Nosso pequeno milagre está aqui...
Ela se manteve em silêncio, fitou-me e, eu entendi que ela não poderia me fazer tal promessa. Ela enfiou a mão no bolso da calça e tirou algo brilhante.
— Acho que isso lhe pertence. — Ela estendeu a mão, que segurava um cordão de couro. A luz clara do sol, iluminou minha velha chave. Thamy sorriu com minha aparente felicidade de encontrar meu amuleto.
Coloquei-o novamente no pescoço e acariciei a chave, inerte nas minhas lembranças e no sentimento de conforto que ela me transmitia.
— O que é isso? — Ela tomou minhas mãos nas suas e avaliou os desenhos que Devdas acabara de fazer.
— Tatuagem de henna. — Passei as mãos no cabelo, claramente encabulado por não poder dar mais explicações a ela. — Ele as explicou, mas... não prestei muita atenção. — Assumi sentindo minhas bochechas corarem.
— Deveria prestar atenção no que Devdas lhe diz! -- Ela repreendeu-me, e bagunçou meu cabelo, dando um tom mais brincalhão a sua bronca.
Dias e semanas monótonas se passaram. Meus dias se resumiam em ajudar Devdas nos afazeres e caçadas. Enquanto observávamos nosso pequeno Mōkṣa crescer rapidamente. Ocupava meus finais de tarde, sentado na grama vendo o sol se por, às vezes, acompanhado de minha amada.
Em um desses finais de dia, eu me sentara a poucos metros de casa, e apreciava a paisagem. As nuvens começavam a assumir tons mais cinzas e o sol, desaparecia aos poucos. Uma brisa gélida começou a soprar, não estava frio, mas só anunciava que a noite chegara. Eu deitei-me então na grama, com as mãos entrelaçadas, atrás da cabeça; esperando as estrelas que logo surgiriam.
Fechei os olhos por um momento, e voltei a me perder em pensamentos. Os mesmos que insistiam em me atormentar desde que recobrei parte da memória. Estava quase certo que buscar o meu destino sozinho seria o melhor a fazer, não poderia colocar em risco os que amo, por um capricho meu, de descobrir o que se esconde em minha mente. Mas deixá-los, parecia igualmente terrível. Eu precisava de um caminho, talvez um ponto de partida, ou até mesmo que decidissem isso por mim. Inspirei fundo e abri os olhos, deparei-me com os olhos verde-esmeralda de Thamy mirados nos meus, a felicidade tomou seus olhos e lábios, e sorri com sua expressão.
— Pare de pensar tanto, vai acabar cheio de rugas. — Ela sussurrou de encontro ao meu rosto, apoiou o corpo sobre o antebraço que estava ao lado de minha cabeça, e colou sua testa na minha. — Vamos dar um jeito em tudo. — Seu tom de voz mudou, estava carregado de preocupações.
— Thamy... — Ela voltou a me olhar nos olhos, e nesse instante todos os meus medos desapareceram. — Eu te amo tanto.
Lágrimas brotaram de seus olhos, e ela sorriu enquanto sentava sobre os calcanhares e fitava o chão. Levantei-me e virei para ela.
— Meu anjo, o que houve? — Tomei suas mãos nas minhas e depositei pequenos beijos nelas.
— Deve ser a gravidez. — Ela riu sem jeito. — Estou muito emotiva.
Como que em resposta, Thamy se contraiu sobre a barriga e, conteve um grito, mordendo o lábio inferio, enquanto apertava com uma força absurda minhas mãos. A voz de Mōkṣa ecoou em meus ouvidos "é chegada a hora".
Levantei-me de imediato, tomei Thamy nos braços, enquanto ela continuava a se contorcer em intervalos cada vez menores, entrei na casa e a coloquei sobre minha cama; ajeitei os travesseiros sobre sua cabeça e beijei sua testa, que agora estava coberta de suor. Devdas se apressara, e andava pela casa a procura dos instrumentos necessários. Apanhou uma toalha grande, uma bacia que eu tomara de sua mão e encherá de aguá, depositei-a sobre o pé da cama ao lado de Devdas, que secava a fronte de Thamy e lhe sussurrava palavras em Hindí.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Sabor da Perdição
RomanceO primeiro encontro deles, não foi nada comum e previsível, assim como tudo o que ocorreu nos dias que se seguiram. Uma sucessão de acasos, poderíamos dizer, mas, será que seria esse o pensamento correto? Eu não os aconselharia a pensar assim. Seria...