"A ambição é o último recurso do fracassado." - Oscar Wilde
Uma forte pontada no final de minhas costas me fez despertar. Resmunguei baixinho e resolvi abrir os olhos, permitindo que os mesmos se chocassem com a luz forte da manhã.
Já era manhã.
Mesmo com a vista meio embaçada, tentei encaixar Leigh-Anne em meu campo de visão. A encontrei sentada com uma pequena distância de mim. Sua cabeça estava encostada na parede, inclinada para trás. Seus lábios entre abertos seguiam o ritmo que seu peito fazia, descendo e subindo por conta de sua respiração lenta.
Fiquei a observando por alguns segundos. Tentando imaginar se realmemte iríamos sair ilesas dessa situação aterrorizante. A algumas horas atrás, eu estava prestes a perder minha cabeça para protestantes. Eu pulei de uma cena para outra com uma frequência assustadora, e agora, tudo o que eu mais quero é retornar a Corte, onde eu sei que estou segura. Onde eu não sei se terei a coragem de sair outra vez.
Um barulho estranho ecoou pelo cômodo. Franzi o cenho e encarei minha barriga, de onde o som tinha sido gerado. Era incrível a capacidade que eu tinha de sentir fome, mesmo quando eu não tinha a certeza se iria sobreviver até o final do dia.
Voltei a encarar Leigh-Anne quando escutei uma risada baixa escapar.
Seu corpo balançava por conta do riso, seus lábios estavam abertos com um lindo sorriso, mas seus olhos continuavam fechados. Me arrastei no chão, para me sentar mais próximo a ela. Empurrei seu ombro de leve, na intenção de a fazer parar.
— Parece que alguém está com fome. — disse com a voz carregada de sono.
— Acho que meu estômago não está ciente que eu tenho coisas mais importantes para resolver. — eu acariciei minha barriga como se tivesse um bebê lá dentro.
— Mas comida é importante. — eu acompanhei o som gostoso de sua risada.
Ela espreguiçou, esticando seus braços para trás da cabeça e soltando um barulhinho fofo com a boca. Leigh-Anne ficou em pé e ofereceu as duas mãos para me levantar.
— Para onde iremos? — perguntei, aceitando sua ajuda.
— Primeiramente, procurar algum lugar para nos alimentarmos. — ela enrolou seus cachos de qualquer jeito no topo de sua cabeça.
— Foi você mesmo que disse antes, para não irmos muito longe. — eu comentei.
— Voltaremos logo, Perrie. — eu sorri abertamente ao ouvir meu nome escapar com suavidade de seus lábios. E por incrível que pareça, ela retribuiu.
Eu não sabia quanto tempo iria demorar para eu me acostumar com a ideia de Leigh-Anne me chamando pelo nome, me tratando como uma pessoal normal e sorrindo espontaneamente para mim.
Enquanto caminhávamos por uma trilha a procura de um vilarejo qualquer, ríamos e conversávamos animadamente. Isso era o que eu sempre quis para nós duas. É um pouco estranho saber que é preciso eu correr algum tipo de perigo para ela perceber que eu sou muito mais que uma Princesa para ela, mas eu aceito o necessário.
O caminho inteiro que fomos conversando, evitei pensar como minha mãe estava e me concentrei apenas em sobreviver. Era difícil não pensar, mas não era impossível fingir que não se lembrava. Rainhas sabem atuar. Foi umas das primeiras lições que minha mãe me ensinou.
— Bagunce seu cabelo, vai a fazer parecer mais suja. — disse Leigh-Anne, enquanto soltava alguns fios de seu coque.
Agitei minhas mãos pelos meus fios loiros, espalhando-os para todos os lados de meu rosto.
— Assim? — perguntei meio receosa. Algumas mechas loiras tampavam meu campo de visão, porém resolvi ignorar.
— Eu disse parecer mais suja, não como se nunca tivesse visto uma escova na vida. — ela riu colocando alguns fios por trás de minha orelha. Revirei os olhos e a empurrei pelos ombros, a fazendo balancear para a esquerda. — Pare com isso, precisamos fazer cara de quem está sofrendo.
— Vai ser natural para mim. — a imagem de minha mãe rodou em meu pensamento.
— Ótimo. — ela entrelaçou seu braço no meu, enquanto íamos em direção ao nosso objetivo.
Quando chegamos na entrada da taverna, o cheiro de cerveja e a gritaria dos homens, me deixaram zona. Leigh-Anne deu mais um passo a frente me encorajando a continuar, mesmo que meu cérebro implicasse para eu não dar mais um passo a frente.
O local estava lotado de homens acabados e prostitutas se oferecendo por uma quantia estúpida de moedas. Leigh encarava o lugar com atenção, e eu apenas a encarava esperando o próximo movimento. Olhares nojentos de alguns homens pousaram sob nós, o que fez eu me encolher dentro do meu manto. Se eu pudesse deixaria apenas os meus olhos de fora.
— O Senhor, é o dono desse estabelecimento? — ela perguntou a um gordinho de meia altura. Ele a encarou de cima a baixo antes de responder.
— Sim. — disse Grosso enquanto saía andando para servir algumas mesas.
Acompanhamos seus passos com facilidade, já que suas pernas eram mais curtas do que as nossas.
— Será que o senhor...
— Sem moeda, sem frango! — ele respondeu grosso a interrompendo. Passou por nós esbarrando em nossos ombros propositalmente.
— Por favor, estamos com muita fome. — ela insistiu. Apoiou-se no balcão de forma que seus seios ficavam forçados e expostos. Arregalei os olhos quando percebi o que ela estava tentando fazer. Chutei sua canela sem força, na intenção de fazê-la parar com aquilo. Era ridículo.
Depois de encarar Leigh-Anne de cima a baixo, no mínimo, dez vezes. Ele abriu um sorriso expandindo seus lábios e mostrando seus dentes amarelos.
— A única coisa que eu posso oferecer a vocês é cerveja. — a sua voz saiu podre de maliciosa.
— Cerveja? — ela franziu o cenho, senti que ela estava prestes a negar sua oferta.
— Aceitamos! — eu me atrevi a responder e puxei Leigh-Anne para uma das mesas vazias.
Seus olhos fuzilavam todo o meu corpo. Sua feição mais preocupada do que nunca.
— Você só pode estar louca. — ela disse batendo a mão com força na mesa de pedra.
— É melhor ter cerveja na barriga, do que ter vento. — eu rebati rindo. Cruzei os braços na altura do meu peito e esperei ansiosamente pelo gordinho. Seria a primeira vez que eu tomaria cerveja na minha vida.
— Perrie, podemos ficar... — ela pareceu tomar fôlego — desorientadas.
— Pior do que está não fica. - eu ri encarando a bebida amarelada a minha frente. — Lee-Lee.
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AMEN
Fiksi PenggemarPróxima na linhagem dos Edwards a assumir o trono da Inglaterra, Perrie sente o peso da coroa inglesa em sua cabeça, mesmo antes de tê-la. Prestes a se casar com o herdeiro do trono italiano para formar alianças, sem total confiança de quem são seus...