Eu diria que em poucas semanas a minha vida tinha se tornado um pesadelo. Um pesadelo que eu não conseguia acordar nunca. Aquele momento que eu estava vivendo, era como se não fosse eu ali. Como se eu fosse uma personagem. Eu apenas respirava.
O dia parecia estar de luto também pela morte do Rei, para combinar com as vestimentas pretas de todos que acompanhavam a cerimônia de enterro, o céu carregava nuvens cinzas e pesadas pelos ares.
— Deus dos espíritos e de toda carne,
Que pisoteou a morte,
Que reduziu o diabo ao nada e que deu tua vida ao mundo — as palavras do Padre entravam em meus ouvidos e me queimavam por dentro.Aquela era realmente a missa do velório de meu pai. O meu pai estava morto.
Eu aceitava, mas não compreendia. Era incapaz de entender como que um dia uma pessoa poderia estar bem, normal e no outro, ela estava deitada em um caixão. Sem cor, sem alma. Meu pai naquele momento era um pedaço de carne frio. Nunca mais seus olhos se abririam outra vez, nunca mais seus lábios se abririam para dizer uma palavra se quer e isso me quebrava por dentro. O meu pai estava morto. Mesmo que as palavras que saíssem de sua boca fosse para me ofender, eu queria ter o prazer de as ouvir mais uma vez. Tudo que passo hoje é por causa de suas atitudes imprudentes, não me esqueço de cada humilhação que passei, mas também não me esqueço de seus olhos parecidos com os meus, não me esqueço de seus abraços desengonçados, não esqueço de me chamar de sua princesinha quando eu era uma menina. O meu pai estava morto, e eu o queria comigo, com todos os seus defeitos.
— Oh ! Cristo nosso Deus, porque tu és a Ressureição,
A vida e o repouso de teu servidor Rei Charlie II. — os gritos de minha mãe me faziam arrepiar, a dor estampada em seus olhos e como tudo estava fora do controle dela. A Realeza e seus deveres, tudo tão podre, que tiveram coragem de nos pedir para nos manter aparentemente bem, sem escândalos. Poupar choros altos, desabafos, precisamos nos manter firmes e fortes para todos. Mas não, meu pai estava morto e minha mãe estava sentindo. Ela precisava gritar, espernear, surtar, fazer tudo o que ela sentia vontade. Não era justo a sufocarem com todos esses sentimentos. Minha mãe o amava cegamente, tanto que passava por todos os seus defeitos por conta de todo esse amor, e eu sei, que mesmo com toda sujeira que meu pai carregava, ele a amava de seu jeito.Minha pobre mãe chorava a morte do marido que esteve ao seu lado desde os 18 anos de idade, e hoje partira aos 46. Eles queriam que ela agisse naturalmente diante disso, como se nada demais tivesse acontecido. O meu pai não era nada demais.
Harry abraçado com ela, tentando lhe passar um pouco de conforto. Mas ver meu pai sem vida, não era uma coisa que fosse capaz de se esquecer facilmente.
Aquela cena eu levaria para o resto de minha infernal (dali por diante) vida.
(...)
Naquela tarde, todos estavam se reunindo no salão maior para discutir sobre o futuro de nosso reino. Era egoísta de minha parte, mas desta vez eu me recusara a ir. Eu não tinha capacidade para falar de negócios, eu estava devastada. Eu precisava sentir o luto de meu pai em paz.
Meus passos pelos corredores eram firmes e ligeiros, em direção ao único lugar que em poucos segundos eu conseguiria me achar, onde eu iria me acalmar. Os cômodos mais escuros, mais sombrios, era lá que ela escondia. A minha base.
Encarei a porta de madeira descascada a minha frente e acabei por soltar um suspiro cansado. Meus dedos se chocaram com o material áspero, em duas leves batidas. Pude sentir meu coração bater mais forte quando o som de seus passos foram captados pelos meus ouvidos.
— Leigh. — foi mais forte do que eu poderia imaginar, ao encontrar seu rosto angelical tão cheio de pena, eu me entreguei e desabei em seus braços. Como se fosse seu dever, imediatamente ela me agarrou, me abraçando com tanta força como se pudesse me proteger de toda maldade que me rodeava.
Senti meu corpo ser puxado para trás, mas ainda junto ao seu. Eu era incapaz de retirar meu rosto do vão seu pescoço, incapaz de desembolar meus fios de cabelos de sua trança lateral. Ouvi a porta atrás de mim bater com uma certa intensidade, e com isso relaxei mais ainda no prazer de seu toque, em seu caloroso abraço.
— Eu sinto muito tudo isso que tem acontecido a ti. — ela acariciou meus cabelos, sua voz abafada por seus lábios estarem colados em meu ombro coberto pelo meu tecido preto de luto.
— Eu só queria que tudo isso acabasse em paz, eu só queria minha vida de volta. — as lágrimas me sufocavam, impedindo que minha voz saísse com normalidade.
— Mas tudo irá de dar certo no final, irás ver.
— Quanto que falta para este final, Leigh-Anne? — soltei meu corpo de seu abraço, em poucos segundos já sentia falta do calor de seu corpo. — Eu juro a ti, estou em meu limite.
— Precisa ser forte pelo seu povo, todos dependem de você Princesa. — ela disse tentando me encorajar, mas não sei se teria da onde tirar coragem por essa altura. — Eu dependo de você mais que tudo, dependo de lhe ver bem.
— Eu não estou bem, Lee. — me agarrei a seu corpo outra vez, como se aquele corpo fosse minha fonte para despejar todas as minhas frustrações. — Estou no fundo de meu poço, e não tenho ideia de como voltar para a superfície.
— Estarei aqui sempre para lhe estender as mãos e lhe puxar de volta para cima, apenas confie em mim.
Leigh-Anne me guiou em direção a sua cama pequena e desconfortável, mas era aonde eu iria me acalmar por algumas horas. Me deitei e ela deitou-se atrás de mim, encaixando seu corpo ao meu. Sua respiração batendo em minha nuca me fazia arrepiar, seus dedos finos acariciando os fios de meu cabelo me faziam fechar os olhos e sentir com vontade cada segundo que ela demorava em seu toque sobre meu corpo.
— O que é? — perguntei ao sentir meus olhos tampados, em seguida ela pois a minha frente a boneca que costumávamos dividir, princesinha Charlotte. — Oh! — a tomei das mãos de Leigh-Anne e abracei a boneca, desejando ser aquela Perrie de dez anos atrás. A criança que tinha recomendações, mas não preocupações.
— Ela sempre será sua também, assim como eu. — ela sussurrou em meu ouvido.
Permaneci por mais tempo, não sei identificar quanto, apreciando seu carinho, até adormecer sendo abraçada por Leigh e abraçando Charlotte. Queria acordar e descobrir que aquilo tudo não passava de um pesadelo, que tudo permanecia incrivelmente bem.
![](https://img.wattpad.com/cover/61536615-288-k47567.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
AMEN
FanficPróxima na linhagem dos Edwards a assumir o trono da Inglaterra, Perrie sente o peso da coroa inglesa em sua cabeça, mesmo antes de tê-la. Prestes a se casar com o herdeiro do trono italiano para formar alianças, sem total confiança de quem são seus...