Por um momento pensei que era um sonho,
mas seus lábios se esticaram em um largo sorriso,
e eu soube que era real.
Ela se manteve em silêncio, parecia sem coragem. Não olhou pra mim e mexia nervosamente os dedos.
— Thamy! - apoiei seu queixo com o indicador e a obriguei olhar-me. - Está me deixando nervoso. - Disse tentando conter minhas emoções.
— Não sei por onde começar. - Ela voltou a desviar os olhos dos meus. - Muito menos qual vai ser sua reação.
— Tente pelo começo. - Tentei brincar, mas ela me olhou com olhar de reprovação. - Eu estarei aqui pro que precisar, e vou te ajudar em tudo... Porque, eu amo você. - Assim que essas palavras saíram da minha boca, me dei conta do que realmente significavam. Eu estaria com ela em todos os momentos, bons ou ruins, ela me querendo ou não por perto.
Ela lançou-me um olhar assustado, como se sentisse o peso daquelas três palavras, assim como eu. Levantou-se de súbito. Andou de um lado para o outro enquanto resmungava consigo mesma. Também me coloquei de pé e segurei seus ombros para lhe fazer parar. Aquilo já estava me deixando tonto.
— Thamy. O que esta acontecendo? - Seus olhos pareciam vidrados, como se ela visse além de mim.
— Isso é impossível, não poderia estar acontecendo. - Ela continuou falando, como se ignorasse minha presença. - Ele falou comigo, Caio... - Ela agora era uma mistura de emoções. Uma lágrima brilhante correu de seus olhos ao queixo e seus lábios sorriam.
— Quem falou com você? - Eu estava confuso, nunca havia visto ela daquele jeito.
— O bebê... Caio, o bebê falou comigo. - Mais lágrimas vieram e ela me abraçou.
Eu entendia o que ela queria dizer, mas como seria possível? Estava agora tão perplexo quanto ela. Afastei-a um pouco do meu corpo e me ajoelhei a sua frente. Ela abriu a fina blusa de lã, expondo uma pequena barriga pálida e arredondada. Como eu não tinha percebido isso antes? Meu coração se acelerou, sempre sonhei em ser pai, mas já havia desistido de acreditar que eu poderia realizar isso.
Coloquei ambas as mãos ao lado de sua barriga e fechei os olhos. Senti a criança se mexer, parecia pular de felicidade. Então senti sua mãozinha pressionar a minha e foi impossível controlar as lágrimas.
— Eu não sei como isso é possível Caio, mas estou grávida... De você.
Abracei-a pela cintura e chorei muito. Tudo tomava uma proporção a qual eu nunca sonhei que aconteceria. Thamy se ajoelhou a minha frente e secou minhas lágrimas, depositou beijos em meus lábios e sorriu. Ela estava feliz.
— Ele cresce rápido. - Disse enquanto acariciava sua barriga. - Pelos meus cálculos deveria estar de cinco meses, mas seu tamanho e inteligência supera as médias. Pelos conhecimentos de Devdas, falta apenas um mês para ele nascer. - Seu sorriso se desfez, e sua expressão se tornou triste. - Estou com medo. - Sentamos na grama e eu a envolvi em meus braços.
— Não fique, cuidaremos muito bem dele. - Tentei acalmá-la.
— Não é disso que tenho medo.
— Seu irmão não vai nos achar aqui. - Disse, chutando que esse seria seu maior medo.
— Não subestimaria a perspicácia de meu irmão. - Ela me olhou. - Tenho medo porque... Que criatura será essa criança?
Só então me pus a pensar a respeito.
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O Sabor da Perdição
RomansaO primeiro encontro deles, não foi nada comum e previsível, assim como tudo o que ocorreu nos dias que se seguiram. Uma sucessão de acasos, poderíamos dizer, mas, será que seria esse o pensamento correto? Eu não os aconselharia a pensar assim. Seria...