[Niall] Russian roulette

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-- Niall...

-- Você precisa entender! Eu não vou mais ser vaiado! -- ele falou irritado andando de um lado para o outro lado do escritório dele em passos largos.

-- É arriscado demais... -- eu comentei. -- Tenho certeza de que há outras maneiras de...

-- Addie! Não há outra maneira de conseguir respeito! Você sabe que isso só vai acontecer se eu superar Harry Houdini. Ele era o maior ilusionista de todos os tempos e não ousou executar esse número. Preciso superá-lo. -- ele insistiu com as sobrancelhas franzidas.

Eu desviei meu olhar do dele, engolindo em seco. Eu não podia acreditar que ele arriscaria a vida dele daquela maneira. Encarei o reflexo dele no espelho enquanto ele arrumava o colarinho da camisa com um olhar determinado. Sentia que ele era lentamente engolido pelos próprios truques, se arriscando cada vez mais em seus espetáculos.

Sentada em uma poltrona no canto do camarim reservado para o Niall naquela noite, um mau pressentimento invadia meu corpo. As luzes dos candelabros bem como do lustre pendurado no teto, criavam uma atmosfera sombria e o papel de parede vermelho do camarim não ajudava.

-- Niall, -- reconheci a voz do assistente dele do outro lado da pesada porta de madeira. -- temos dez minutos até o show começar.

-- Tudo bem, Harry. -- o Niall gritou para que fosse ouvido, dando os toques finais em seu terno e no cabelo.

O Harry era um amigo próximo do Niall. Os dois tinham se conhecido anos antes em um dos últimos espetáculos do ilusionista Houdini. Desde então, trabalhavam juntos nos próprios espetáculos ilusionistas tentando superar todo e qualquer ilusionista que já existiu. Eu sabia que o Niall poderia confiar ao Harry a própria vida e vice e versa, mas os dois haviam passado dos limites do racional ao concordarem em realizar o número de pegar a bala, que não passava de um doentio jogo de Roleta Russa ao vivo em que o Harry estaria com a arma e o Niall teria de pegar a bala antes de ser morto por ela caso fosse atirada.

-- Pelo menos revele seus truques para que eu saiba o que fazer se algo der errado. -- eu pedi aflita, a preocupação fazendo com que eu ficasse inquieta.

Ele se recusava a revelar qualquer truque que praticava para mim e eu aceitei até o momento em que tudo começou a ficar perigoso. Havia meses que eu insistia, desde que ele tinha começado a realizar truques com fogo e dentro de aquários fechados, enrolado em corrente e preso por algemas.

-- Um bom mágico nunca revela seus truques, você sabe disso. Além disso, nada dará errado. -- ele respondeu pelo reflexo do espelho. -- Te encontro aqui depois do espetáculo.

-- Niall, por favor...

Ele se virou para mim, com um pequeno sorriso no rosto andando na minha direção. Me levantei da poltrona em que estava sentada e ele me envolveu nos braços dele carinhosamente.

-- Eu te amo. -- sussurrei no ouvido dele.

-- Isso é suficiente para me manter vivo. -- ele murmurou antes de dar um beijo carinhoso na minha bochecha e se juntar ao Harry do lado de fora do camarim.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao vê-lo partir. A porta fechou-se silenciosamente atrás dele e eu desabei na poltrona. Tentava respirar fundo para me acalmar e não borrar a maquiagem, mas era impossível. Tinha a sensação de que já havia perdido meu marido e ele se recusava a ser salvo.

-- Sra. Horan, há um camarote reservado para você. -- um dos produtores do espetáculo falou do outro lado da porta, dando batidas leves nela.

Me levantei com classe, sequei as lágrimas e parei na frente do espelho para retocar meu batom vermelho e arrumar meu vestido. Segurando meu choro na garganta, abri a porta e deixei que o produtor me guiasse pelos altos e escuros corredores do teatro. Lá dentro era como um labirinto. Parando na frente de uma porta de madeira com números gravados, a porta foi aberta para que eu pudesse ocupar meu lugar no camarote.

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