Capítulo XXIV

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  Eram por volta das 9 da manhã, Marcos estava com o carro estacionado em frente a delegacia de polícia já fazia meia hora, depois de uma noite com emoções a flor da pele, e muita reflexão sobre o que o fazer no presente, e o que o futuro reserva para a sua vida, ele tinha a absoluta certeza do que tinha que dizer para Karina, o que era preciso para lhe mostrar que o que ele sentia era mais que algo passageiro. O advogado sempre foi ótimo em falar com mulheres, foi um galanteador nato por toda a vida, qualquer mulher era um alvo fácil para ele, mas aquela não era qualquer mulher, a delegada era comparável a um furacão, cada passo, olhar ou gesto pode causar uma catástrofe se for de seu interesse, e isto dava uma estranha sensação em Marcos, ele sabia que estava apaixonado, mas não tinha certeza se conseguiria dizer isso para Karina, a tensão tomava conta de seu corpo quando o seu devaneio foi interrompido por uma batida na janela do carro. Quem o despertara foi um policial, queria saber o porquê de ele estar com o carro estacionado em frente a delegacia á mais de 30 minutos, ele deu uma desculpa esfarrapada para o oficial e desceu do carro, essa era a hora, aquela interrupção serviu para lhe encorajar, só era preciso agora olhá-la nos olhos e dizer o que precisava ser dito.

  Marcos entrou na delegacia e perguntou se a delegada podia atendê-lo, já que ele tinha algo de extrema importância para lhe falar, e não sairia dali sem vê-la, sentou-se para aguardar e começou a observar a delegacia, observando todas as pessoas que ali estavam, a diferença entre cada uma, as diferentes alturas, alguns acima do peso, outros não, o advogado sempre gostou de observar o local onde estava, desde sua infância fora assim, ele adorava ser um mero espectador da vida mundana, vendo todas as ações sem precisar interagir com aquilo, a ironia com que as coisas aconteciam o encantavam, o jeito que uma pessoa olhava para outra, os gestos de cada um, até o jeito de franzir as sobrancelhas ou cerrar os olhos era interessante na perspectiva dele. Apesar de se divertir com a sua observação, ele sabia porque fazia isso, funcionava como uma espécie de proteção, um escudo contra os problemas de sua vida real, sempre que ele tinha algo a enfrentar, começava a observar o mundo ao seu redor, e esquecia de todo o resto, era como se ele vivesse uma epifania bem ali, sentado em um banco de uma delegacia, numa cidade enorme como São Paulo, mas certamente ele não podia esquecer o que tinha vindo enfrentar em tal lugar, ele precisava falar com Karina, e exatamente nesse momento ele foi chamado para a sala dela.

  Ao adentrar na sala, logo Marcos sentiu o doce perfume de rosas da delegada, que estava mais linda naquele dia, o cabelo ruivo solto pendia em seus ombros dando a ela um ar jovial, a roupa simples e discreta só servia pra acentuar ainda mais o que tinha de melhor, seu semblante sério era desafiador e amedrontador ao mesmo tempo, mas contrastavam com seus lábios que esboçavam um leve sorriso ao ver quem havia vindo vê-la, seu olhar direto e profundo completavam a beleza de uma mulher que para o advogado era perfeita, e isso era o que mais o assustava.

  - Olá Doutor - disse a delegada em alto e bom som - Presumo que veio pelo caso de seu irmão, preciso dizer que estamos avançando nas investigações. 

  - Por favor delegada, me chame de Marcos, fico feliz em saber disso - Era bom falar primeiro sobre o assassinato de Márcio, dava tempo para Marcos formular cada palavra do que diria, então ele continuou - Encontraram alguma pista? Peço que me conte o que souber, ajudaria a aliviar minha dor - Karina hesitou de inicio, as informações eram confidencias, mas algo dizia que ela precisava contar algo àquele homem.

  - Não posso dizer tudo sobre o caso, você sabe que as informações são confidencias, mas um vizinho afirma ter visto três homens saírem do prédio alguns minutos antes de você entrar, a testemunha descreveu os três suspeitos - Ela respirou fundo antes de continuar,ela tinha medo de cometer um terrível engano, mas como delegada sempre confiou em seus instintos, e não era agora que ela mudaria isso - Um dos homens era muito alto e forte, tendo sido descrito como um "armário",  de pele escura e vestia uma calça jeans e uma jaqueta do Corinthians, o segundo era mais baixo, magro, usava um bigode fino, mulato vestia uma calça de moletom preta e uma camisa azul e segundo a testemunha tinha cara de "marrento", e o terceiro devia ter 1.65, nordestino, um queixo acentuado, vestia camisa, calça e sapato sociais, e parecia estar muito assustado.

  Parecia que a sala da delegada girava a uma velocidade estupidamente grande, e a mente do advogado conseguia ser mais rápida ainda, o terceiro homem na cena só podia ser André, e tal informação era realmente muito difícil de processar, como o pastor poderia estar envolvido na morte de Márcio, e ao mesmo tempo ajudando a vingar tal morte, nada mais fazia sentido para Marcos, qual seria o real interesse de André em tudo isso, as dúvidas e incertezas tomavam conta de sua consciência e ele não podia disfarça-las, fazendo com que Karina lhe perguntasse o que havia com ele e se sabia de algo. Percebendo a própria exposição, logo se recompôs, e explicou que imaginou o sofrimento de seu irmão, já que foram três homens. Depois de se desviar das perguntas dela, ele sabia que era a hora de fazer o que ele queria, ele precisava dizer o que sentia, era sua única chance antes de continuar sua sina de vingança. Marcos respirou fundo, olhou dentro dos olhos de sua amada e disse:

  - Karina, apesar de estar aflito com a investigação, eu não vim aqui para lhe perguntar sobre ela, eu decidi vir falar com você porque tem algo que quero te dizer, algo que penso desde a primeira vez que eu te vi, e não posso esconder por mais nenhum segundo - Karina o fitava com dúvida, era agora ou nunca - Desde a primeira vez que nossos olhares se cruzaram, eu me apaixonei por você, e então, cada palavra que você diz, cada gesto seu só serve para aumentar esse meu desejo incessante de te acariciar, de te beijar, de toma-la para mim, sei que pelas circunstâncias em que estamos, é errado termos algo, mas eu não consigo mais me controlar, e realmente espero que isso seja recíproco.

  Um silêncio ensurdecedor se instaurou na sala, era quase possível ouvir os batimentos cardíacos de ambos, Marcos não tinha força nem coragem para dizer mais nenhuma palavra até que ouvisse uma resposta, já Karina buscava palavras para formular tal resposta, e após alguns segundos, que mais pareceram horas, ela falou:

  - Marcos, eu tenho pensado muito em você nas últimas semanas, você é o primeiro homem que mexe comigo em muito tempo, seu jeito, seu olhar, você me faz querer largar tudo que eu construí na minha vida, porque eu sei que a partir do momento em que eu me entregar a você, nada mais vai importar - Lágrimas corriam no doce rosto da delegada - Mas eu não posso fazer isso, você está envolvido em um caso que investigo, e mesmo que não estivesse, eu não sei se estou pronta para me doar de corpo e alma a alguém, apesar de querer muito, eu só... - O advogado a interrompeu, não aguentava mais ouvir aquilo. 

  - Eu não vim até aqui para ouvir desculpas, vim aqui para ter você para mim, e tudo que eu preciso é ouvir você dizer que sim.

  A delegada abriu um largo sorriso e antes que ela pudesse responder, Marcos a puxou pela cintura, dando um beijo digno de uma cena de cinema, uma das mãos puxava seus cabelos fortemente, enquanto a outra acompanhavam suas curvas de modo que deixavam a delegada sem defesa. Depois da boca, ele segue até o pescoço, beijando de um jeito que arranca arrepios de Karina, devagar ele a deita sobre a mesa e arranca sua blusa, acariciando seu corpo inteiro, de modo a arrancar suspiros de Karina, que aos poucos ia se entregando cada vez mais, até que fosse totalmente de Marcos. 

Implacável VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora