O Piloto - 24:05

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Paulo estava muito animado. Aquele era o seu grande dia, a primeira vez que ele realizaria a rota de Curitiba para São Paulo como piloto comercial.

Por anos ele havia feito a mesma rota em aviões menores, sempre buscando se aprimorar e assim passar nos testes para se tornar o piloto comercial de uma grande companhia.

As noites de estudo compensaram e hoje era o dia se sua estréia. A saída do voo estava prevista as 22h55min no aeroporto Internacional Afonso Pena chegando no Aeroporto de Guarulhos as 24h05min.

Pela primeira vez ele entraria em uma aeronave com tecnologia de ponta e teria de enfrentar todos os desafios que vinham com esse trabalho.

Paulo queria evitar atrasos e pra sua sorte, Curitiba estava com um proverbial céu de Brigadeiro. Ele não estava preocupado com a chegada em Guarulhos porque lá ele poderia realizar um pouso por instrumentos usando um sistema conhecido pelos profissionais do ramo como um ILS Categoria 2. Curitiba também tinha um, mas ele sempre entrava em manutenção nas épocas de nevoeiro.

Mesmo assim ele estava um pouco ansioso. Guarulhos sempre estava com o pátio lotado e se alguma coisa acontecesse ele teria de trocar de aeroporto então, constava no seu plano de voo que o aeroporto do Galeão seria uma outra alternativa.

Seus colegas que trabalhavam em companhias estrangeiras não entendiam porque ele queria tanto ser piloto no Brasil. Isso porque, aqui no Brasil existe a famosa regra de que "a menor distância entre dois pontos é uma curva".

Ou seja, toda vez que você sai do litoral brasileiro e vai pra São Paulo você voa em curva pois é necessário seguir a aerovia. Consumindo com isso, em cada rota, pelo menos 1000 litros a mais de combustível.

Seus colegas sempre o criticavam e falavam que o sistema do Brasil era arcaico e precário. Seria melhor ele investir o tempo e o dinheiro fora do Brasil do que arriscar sua vida e sua carreira.

Mas isso não importava mais pois, finalmente ele havia se tornado um piloto de linha aérea comercial!

Ele sabia que voar no Brasil hoje, é pilotar numa espécie de alerta amarelo em que o decolar poderia não significar a certeza de que ele pousaria no destino ou no aeroporto de alternativa. Mas ele havia conseguido o seu sonho e nada do que acontecesse impediria que ele fizesse bem o seu trabalho!

Mesmo assim ele não iria sair desprevenido, por causa disso quando o avião decolou de Curitiba ele tinha combustível suficiente para pousar em qualquer uma das grandes cidades em volta se necessário.

O voo prosseguiu muito bem até que as 23 horas Paulo recebeu um aviso do controlador que o clima de São Paulo havia piorado subitamente e que ele deveria subir um pouco mais o Boing 737.

O céu para ele estava limpo e os instrumentos mostravam que ele chegaria no horário. Sendo assim, o clima ruim só iria afetar um pouco o momento do pouso.

Quando passava pela região de Campinas os sistemas começaram a indicar a enorme tempestade que o controlador havia se referido. Os sinais de alerta se acenderam e os mostradores indicavam em detalhes o que estava acontecendo.

Paulo, no entanto, mantinha a calma. Tudo o que ele tinha de fazer era manter a calma e ser o mais profissional possível, pois não era sua intenção ter em sua ficha qualquer acidente ou incidente que fosse.

Em um momento ele estava se comunicando com a torre do aeroporto, discutindo as melhoras alternativas por causa da tempestade, para realizar a aproximação e o pouso e no instante seguinte a comunicação ficou muda e todos os sinais do aeroporto caíram.

Isso era muito estranho porque todos os processos da aviação funcionam por redundância, uma característica aprendida a custa de vários acidentes em todo o mundo que indica que todos os sistemas devem possuir várias alternativas.

É por isso que dizem que uma única falha, por si só, não derruba um avião.

Acreditando que seu sistema de comunicação estava apresentando falhas, ele fez um teste, e conseguiu se comunicar com o aeroporto de Campinas.

Enquanto o sistema de Campinas respondia normalmente, toda a região da cidade de São Paulo permanecia em silêncio sem nenhum contato com o rádio e sem nenhuma indicação de que havia acontecido algo.

A tempestade continuava muito forte e a turbulência já estava acima do que ele esperava.

Tentou a comunicação mais uma vez e preocupado, desviou o avião para um pouso de emergência no Aeroporto de Viracopos em Campinas.

No final do seu primeiro voo, Paulo conseguiu evitar um acidente aeronáutico no entanto, algo muito estranho aconteceu quando ele estava se aproximando de São Paulo, algo que não afetava somente o seus passageiros, mas toda a segurança de um país.

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