Capítulo 2: Conflitos

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De novo, aqueles olhos verdes me fitavam com um misto de emoções delirantes...


Um mês havia se passado desde a última vez que eu a vira. Decidi esquecê-la e continuar minha vida, por mais que meu coração prometia um reencontro em breve a cada batida. Como podia uma garota que eu conheci desse jeito roubar meu coração e me fazer ansiar por ela em cada pensamento?

Decidi me distrair. Sair para uma noitada me pareceu uma boa ideia. Logo, disquei o número de Filipe — meu amigo de infância, que nunca se recusava a uma boa festa — para combinarmos os detalhes.

Às dez horas da noite, peguei as chaves e me avaliei mais uma vez no espelho, checando meu visual. Escolhi uma camiseta de mangas longas, preta e com gola em "V"; calças jeans rasgadas e um All Star preto. Penteei meus cabelos castanhos para traz e apliquei um pouco de gel. Passei meu perfume preferido e, satisfeito, sai. Tranquei o apartamento. Desci os degraus apressadamente até chegar à garagem. Liguei o carro e dirigi até a casa de Filipe.

Vinte minutos depois, parei no portão da casa dele e dei duas batidas leves na buzina, para avisar que eu havia chego. Filipe entrou no carro sorridente. Era um homem bonito de pele clara, olhos azuis e cabelos castanhos claro; fazia o tipo galante e conseguia qualquer mulher que ele quisesse. O tipo oposto de mim, eu diria.

— Dae, cara. — Filipe me cumprimentou.

— Dae! — Disse ligando o carro e acelerando.

— Espero ver muitas gatinhas hoje! Estou na seca há algumas horas... — Brincou Felipe.

— Cara, você sabe que lá sempre é cheio. — Passei a rezar mentalmente para que, realmente, tivesse muitas garotas lá ou Filipe me culparia por anos, por tê-lo feito "perder a noite".

Nós sempre íamos em uma balada chamada Lavenka, onde tocava um pouco de tudo, o que adorávamos por nosso estilo eclético. Estacionei a poucos metros da entrada, que já estava lotada, e fomos para a fila.

Filipe já começava a sua caçada enquanto eu só pensava em tomar umas boas doses de whisky e dançar um pouco, mas me divertia com as cantadas de meu amigo, para os mais diversos tipos de garota. Ainda na entrada ele ganhou um beijo de uma garota loira, de estatura média; não acreditei, pois Filipe tinha usado sua pior cantada com a garota e tinha dado certo.

Após entrarmos, me dirigi ao bar e Filipe a um grupo de garotas que ele jurava que o estavam encarando desde a fila. Pedi uma dose dupla de whisky e me sentei ali mesmo para observar a pista.

Corpos alucinados se mexiam ao som da batida e, antes que eu pudesse terminar meu primeiro copo, eu a vi: ela estava com um vestido tubinho vermelho, curto na metade das coxas, com um decote em v que salientava seus seios fartos. Dançava em frente a um cara alto e forte, que eu podia jurar que dava três de mim. O cara a encarava sem emoção, com os braços cruzados sobre o peito e sem se mexer, como se não houvesse música no recinto.

Ela parou de dançar quando me levantei, como se tivesse sentido a minha presença. Olhou em minha direção. Nossos olhos se encontraram e seu rosto se iluminou ao me ver. Thamy deu um passo em minha direção, mas o cara mal encarado a tomou pelos cotovelos, impedindo-a de continuar. Ela tentava se soltar, em vão, enquanto ele a arrastava para fora. Todos a sua volta continuavam dançando, como se nada estivesse acontecendo, ou ainda, como se não pudessem vê-los. Corri na mesma direção deles, que já haviam sumido pela porta principal, e os encontrei a alguns metros dali.

— Solte-a. — Gritei enchendo os pulmões de ar e o ser de coragem ao ver o desespero no rosto de Thamy.

— O que disse? — O cara parou de imediato, me encarou e soltou uma gargalhada.

— Eu... Eu disse para soltar a garota. — Disse me sentindo menos corajoso.

— Caio... Por favor... Você não sabe com o que está se metendo. — Ela disse com dificuldade e entendi que sua expressão de medo não era por ela, mas por mim.

O homem a lançou no chão com brutalidade, enquanto um carro parava ao lado de Thamy. Do carro desceu um homem alto, bonito; de cabelos negros como os dela; usando um terno que deixava à mostra seus músculos por baixo do tecido fino. Ele apanhou Thamy do chão e a fez entrar no carro. Ela olhou em minha direção antes do homem olhar para mim e fazer um sinal com a mão para o cara a minha frente. Depois, imergiu no carro, fechando a porta atrás de si.

O capanga disparou e eu ergui os pulsos sobre o rosto, numa atitude inútil de me defender. Senti os primeiros golpes, dois socos na boca, um na boca do estômago, uma rasteira e depois só a escuridão da minha inconsciência.

Acordei com Filipe me sacudindo e gritei de dor.

— Caio? Fale comigo! — Ele implorava com a voz cheia de preocupação. — Você está bem?

— E... Estou. — Consegui dizer com dificuldade.

Ele me pegou no colo com aparente dificuldade e eu voltei a escuridão. Lembrei do rosto de Thamy ao dançar alegremente, depois da expressão mudada para preocupação e desespero.

— Caio? Cara você tá bem?

Acordei com as imagens embaçadas a minha frente. Tentei respirar, mas fisgadas no peito me fizeram gemer. Filipe estava a minha frente esperando minha resposta.

— Oi... Estou legal, eu acho! — Tentei brincar, mas rir me causava dores tremendas. Resolvi que balançar a cabeça teria que bastar.

— Descanse, amigão. — Ouvi a voz de Filipe no fundo da minha mente.


Venha destruir minha vida, minha querida...

O importante é tê-la presente na minha vida, nos meus sonhos... Afinal, seus olhos, seu corpo, sua alma já habitavam em meus pensamentos!

O Sabor da PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora