꧁ 31 dias antes ꧂

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"A minha consciência tem milhares de vozes
E cada voz traz-me milhares de histórias
E cada história sou o vilão condenado." - William Shakespeare

Quando seus dedos se entrelaçaram aos meus, e meu corpo foi puxado para junto a ele. Eu soube no mesmo instante que aquele era o lugar que eu queria ficar para sempre. que aquele era o lugar mais adequado. Sua mão se espalmou em minhas costas, a direita se entrelaçou a minha e ao mesmo tempo, acariciava-me lentamente. Seus olhos colados nos meus, azuis como um mar escuro, hipnotizantes. Um pequeno sorriso formado no canto de seus lábios que fazia minhas bochechas pegarem fogo.

Seus olhos me traziam tanta lembrança. Jamie ainda tinha o mesmo rosto travesso, que implicava comigo e me pregava peças. Ainda tinha o mesmo cabelo loiro ondulado caindo pelo rosto, o corpo magro e não muito alto. Os mesmos olhos azuis, incrivelmente hipnotizantes.

A música voltou a soar em meus ouvidos, porém eu não conseguia me concentrar em apreciá-la, apenas aqueles olhos me importavam. Ele deslizou pelo salão com meu corpo preso em seus braços. Me senti uma boneca sendo guiada e a única coisa que consegui fazer naquele momento foi fechar os olhos, apreciando seu toque firme em minha cintura.

Arrisquei olhar para papai e mamãe, e eles sorriam orgulhosos para nós dois. Eu estava fazendo todos ficarem satisfeitos e olhe bem, não estou precisando fazer nenhum esforço. Quando a valsa terminou, entrelacei meu braço no vão do seu e caminhamos lentamente pelo salão em direção onde os Reis nos esperavam com sorrisos incontroláveis estampados nos lábios. Todos os olhares focados em nós dois.

— Foi um prazer, minha princesa. — sua voz rouca sussurrou em meu ouvido. Oh, meu Deus!

— Arrisco em dizer o mesmo. — eu disse com um fio de voz. Sentia meu estômago dar voltas e voltas dentro de mim. Fitei seu rosto e notei ele abrir um sorriso maroto contido para mim, me entregando na mão de meu pai.

Aquilo realmente estava acontecendo.

*****

Quando adentrei meu aposento, parecia que eu estava sentada sobre uma nuvem de satisfação. Me sentia leve, e tinha a plena certeza que assim que tombasse minha cabeça em meu travesseiro, sonhos bons me dominariam. A noite tinha sido o contrário de tudo que eu esperava que ela fosse e isso era motivo o suficiente para o sorriso bobo não sair de meus lábios. Parecia que um peso enorme tinha sido retirado de minhas costas. Eu estava apreensiva por ter que casar com alguém que não me agradasse, mas ele sim me agradava, o meu futuro Rei era magnífico.

Aquela noite me rendeu ótimas conversas. Era um galanteador de fato, mas um homem sensível e prestativo, querendo a todos os segundos me fazer favores, a perguntar se estava me sentindo feliz e confortável.

Seria um bom começo. Não seria tão ruim.

Leigh-Anne e Jade estavam de costas para mim, enquanto arrumavam minha cama cantarolando. Jesy deveria ter se enfiado em algum buraco novamente. Minhas bochechas automaticamente coraram ao imaginar Jade me lotando de perguntas.

— Olá, meninas. — eu praticamente sussurrei sem querer fazer alarde.

—Ah, a senhorita voltou! — Jade bateu palminhas animadas. — Irá nos contar como foi o noivado? — assenti levemente me sentando em minha cadeira da penteadeira e ela sorriu animada.

Observei ela correr para buscar o suporte de minha tiara, enquanto Leigh-Anne ainda continuava mexendo em algo em minha cama distraidamente. Eu podia notar de longe suas mãos tremendo enquanto ela afofava meu travesseiro. Nunca entendi isso muito bem. Leigh-Anne fora criada comigo, desejei-a como minha dama de companhia porque não queria minha melhor amiga enfurnada dentro de uma cozinha. Queria ela perto de mim, o máximo que pudesse. Porém desde os quinze, quando começou a ser minha dama oficialmente, passou a me tratar como se eu fosse um alguém completamente desconhecido. Mesmo a desejando sempre com mais intimidade, querendo conversar e ser tratada como melhor amiga, assim como na nossa infância, mas desde então venho sendo tratada friamente. Me apeguei por Jade nos primeiros dias, ela e esse jeito falante de ser quebrou vários silêncios de Leigh-Anne comigo. Jessica era incrível, talvez um pouco desvairada como diria minha mãe, mas ela era incrível. Mamãe me dissera que as damas precisam ser bonitas e educadas, pois acompanham as princesas em todos os lugares possíveis, e em minha mente ninguém era mais perfeito que elas três para isso.

Jade voltou com a famosa almofadinha vermelha e eu depositei minha tiara sob ela. Colocando em cima da penteadeira. A menina se sentou no chão, próxima a minha cadeira e começou a desabotoar as minhas sandálias.

— Jade, ele é incrível. — ela me encarou e foi como se corações pulassem de seus olhos. Estava estampado em seus olhos que ela estava feliz por mim. — Quando o encarei foi como se tudo que vivemos juntos voltasse em meu pensamento. O meu primeiro e único amor, é tudo isso que eu espero.

— Eu disse! Eu disse! - ela levantou rapidamente e tampou a boca com as mãos em surpresa. — Satisfeita, Leigh-Anne? Eu te disse que eles iriam se apaixonar.

— Parabéns, alteza. — sua voz baixa respondeu sem alguma animação existente, bem ao contrário de minha outra amiga. Fria como o inverno doloroso inglês.

— Que vossos pais não me escutem, mas os melhores Governadores estão por vir. — deixei-me escapar uma gargalhada voltando a ficar em pé. Jade era fofa, mas não deixava de ser fútil por pensar por eu apenas ter apreciado o Príncipe, seríamos os melhores Reis. Não duvidava de nossas capacidades, da minha em si, mas nada era previsível. Apesar de ter conseguido me deixar derretida de amores, ele ainda sim poderia ser ao contrário do que eu estava vendo e esperava. Ele era apaixonante, mas ainda sim poderia ser um crápula.

Comecei a tirar todas as minhas joias com a ajuda de Jade, enquanto Leigh-Anne corria para o banheiro para preparar o meu banho. Quando a gargantilha foi enfim tirada, foi como tirar um peso enorme de meu corpo. Relaxei os ombros e suspirei pesadamente, sentindo o cansaço tomar conta de meu corpo. Ao meu lado, Jade não parecia muito diferente, tentava controlar o alto bocejo com as mãos várias vezes.

— O banho está pronto, alteza. — a voz de minha melhor amiga voltou a soar dentro de meu aposento.

— Agradecida. — sorri para ela e ela apenas abaixou a cabeça. Toquei os ombros tensos de minha outra criada e a despertei. — Pode ir dormir Jade, Leigh-Anne me ajudará com o banho.

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