Capítulo 7: Onde estava ela?

9 1 1
                                    

Na escuridão de minha mente, me veio a sua imagem...e eu só queria saber, onde você estava.

Senti que meu corpo se movimentava, mas não eram com minhas próprias pernas. Ao abrir os olhos, vi apenas escuridão, será que era assim quando se morre? Questionei-me. Mas logo meus olhos se adaptaram a escuridão, e eu vi que estava deitado. Fitava minhas pernas e uma imensidão de folhas, galhos e troncos; ainda estávamos na floresta. Minha barriga roncou, e eu percebi minha camiseta rasgada e ensanguentada, mas estava enfaixada e doía muito. Nós paramos, e botas negras se aproximaram de mim. Com grande esforço, subi os olhos e suspirei de alívio, era ela. Thamy havia voltado a ser a que eu conhecera. Linda e doce. Fiz menção de abrir os lábios e ela me interrompeu.

- Descanse que logo chegaremos. - Disse, dando-me as costas.

Continuamos a nos movimentar, eu queria perguntar para onde estávamos indo, mas não tive forças e voltei a dormir.

Aristeu, me ajude a leva-lo para dentro, e vamos dar um banho nele.

As vozes de Aristeu e Thamy surgiram em minha mente. Primeiro como um sonho e depois se intensificaram. Senti água escorrer sobre meu rosto. Abri os olhos que teimavam em se manter fechados. Vi Aristeu sustentando meu corpo com apenas um braço e, lavava meu rosto com o outro. Eu não era forte mas pesava em torno dos 70 quilos, mas ele não parecia ter dificuldade. Me recompondo um pouco e, tendo certeza que poderia ficar de pé, dispensei a ajuda de Aristeu.

- Tem certeza que consegue, sozinho? - Ele me questionou.

- Tenho sim, obrigado! - Direcionei a ele um sorriso agradecido.

Tirei o que havia restado da minha camisa, e a levei a boca. Desfiz o curativo de minhas costelas e, mordi o mais forte que pude; para não gritar e suportar a dor. O ferimento estava horrível. Lavei-o com cuidado, me certificando de que estava mesmo limpo, e para tentar conter o sangramento. Depois lavei todo o corpo, quando estava quase terminando, bateram na porta.

- Caio, vou deixar peças de roupa limpa pra você. Aqui na porta. - Thamy disse.

- Ok, obrigado.

Me sequei, peguei as roupas e voltei a fechar a porta. Vesti as calças jeans, sentei sobre a tampa do vaso e, coloquei a toalha de rosto sobre o ferimento, apertando-o com força.

- Posso entrar? - Thamy pediu.

- Claro, entre.

Ela trazia consigo um quite de primeiros socorros, tirou a toalha do ferimento e analisou, tanto minha expressão, quanto o próprio ferimento.

- Vai doer um pouco. - Ela disse ao desinfetar o local. Queimou como fogo, mas eu apenas agarrei com força as laterais do vaso e, não emiti som nenhum. Ela passou uma espécie de analgésico líquido no local, e esperou alguns minutos. Mantinha a cabeça baixa, fugindo de meu olhar.

- Como fez aquilo? - Questionei-a.

- Aquilo o que? - Ela fitou-me, e seus olhos transbordavam preocupação.

- Conseguir enfrentar aqueles três, sozinha? - A horas, estava querendo perguntar isso a ela.

- Ah, isso. - Ela deu de ombros. - Enquanto meu irmão, se concentrava em ser uma cópia de meu pai e, aprender tudo que podia com ele. Minha mãe e Aristeu me ensinaram a lutar e, a me defender sozinha, sem precisar de ninguém, e utilizando tudo que tenho a meu favor. - Passou mais um pouco de analgésico no local e prosseguiu. - Dominus e Demétrio mesmo sendo fortes, são lentos, e eu usei isso contra eles.

- Mas Aristeu? - Por mais que tentasse, não conseguia imaginar o velho Aristeu lutando.

- As aparências enganam, Caio, ele pode ser muito mais do que você pensa. - Ela sorriu. - Agora morda isso e, confie em mim. - Com os olhos, ela pediu desculpas.

Mordi a toalha, no momento em que ela passou uma linha grossa, em uma agulha de igual tamanho e, curvada. Fez movimentos rápidos com os dedos e, eu senti minha pele ser repuxada. Não fui capaz de olhar e, virei o rosto de lado. Senti náuseas e uma dor fora do comum, quando estava prestes a desmaiar, ela tocou de leve meu braço, só então eu percebi que estava de olhos fechados e, que ela já havia acabado.

- Obrigado. - Eu sorri, me sentindo fraco.

- Não tem o que agradecer. - Ela respondeu fria e, um pouco triste.

- Mas e Kael? - Perguntei, agarrando seu cotovelo antes que ela saísse pela porta.

- Consegui deixa-lo desacordado, e sabia que sozinho ele não iria nos perseguir. É covarde de mais para isso.

Vi suas mãos cheias de ferimentos e, imaginei que haviam sido por me carregar pelo longo trajeto.

- Me desculpe por isso. - Disse tomando suas mãos nas minhas.

- Não se preocupe. - Ela sorriu. - Eu curo rápido.

Mesmo sem ela querer, eu passei medicamentos e enfaixei suas mãos, depositei um beijo na palma de cada uma delas e, a lancei um olhar agradecido.

- Tive tanto medo de perder você. - Ela choramingou, ainda de pé a minha frente e, com o corpo em direção a porta.

Fiquei sem reação, alguém como Thamy não tinha medo. Ela sofreu tanto, que se anjos tivessem sentimentos, seu coração seria como uma pedra. Desprezada por todos e, perdendo a única que a amou; sua mãe. Aprendeu a viver sozinha, e agora tem medo de perder a mim; um simples mundano, como disse seu irmão. Eu senti compaixão e amor por ela, levantei e a tomei nos braços. Apertei seu corpo contra o meu, meus ferimentos doíam, mas eu tinha que demonstrar que ela era de igual importância para mim.

- Também senti isso... Sou tão inútil. - Disse escondendo meu rosto em seu pescoço.

- Não tinha o que você pudesse fazer, não se sinta assim. - Ela retribui meu abraço, um pouco forte demais. - E tenho que te pedir desculpas, não queria que tivesse me visto daquela, maneira. - Ela estava claramente envergonhada. - Mas quando vi meu irmão te machucando, eu enlouqueci.

- Tudo bem. - Menti. - Você me assustou, mas agora está tudo bem. - Acariciei suas costas macias, reprimindo o tremor que me causava, ao lembrar dela, com aquela aparência.

- Aquela é minha outra forma. Antes todas as vezes que minhas asas apareciam, eu me tornava má. Me sentia sedenta por sangue; por morte, mas com o tempo consegui controlar e, desde então não havia me tornado aquilo. - Thamy desabafou.

- Entendo. - Acariciei seu rosto. - Uma curiosidade: As asas de Kael são como as suas? - Estava realmente curioso para saber, pois não tinha visto ele as abrir.

- Não. - Ela se afastou de mim e, me ajudou a ir para o quarto. Deitou-me na cama e, se sentou no chão, ficando de frente para mim. - As asas dele são menores, foscas e menos envergadas que as minha. - Ela puxou o cabelo pra trás e fez um coque. - Por isso sua irá, ele herdou as asas de mamãe, que é de uma classe mais baixa que meu pai, e eu as dele.

- Agora faz sentido. - Disse, pensativo. - Suas asas são mesmo incríveis, de gerar inveja.

- Agora durma. - Ela depositou um beijo em meus lábios e, se foi.

Obediente eu me deixei levar pelo cansaço e, adormeci.

Acordei quando o sol se punha novamente e, desci as escadas a procura de Thamy, encontrei apenas Aristeu mexendo nas panelas.

- Boa noite Aristeu. - Disse ao sentar-me a mesa.

- Olá senhor Caio. - Disse ele, sem olhar para mim. - Logo o jantar estará servido.

- Que maravilha, estou mesmo faminto.

- Thamy me aconselhou a fazê-lo tomar esses remédios. - Ele se dirigiu até um armário no canto da cozinha, o abriu, tirou uma sacola e, a colocou diante mim.

- Obrigado. - Eram cinco caixas. Dois que eu conhecia para febre e outro contra infecção, e os outros três eu não fazia ideia.

- Aristeu. - Chamei-o. - Onde ela está?


Oh, por que você não fica comigo? Pois você é tudo o que eu preciso...

Mas eu acordei e, ela não estava lá!

O Sabor da PerdiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora