꧁ 19 dias antes ꧂

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Quando cheguei de volta ao Castelo naquela manhã, me agarrei com minha mãe e não queria a soltar por nenhum segundo se quer. Ela parecia do mesmo jeito, tão grata por me ter viva e salva ao seu lado, em seus braços.

Venho tentando me acalmar com a ideia de que existem centenas de pessoas por aí com o desejo de me ver morta. Era estranha e dolorosa a ideia de ser odiada pelo seu povo, mas eu deveria me acostumar e me acalmar. Harry me explicou melhor tudo que estava acontecendo, meu pai era o culpado pela catástrofe que estava se formando em nosso reino. Ele estava louco e parecia querer destruir tudo e todos.

Não tinha visto Leigh-Anne pelo resto dia, mas tinha chego em meus ouvidos que ela estava apenas descansando. Resolvi não a procurar, mas queimava minha garganta a vontade de lhe perguntar sobre o que estava sentindo, após o acontecido. Se estava sentindo, se lembrava daquilo tudo, se queria sentir outra vez.

Eu não estava mais bêbada.

Meu corpo aconchegado entre os cobertores em minha cama. Eu não sentia a mínima vontade de me levantar e esperava que isso demorasse tempo o bastante para que eu reorganizasse todos os meus pensamentos, por etapa, por consequência.

Eu não estava segura, tinha pessoas atrás de mim querendo a minha morte.

Eu iria me casar em alguns meses.

Eu tinha beijado a minha melhor amiga.

Eu ainda queria Leigh-Anne.

Dois toques leves na porta e rapidamente Jade adentrou o cômodo. O seu semblante que eu sempre vira animado pela manhã, nessa exata manhã parecia atordoado. A menina sorridente, nessa manhã, não sorria. Caminhou até a mim, meus olhos seguindo seus passos com atenção. Suas mãos entrelaçadas por de trás de seu corpo, eu poderia afirmar que ela as apertava, demonstrando nervosismo total. Respirou fundo ao parar na beirada da cama, puxou o ar como se estivesse sugando coragem. Ela estava estranha.

— Bom dia, Jade. — eu forcei o sorriso me sentando na cama. Seu rosto se direcionou ao chão, como se ela carregasse um peso em seus ombros.

— Bom dia, princesa. Eu ... — ela suspirou, tentando se acalmar. — Certo, eu preciso lhe dar um recado. Leigh-Anne não deseja mais ser uma de suas Damas de Companhia, ela abriu mão completamente.

Meus olhos imediatamente se arregalaram, eu parecia estar em estado de choque.

— Mas fique tranquila, está tudo sob meu controle. — ela tentou sorrir, querendo me demonstrar um pouco de conforto. — Já comuniquei a Rainha, ela concedeu-me a licença de arrumar uma nova Dama. Vou lhe apresentar uma e se a senhorita gostar, ela fica.

— Leigh-Anne não quer me ver mais? — eu perguntei em um fio de voz.

— Não. — respondeu receosa. — Eu não sei o que aconteceu, ela justificou mas acho que está mentindo. Lee está trabalhando na cozinha agora.

Meus olhos arderam, não fui capaz de controlar as lágrimas que insistiram em cair. Eu tinha perdido ela.

— Por favor não chore Princesa, vai ficar tudo bem, talvez ela só esteja tendo uma fase ruim. — ela me abraçou e acariciou meus cabelos.

Chorei por alguns minutos abraçada a Jade. O meu mundo estava desabando aos poucos. Eu tinha perdido a minha melhor amiga e não sabia lidar com isso. Mesmo a tendo distante de uns anos pra cá, eu a ainda tinha perto de mim, ela ainda me cuidava e aconselhava. Talvez eu tenha demorado muito para entender o quão perto eu necessitava a ter.

— Pode trazer a nova Dama, quero a conhecer. — forcei o sorriso mais uma vez, diante as lágrimas. — Eu prefiro me arrumar sozinha hoje.

Ela apenas afirmou com a cabeça e se reverenciou, em seguida saiu de meus aposentos.

Me sentia desolada, como se tivesse perdido uma das bases que me sustentavam. Eu tinha planejado como contaria as coisas que tinham acontecido para ela, mas não poderia o fazer, porque ela não queria me ver novamente.

Me arrastei para fazer todas as minhas necessidades, como se estivesse me preparando para morte. Para finalizar, parei enfrente a penteadeira, passando o pente pelos meus fios de cabelo loiros, tentando os organizar. Meu vestido era rosa claro com detalhes branco e alguns fiapos dourados na manga, que era comprido. O tempo estava fechado e triste, para combinar com os acontecimentos em minha vida.

— Alteza, esta é Madeleine, sua nova Dama de Companhia. — disse Jade ao entrar no quarto após minha permissão. Ao seu lado uma menina ruiva, que parecia um tanto envergonhada. Pude notar Jade lhe dar uma cotovelada e em seguida, a menina fez as devidas reverencias.

— Muito prazer Madeleine. — eu sorri tentando passar um pouco de segurança a menina. — Espero que tenhamos bons momentos, juntos a mim, Jade e Jessica. — e Leigh-Anne, eu quis completar, mas me contive.

— Eu desejo o mesmo, Alteza. — sua voz doce surgiu.

Tomei meu café da manhã sozinha em meu quarto, não conseguia ficar mais que dez minutos junto à alguém sem que me desmanchasse em lágrimas. Eu necessitava ficar sozinha.

Folheava o livro em meu colo, eu o lia, mas não absorvia palavra alguma em minha mente. Meus pensamentos não focavam em nada além de Leigh-Anne. Ela tinha me deixado.

Acompanhei com meus olhos as portas se abrindo, e estranhei que a pessoa não tivesse sido anunciada. Meu sorriso foi incontrolável quando vi o corpo esguio de meu irmão caminhar até mim.

— Olá irmãzinha. — ele depositou um beijo em minha testa e se sentou ao meu lado na cama. — Está abatida, o que há de errado? — perguntou preocupado. — Além de te quererem morta. — riu usando o melhor de seu sarcasmo.

— Ah, não é nada demais. — respirei fundo encostando minha cabeça em seu ombro.

— Diga para mim e eu farei de tudo para ver minha Princesa sorrir. — ele segurou meu rosto entre suas mãos.

— Uma de minhas Damas de Companhia recusaram o cargo, me sinto culpada de alguma forma. — e eu me sentia culpada de todas as formas. Por colado sua vida em risco, por ter causado todo esse distúrbio.

— Oh, eu a vi na cozinha. — ele disse com um sorriso estranho entre os lábios. Quis identificar o que aquilo significava, e só de imaginar, me doeu. — Creio que deva ser muita responsabilidade andar ao lado da futura Rainha.

— Eu não faço exigências.

— Mas todos a sua volta fazem, irmã. — ele disse acariciando minhas bochechas. — De repente, isto foi o melhor para ela, para ficar em paz. Tente em entender.

— Fomos criadas juntas Harry, e ela resolve largar tudo assim, sem ao menos me dar uma satisfação.

— Talvez não esteja sendo fácil para ela. — Harry falava e seus olhos brilhavam, aquilo me embrulhava o estômago.

— Para mim também não está sendo.

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