Minha mãe já estava entrando em uma quando nos aproximamos.

— A rainha solicita duas de suas damas para ela e a Duquesa. — um dos guardas falou após se reverenciar a mim.

Pus minha mão no ombro de Jade e Jesy, e as encarei de um modo interrogativo, poupando palavras. As mesmas concordaram rapidamente e aceitaram ajuda do condutor da carruagem que minha mãe estava com a Duquesa.

O outro condutor estendeu a mão para Leigh-Anne e a mesma aceitou a ajuda, levantando o vestido levemente ao subir os dois degraus. A mesma coisa foi feita comigo e eu acabei suspirando pesadamente ao sentir a tensão que seria viajar ao lado de Leigh-Anne.

Antes eu tivesse chamado Jade, que não pouparia sua saliva para trocar palavras comigo. Leigh-Anne estava quase se escondendo atrás das cortinas douradas para evitar trocar olhares comigo. Aquilo me irritava profundamente.

Senti a carruagem balançar e notei que já estávamos andando a um certo tempo. Encarei o ser humano ao meu lado, e ela estava praticamente colada na parede. Acabei soltando uma risada nasalada. Aquela situação era ridícula. Ela me evitava como se eu fosse um monstro.

— Entendo que minha companhia não seja de seu total agrado, mas também não precisa me olhar como se eu fosse uma fera. — falei com um riso escapando de meus lábios.

Seus olhos castanhos encararam os meus. Tão tristes, tão deslocados.

Eu queria poder encostar a sua cabeça em meu ombro e perguntar o que tem feito ela se afastar tão severamente de mim. Não me recordo de ter feito algo para afastar sua presença amigável, muito pelo contrário, sempre faço de tudo para a ter de volta.

— Jamais olharia para a senhora como uma fera, alteza. — ela disse com a cabeça baixa.

— Leigh-Anne, será que você é capaz de me tratar como uma pessoa normal? — eu bati minha mão no estofado com uma certa força.

— Impossível tratar uma princesa como uma pessoa normal. — Eu não sei se era só coisa de mente confusa ou realmente tinha um tom de ironia nas suas palavras.

— É isso aqui que me fez anormal? — retirei a tiara da minha cabeça com certa violência e coloquei de frente a seu rosto. Os brilhantes brilharam junto a luz fraca do Sol. — Porque se for isso, pronto, eu não uso essa coisa.

Depositei a tiara sob a bancada que estava a nossa frente. A encarei esperando alguma resposta e vi um pequeno sorriso surgir no canto de seus lábios.

— Se não quiser falar comigo agora, tudo bem. Estou morrendo de sono, de qualquer jeito. — falei bocejando enquanto me aproximava dela e apoiava a minha cabeça em seu ombro.

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