Capítulo XIX

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O suor escorria pelo corpo de Marcos, suas mãos estavam trêmulas, ele mal conseguia segurar sua arma, o medo era iminente, tudo o assustava, desde o bater de asas de um pássaro distante até uma folha que caía no terreno o faziam recuar. Seu coração parecia que ia explodir, batia rápido como nunca antes, ele sentia a veia de sua testa saltar e sua cabeça pulsar, sua visão estava turva, ele não enxergava nada a partir de um metro de distância. O nervosismo era claro, ele nunca havia feito nada parecido, sempre foi um homem pacífico, a primeira vez que ele realmente havia agredido alguém foi a alguns dias, enquanto escapava de um sequestro, e agora ele acabara de deixar um homem desacordado, invadido uma propriedade privada, e se preparava para lutar com mais, no mínimo, vinte homens armados. Agora ficava claro algo que tinha acontecido desde que ele encontrou seu irmão morto, estirado no chão do próprio apartamento, o advogado de sucesso e cidadão exemplar que ele era há muito tempo, não existia mais, e ele tinha que lidar com isso.

A escuridão do canto onde ele estava era um trunfo, ninguém o via, mas ele podia ver cada movimento que ocorria no terreno, escutava cada ordem que Caveira e Rogerinho davam aos capangas, ele estava no lugar certo por enquanto. Cerca de cinco minutos depois, dois homens entraram correndo para avisar que um de seus homens estava desacordado em frente ao portão da casa, e que o caminhão para o carregamento havia chegado. De onde Marcos estava, ele podia ver a fúria tomando conta do traficante, que começou a esbravejar, ofendendo seus capangas e o seu braço direito, mandou então, os dois homens procurarem por alguém nos arredores da casa, enquanto outros dois vasculhariam o terreno, o resto ficaria no objetivo principal que era o carregamento. O lugar certo de Marcos agora não era mais certo, aliás agora nenhum lugar era certo, e ele não poderia confrontar todos aqueles homens de uma vez, é necessário ser frio numa situação como essa, ele precisava de um plano para que ele pudesse deixá-los divididos. O terreno era amplo, não havia nenhum lugar em que ele pudesse pegar um por um, a não ser que ele conseguisse entrar na casa, e chamar atenção de um por vez sem alarde, mas para isso ele precisaria se arriscar, já que a única janela próxima a ele estava fechada, então ele teria que correr, abrir a janela e pular para dentro, qualquer erro seria fatal.

Apesar de tentar se concentrar, a mente de Marcos teimava em imaginar todas as formas daquilo dar errado, desde a janela estar trancada e ele não ter como voltar até um dos homens de Rogerinho ver sua movimentação, eram inúmeras as possibilidades de dar errado, e somente uma de dar certo, naquele momento o advogado sentia uma das mais horríveis sensações que ele já experimentara em toda sua vida, parecia que sua vida estava para acabar em questão de segundos, e de repente aquele clichê de cinema em que a pessoa que quase morre ou realmente morre vê uma espécie de trailer de sua vida, com os momentos mais marcantes, tanto para o bem quanto para o mal, e as emoções que ele tanto se esforçava para conter se afloraram em seu peito, a nostalgia pela infância, a felicidade pela formatura na faculdade, mas então tudo isso foi afogado pela mágoa, a tristeza pela morte de seus pais, o arrependimento de ter se afastado de seu irmão e a raiva que ele sentia pelo homem que matou seu irmão eram arrebatadoras, faziam com que todo o resto fosse distanciado dele, era como se a felicidade fosse um objeto que uma hora está em sua mão, e então vem um idiota chamado "vida" e o arranca de você. Os pensamentos haviam paralisado Marcos, a oportunidade da janela não ficaria ali para sempre, ele precisava agir, mas então sua mente trouxe exatamente o que ele precisava, uma lembrança boa, aliás a última que ele teve, parecia que ele estava novamente naquela maca, e uma obstinada delegada adentrava no quarto com aquele caminhar suave. 

Depois de toda essa confusão mental, Marcos estava pronto para o que estava por vir, e rapidamente se deslocou até a janela, abriu, mergulhou para dentro, e a fechou em seguida, se virou e se deparou com uma sala enorme e praticamente vazia, havia só um sofá, uma mesa com algumas cadeiras e uma televisão, não havia ninguém ali, e depois de uma rápida ronda pela casa, o advogado notou que a casa toda estava vazia, de objetos e pessoas, aquele lugar funcionava só para organizar essas operações, e mesmo que alguém a encontrasse, não havia nada que provasse que o local era usado para ações criminosas, era perfeito. Cruzando toda a casa, ele encontrou uma janela que dava para a parte de trás da casa, ali estavam os dois homens que foram ordenados a procurarem por ele, um perto da parede da casa e outro rente ao muro, a distância entre os dois era de aproximadamente 10 metros, o que possibilitaria enfrentar um de cada vez, mas teria que ser o mais sorrateiro possível, não seria legal um dos dois atirarem e atraírem todos os outros homens que estavam por perto.

Antes que ele pudesse pensar em um bom plano, um dos homens se aproximou da janela, perto o suficiente para que Marcos o puxasse para dentro, e batesse nele até desmaiar. O parceiro logo notou o sumiço e começou a procurar pelo terreno, mas foi andando para o lado oposto da janela, dando tempo para que o advogado pulasse para fora, mas quando foi tentar surpreender o capanga percebeu e tentou sacar a arma, mas foi bloqueado por um chute e logo revidou com um soco que desorientou Marcos por um breve momento. O capanga então sacou a arma, mas antes que pudesse erguer a mão para atirar, o advogado pulou para cima dele, derrubando o no chão e iniciando uma luta corporal violenta, até que Marcos conseguiu aplicar um mata-leão. Apesar da força do golpe, o homem não se rendia e começou a gritar para chamar os outros, assim o advogado foi obrigado a fazer algo que sempre foi contra seus princípios, quebrou o pescoço daquele homem e o deixou ali, sem vida. Ele sentia todo o peso de tirar uma vida de outro ser humano, e isso com certeza teria o assustado há um tempo atrás, mas agora ele só queria vingança, e se tivesse a oportunidade, faria o mesmo a Caveira e Rogerinho.




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