Capítulo XV

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O cárcere começava a perturbar os sentidos de Marcos, havia dois dias que estava ali, pelo menos era o que ele calculava, mas não tinha como ter certeza, pois não sabia quanto tempo dormiu, e mesmo acordado, a noção de tempo fica bagunçada quando se está trancado em um quarto sem ver a luz do sol. Pelo menos ele estava bem de saúde e bem alimentado graças á prestativa mulher que cuidara dele até o momento, sempre com muita atenção, parecendo estar alheia á realidade. Ela parecia fingir que aquela situação era totalmente normal, talvez a ajudasse a lidar com o fato de ter que servir uma pessoa que foi sequestrada e está jogada em buraco qualquer.

Em uma das visitas da moça morena, Marcos decidiu confronta-la, talvez desse modo ele arrancasse alguma informação que o auxiliasse:

- Você pode me dizer porque eu estou aqui? Ou talvez porque ninguém além de você vem me visitar? Porque parece muito estranho para mim que me sequestrem e não peçam para eu ligar para alguém pedindo um resgate ou coisa parecida. - A mulher pareceu assustada com o tom de voz dele e ameaçou subir a escada, mas Marcos a impediu e continuou fazendo perguntas até que ela se rendeu.

- Eles não querem seu resgate, eles estão com raiva de você, não devia se meter com esse tipo de gente, eles são perigosos e não medem esforços para acabar com alguém que bate de frente com eles, ainda mais alguém que não tem ninguém para ajudar.

- Quem são eles? E se não querem meu resgate, o que farão comigo? - Marcos começava a ficar preocupado com o rumo daquela conversa.

- Desde que eu conheço essa gente, sequestro serve para duas coisas, lucrar com o dinheiro do resgate, ou para poder desovar um corpo sem deixar rastros, e como eu tenho certeza que não pediram o seu resgate, penso que você está marcado para morrer, sei que não é fácil ouvir uma coisa dessas, mas estou sendo honesta.

E realmente ela estava sendo honesta, mas o que ela disse abalou o psicológico do advogado, ele era um homem forte, mas qualquer pessoa que ouve que irá morrer em breve fica desnorteada. A situação emocional de Marcos acabou instaurando um silêncio naquele quarto, os pensamentos dele eram guiados pela chama da vela, que como um farol, o guiava para a lucidez. Nesse momento uma ideia surgiu, se a intenção daquele sequestro era a morte, porque estavam demorando tanto, não fazia sentido deixa-lo preso por quase três dias antes de mata-lo, algo ou alguém estava impedindo que isso acontecesse, e foi isso que ele decidiu perguntar á moça.

- Me diga o porquê de a minha execução demorar tanto, não é preciso demorar três dias para matar alguém, tem algo de errado acontecendo, não tem? - A pergunta deixou a moça com uma cara de quem não sabia o que dizer, ela hesitou, mas respondeu.

- Tem sim, um dos chefões não quer você morto, ele disse que vocês tem inimigos em comum, e isso sempre uma qualidade a ser notada, mas todos os outros o querem morto, a briga para decidir o que fazer contigo já dura dois dias.

Agora Marcos tinha entendido, aquilo não tinha nenhuma ligação com Rogerinho, as pessoas que o sequestraram, na realidade, eram inimigas do traficante e isso poderia ser usado poer ele para escapar daquela situação, mas mesmo assim seria muito complicado convencer alguém de que ele não mexeria mais com eles. Antes que ele completasse a sua linha de raciocínio, a jovem mulher o interrompeu.

- Desculpe te interromper, percebi que o senhor estava pensando, mas tenho que te alertar sobre algumas coisas. A primeira é que é muito difícil convencer uma daquelas pessoas, então mesmo com um dos grandes do seu lado, é muito improvável que sobreviva se continuar aqui. A segunda é que todo dia quando te trago o almoço, os homens que fazem a segurança do local trocam de turno, então fica fácil de alguém entrar ou sair daqui, e a terceira e última é que todos os carros ficam na garagem da casa já com a chave no contato para facilitar uma fuga se a polícia aparecer, mas pode te ajudar também. E para terminar, esta conversa nunca existiu. - A frase se completou com uma piscadela com o olho esquerdo.

Marcos estava confuso com aquilo, a moça sempre foi muito atenciosa com ele, mas ainda assim trabalhava para os sequestradores, não fazia sentido nenhum ela ajuda-lo a fugir. Mas ao mesmo tempo que pensava nisso, também pensava no que aconteceria se ele não tomasse algum tipo de atitude, e ele teria que fazer sozinho, já que ninguém o ajudaria. O medo, aos poucos, tomava conta do corpo e da mente do advogado, ele sabia que não tinha ninguém que procuraria por ele, o estilo de vida solitário que ele sempre adorou viver agora se mostrava um problema, só sobravam duas possíveis opções para Marcos, pelo menos ele só enxergava essas duas, era a fuga ou a morte.

Implacável VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora