Capítulo XXI

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  Depois de toda a jornada em busca da vingança, Marcos estava ali, em frente ao seu inimigo, preparado para completar sua vingança, um tiro e aquela angústia estaria acabada, era insuportável a raiva o consumindo por dentro, deixando ele desesperado para acabar com aquele homem desprezível que estava em pé na sua frente, encarando-o com um semblante assustado, com a certeza de quem estava completamente vulnerável, a chance de sobrevivência do traficante era quase inexistente. A enorme tensão entre o advogado e Rogerinho pairava no ar, era como se todas as ações de ambos estivessem repassando na mente de cada um, tudo que aconteceu desde que Márcio e Aline se apaixonaram, aquilo refletiu fortemente nos acontecimentos que se sucederam. Os segundos em que os dois se encaravam pareciam se arrastar como se fossem horas, a intensa troca de olhares entre os dois estavam perto de sair faíscas. Marcos não lembrava de um momento em que tivesse suado tanto quanto aquele, suas mãos tremiam bastante, tornando cada vez mais difícil o ato de segurar a arma na posição correta, sua visão começava a ficar turva, sua respiração passava a ficar cada vez mais ofegante, ele precisava acabar com isso logo, um tiro e estaria acabado. 

  Mas o que parecia ser fácil, na hora se tornou muito difícil, seu dedo travou, e todo o corpo acompanhou, Marcos não conseguia ter nenhuma reação, suas mãos suavam frio enquanto ele via sua melhor chance de executar sua vingança escorrer por suas gélidas mãos, isso porque nesse exato momento, o traficante e Caveira aproveitaram para tentar fugir, e correram até o caminhão. Foi exatamente nessa hora que o advogado recobrou seus movimentos, mas já era tarde demais, os dois já estavam longe demais para qualquer disparo fatal, ele proferiu alguns tiros que ricochetearam na lataria do caminhão, mas não resultou em nada. O caminhão saiu desenfreado, deixando um incrédulo Marcos, paralisado pela incoerência de seus próprios atos, ele passara as últimas semanas totalmente obcecado para alcançar a sua meta, ficar cara a cara com o assassino de seu irmão e quando teve a chance ele fraquejou, e mesmo que tentasse, não conseguia encontrar um motivo para isto, como uma pessoa recusava algo que ela tanto queria, era como se uma criança recusasse um presente de natal, ou um viciado não quisesse usar sua droga preferida, ou seja, era quase impossível de acontecer, mas mesmo assim aconteceu.

  Apesar de estar acabado, o advogado precisava sair dali, os tiros com certeza chamaram a atenção, e ele era o único ali de pé, ou seja, se a polícia chegasse, ele seria culpado por tudo que acontecera naquele lugar, e de certa forma ele era, aquilo era um banho de sangue, e um banho de sangue que aconteceu em vão, já de que dentre todos os mortos e feridos, não estava o alvo principal, quem merecia estar no chão não estava, mas era hora de esquecer isso e focar no próximo passo, que era não ser pego, já que ele começava a escutar as primeiras sirenes se aproximando. Com cuidado ele pulou o muro dos fundos, caindo no quintal da casa vizinha, onde pegou uma camiseta e uma blusa do varal, rapidamente trocando de roupa, para assegurar que não fosse reconhecido por qualquer um que tivesse visto ele pelo bairro. Depois de se disfarçar ele saiu pelo portão da frente e foi andando devagar pela calçada, aproveitou para fumar um cigarro, tentando agir o mais normal possível, mas depois de alguns passos, uma viatura virou a esquina, passou por Marcos e parou alguns metros depois, os policiais desceram e mandaram o advogado parar. 

  Lentamente, ele levantou as mãos e se virou em direção aos policiais, com a cabeça baixa, ele sabia que não demoraria muito para descobrirem que foi ele, era o único na rua perto da cena do crime, e estava com sua pistola na cintura, não poderia correr o risco de um deles revista-lo, era hora de agir. Procurando opções, o advogado percebeu que havia uma viela a sua direita, e ela fazia uma curva acentuada para a esquerda, se ele corresse, passaria a curva antes que os dois chegassem a entrada da viela, ficando protegido de possíveis tiros, só que era preciso encontrar o momento certo para isso. Um dos policiais entrou na viatura, talvez para chamar reforços ou algo assim, enquanto o outro veio em direção a Marcos, para revista-lo. Essa era a hora exata, quando o guarda chegou perto o bastante, o advogado, ele deu um soco cruzado que acertou em cheio o face esquerda do policial, dando tempo suficiente para que ele descesse a viela correndo e sumisse depois da curva, quando os policias se recompuseram já era tarde demais.

  Marcos conseguiu escapar da ameaça real, mas havia uma ameaça pior, a ameaça psicológica que começava a surgir em sua mente, o porquê de ele não ter conseguido atirar em Rogerinho o assombraria por um tempo, e só aumentaria a raiva e angústia que ele sentia. Ele precisava de ajuda, e só tinha uma pessoa que sabia de toda a história, não que ele confiasse nele, mas era hora de falar com o pastor André.

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