Capítulo IX

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  A luz fraca que vinha de uma janela atingiu em cheio o olho de Marcos fazendo-o acordar de um sonho que durara quase três dias, ele demorou a identificar que se encontrava em um hospital, logo depois de constatar esse fato que ele percebeu a dor enorme que sentia em seu braço direito, parecia que alguém estava tentando arranca-lo. Ele não se lembrava direito o que aconteceu após tomar o tiro, só que Karina o salvou, e estava pensando nisso quando a enfermeira entrou no quarto:
  -Olha, o senhor acordou, foi uma longa cochilada, não é? - disse ela toda simpática.
  - Quanto tempo eu dormi? - respondeu um Marcos desnorteado.
  - Mais ou menos três dias, mas o senhor teve companhia de uma bela moça todos os dias,  aliás, ela esta aí fora querendo te ver! - disse a enfermeira e foi buscar a bela moça.
  Karina entrou no quarto com um semblante fechado e uma ar de quem estava ali a trabalho, o que frustou todas as expectativas do apaixonado advogado. A enfermeira fechou a porta do quarto e a delegada foi se aproximando do leito devagar, quase como se quisesse dramatizar a cena, e quando chegou bem perto de Marcos, o bastante para que ela pudesse ouvir seu coração que quase pulava do peito, ela disse que só estava ali para fazer algumas perguntas e que iria ser rápida.
  Marcos estava totalmente confuso, aquele andar lento e o seu olhar pareciam querer provoca-lo, mas a fala dela  contradizia isso. Ele decidiu que provavelmente estava sob efeito de remédios e que isso estava embaralhando suas idéias, e que tentaria manter o foco na conversa, e não em Karina.
   Karina começou perguntando o porquê de Marcos estar envolvido em um tiroteio com criminosos que trabalhavam para um dos maiores traficantes de droga da Capital. Ele poderia mentir sobre isso, e com certeza a teria convencido, já que os anos de experiência como advogado o ensinaram a fazer isso como ninguém, mas ele decidiu que o melhor a se fazer naquele momento era dizer toda verdade a ela, ele só não sabia se estava fazendo isso porque era o que ele realmente achava certo ou porque ele estava louco por ela.
  A delegada escutou atentamente toda a história de Marcos, desde antes da morte de seu irmão, as provas que ele ocultou da polícia e os motivos que o levaram a buscar a vingança ele mesmo. Eram muitas informações para digerir de uma só vez, por isso Karina se sentou em um canto do quarto, tentando entender tudo o que ouvira, enquanto Marcos a admirava inquieto. Depois de cerca de dez minutos, ele quebrou o silêncio perguntando o que aconteceria com ele e como a investigação procederia a a partir daquele momento, mas a resposta o desagradou profundamente. A delegada disse que não havia provas de que Rogerinho ou um de seus capangas estava envolvido e que ela precisaria de mais para prosseguir com uma investigação desse porte, mas que mandaria uma força tarefa procurar Aline em todo o litoral, já que seu depoimento alavancaria a investigação.
  Marcos entendia o funcionamento da polícia, e de toda a burocracia envolvida em uma investigação como essa, ele entendia também que se, por ventura, Aline não fosse encontrada, os responsáveis pela morte de seu irmão nunca pagariam por tal crime. Era uma das situações mais complicadas da vida dele, mas a decisão foi rápida, ele sabia que teria que colaborar com as investigações da polícia, mas conduziria sua própria investigação, já que tinha certeza de que Aline estava muito bem escondida. Ele se concentrava tanto em seus pensamentos que não percebeu que Karina ainda estava na sala, observando-o em silêncio. Ele questionou se ela precisava de mais alguma coisa dele, ela, mais uma vez parecendo que queria dramatizar a cena, o fitou por alguns minutos antes de responder que não, mas que se ele precisasse de algo, era só avisa-la.
  Ela se levantou e foi andando em direção a porta, mas antes de cruza-la, parou, como se esperasse que Marcos tomasse uma atitude, e foi o que ele fez. Muito tímido, ele fez á ela uma simples pergunta:
  - Karina, você gostaria de jantar comigo? - A pergunta saiu de uma vez, e ele ficou esperando por uma resposta.
  - Não posso me envolver com pessoas ligadas a caso que eu investigo! - Disse a delegada com um certo desânimo na voz.

  Tendo dito isso, ela saiu apressada do quarto, não deixando Marcos tentar argumentar algo para convence-la. Provavelmente ela sabia que ele faria isso, sua lábia era impressionante. Enquanto Karina fugia dela, o advogado sentia algo que ele nem lembrava que existia, mas que agora o tinha arrebatado por completo.  A rejeição o queimava por dentro, parecia que ele iria ter um infarto a qualquer momento, mas a entrada do médico no quarto o trouxe de volta ao normal.

  O médico explicou que ele perdeu muito sangue, e passou por uma pequena cirurgia para retirada da bala que havia ficado alojada em seu braço. Ele  recebeu alta, e pôde ir pra casa, mas devia tomar alguns cuidados com a região do ferimento, mas com os planos de Marcos, seria muito difícil tomar tais cuidados, tanto que assim que saiu do hospital, ele foi direto para a igreja do pastor André, queria saber se ele tinha alguma conexão com Rogerinho, por que cada vez mais essa história de seu irmão ser um religioso fervoroso não encaixava com o resto.

  

  

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