Capítulo XI

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Marcos nunca acreditou que sonhos tivessem alguma relação com a realidade, para ele não tinha como um sonho ser um mau presságio. Mas aquele sonho realmente o perturbou, ele sabia que não poderia envolver ninguém nessa história, principalmente uma pessoa que ele gosta, como Karina. Além do sonho, outra coisa o estava deixando bastante incomodado, o paradeiro de Aline, isto fica repassando em sua mente várias vezes, apesar do que ela fez com ele, a garota era especial, e seu irmão arriscou tudo por ela. Ele não aguentava mas esse maus pensamentos, e decidiu descer a serra até Praia Grande, e procurar por ela, mas antes disso precisava de mais que o nome dela para lhe encontrar, afinal, Praia Grande não é nenhuma cidadezinha.
Só uma pessoa que Marcos conhecia sabia quem é Aline, e essa pessoa era o pastor Andre, mas ele não tinha certeza se o religioso colaboraria com ele, e também não sabia se o pastor era de confiança, a ideia de ele não saber que Márcio era do tráfico, mesmo ele indo quase todos os dias á igreja ainda não havia sido digerida. Se vendo nessa situação, o advogado decidiu que precisava achar alguém que pudesse dar alguma dica de onde estaria se escondendo Aline. A primeira e única pista que ele tinha era o apartamento dela, onde ele passou uma noite. Marcos foi direto para lá, e decidiu fazer algumas perguntas para o porteiro do prédio, que se apresentou como Nelson.
Depois de muita conversa o porteiro se lembrou de uma vez, em que os pais de Aline vieram visita-la, e comentaram que moravam no Canto do Forte e que insistiam muito para que a filha voltasse para casa. Marcos sabia que era pouco para começar a procurar, mas não enxergava outra maneira de isto ser feito, então sai dali, passou em casa, se trocou e partiu para o litoral.
Depois de uma hora e meia na estrada, ele chegou na Praia Grande, mas já eram onze horas da noite, muita tarde para começar a procurar alguém, então Marcos alugou um quarto em uma pensão. Logo que entrou no quarto, o advogado abriu a janela, acendeu um cigarro e ficou observando a cidade, tentando se preparar psicologicamente para a busca que começaria na próxima manhã.
No outro dia, tendo acordado muito cedo, Marcos saiu perguntando as pessoas por quem passava se conheciam Aline, mas era difícil que alguém reconhecesse ela só por sua descrição. Ele já estava quase desistindo, quando viu um senhor, que devia ter por volta de 70 anos, sentado em um banco em frente de uma casa enorme, ele está a parado ali, observando a rua, os carros que passavam. O advogado se aproximou e perguntou aquele senhor se conhecia Aline, o senhor abaixou os óculos, deu uma boa olhada nele e perguntou:
- Eu posso saber o que o rapaz quer com a minha filha? Não me leve a mal, vejo que é um homem de bem, mas hoje em dia não podemos confiar em ninguém - Marcos percebeu pelo tom de voz que aquele homem não era fácil de lidar, então deu uma resposta cautelosa.
- Sou um velho amigo, preciso conversar com sua filha.
O senhor arrumou os óculos, respirou fundo, e convidou Marcos para dentro de sua casa. A casa era luxuosa, um quintal enorme, com um uma piscina e uma churrasqueira do lado direito do terreno e a casa do lado esquerdo que, apesar de sua cor, uma amarelo vivo, era uma construção imponente. Ao adentrar á casa, a decoração se destacava, era um misto de decorações modernas e móveis rústicos.
Tudo que tinha naquela casa era impactante e fazia Marcos pensar como uma mulher que poderia usufruir de tudo aquilo se tornou namorada de um traficante, e pior, morar em uma kitnet em um prédio onde moram as piores pessoas possíveis. O senhor interrompeu os pensamentos de Marcos quando o convidou para se sentar no sofá com um semblante fechado, como se desconfiasse do advogado. Novamente ele baixou os óculos na altura do nariz e falou:
- Olha garoto, vou ser direto com você, minha filha já teve vários problemas na vida dela, e alguns desses problemas andam perseguindo a coitada, e eu tenho para mim, que você está conectado de alguma forma a esses problemas, então, ou você me conta toda a verdade, ou eu vou pedir para que a segurança lhe retire da minha casa - O senhor não baixou o olhar em nenhum momento, era um homem decidido, e não teria outra forma de saber sobre Aline senão falando a verdade
- Senhor, meu nome é Marcos Martins, há duas semanas eu encontrei meu irmão mais novo morto em seu apartamento, e logo depois disso, descobri que a sua filha tinha um caso com ele, e que ele morreu por causa disso. Eu quero me vingar dos assassinos de meu irmão, e preciso de tudo que sua filha sabe sobre essa gente, porque se eu não for atrás deles, eles virão atrás de mim, e dela.
O homem reagiu com uma normalidade surpreendente, como se já soubesse de tudo aquilo. Ele se levantou e disse que acreditava na história de Marcos, mas que não podia conta-lo nada sobre sua filha. Marcos tentou argumentar, mas o homem não hesitou e ele saiu da casa, totalmente decepcionado, tinha chegado tão perto, e agora não tinha nada. Mas ele não desistiria tão fácil, e decidiu fazer tocaia na esquina mais próxima da casa, ficaria ali até ver alguma pista de Aline.
No começo aquela ideia parecia boa, mas depois da segunda noite ele percebeu que não conseguiria nada ali, e decidiu ir embora, mas antes fumaria um cigarro. Quando ele acendeu um cigarro, uma pessoa de capuz saiu da casa e foi andando para a direção contrária do carro, rapidamente Marcos ligou o carro e saiu atrás da pessoa, mas com cautela, era madrugada, então todo carro na rua levantava suspeita.
A pessoa parou em um bar chamado Madruga's Bar e tirou o capuz, olhou para os lados, e depois pediu uma cerveja. Marcos desceu do carro e entrou no bar também, pela porta que estava fora da visão da pessoa. Foi até ela, tocou seu ombro e disse:
- Olá Aline, quanto tempo, não acha que temos que conversar? - aquilo assustou muito Aline, ela sabia que a conversa seria difícil.

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