24. Lívia

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Gabriel deveria ter me avisado para não ir de chinelos, senti algo úmido e pegajoso entre os meus dedos, era difícil dizer sobre o que eu estava andando, com os olhos vendados.

_Eca, Gabriel! Se eu souber que essa gosma gelada que estou pisando é de alguma coisa viva você não tem ideia do que vai acontecer com você.

_Você disse que confiava em mim! _ notei pelo tom de sua voz que se divertia. Ele segurava em minhas mãos me guiando, mas eu desconfiava que ele estava me deixando pisar de propósito em coisas que poderiam ser evitadas, idiota!

_E você tem isso por escrito?_ meu pé afundou em algo cuja a única definição que me veio a cabeça era: "melequento"._ Ai, mas que merda Gabriel, falta muito ainda?

_Na verdade, já chegamos! Pronta?

Ouvi Gabriel suspirar e fiz que sim com a cabeça, assim que retirou o tecido dos meus olhos demorei alguns segundos para me acostumar com a claridade e então eu vi, e tive a mesma reação, um longo suspiro de admiração.

Duas quedas d'água, a primeira deveria ter uns quatro metros de altura enquanto a segunda não tinha mais do que dois metros, não era possível ver de onde a água vinha já que era rodeada de árvores floridas em tons de rosa e roxo e samambaias impressionantes cujas folhas tinham quase a mesma altura que a cachoeira e logo abaixo havia uma encantadora lagoa de águas cristalinas. Um detalhe chamou minha atenção e estreitei os olhos sorrindo em seguida quando constatei que a queda menor desaguava em uma enorme pedra esculpida pelo tempo em forma de um coração. Era perfeito.

Olhei para Gabriel e ele me encarava, os olhos cheios de orgulho e paixão.

_ Acho que essa é coisa mais linda que já vi na minha vida, Gabriel._ falei com sinceridade.

Ele apertou minha mão.

_Eu também pensava assim, até te conhecer.

_Você não cansa de me surpreender, Caipira.

Gabriel me abraçou forte em resposta e um arrepio subiu por minha espinha, algo me dizia que aquele gesto significava que minhas últimas palavras significavam muito mais do que parecia.

_Vem comigo!_ ele me puxou pela mão_ Você precisa mergulhar, essa água é mágica.

Não pensei duas vezes, tirei o vestido fino de algodão e o segui, pelo menos ele havia me avisado sobre o biquíni. Gabriel conhecia bem o local e rodeou a lagoa para mergulhar de uma parte mais alta, a visão daquele homem lindo se preparando para saltar me fez engolir em seco os músculos do braço se retraiam conforme ele tirava a camiseta, os cabelos da minha nuca se arrepiaram quando ele desabotoou a bermuda a jogando de lado e algo entre minhas pernas pareceram pegar fogo quando ele colocou os polegares sob o elástico da sunga ameaçando...

_Espera aí, vo... você vai ti... tirar tudo?_ gaguejei _ Quero dizer estamos ao ar livre e alguém pode nos ver.

Em resposta ele me lançou aquele sorriso torto que já havia se tornado sua marca e tirou a sunga juntando-a ao restante das roupas. Seu sorriso aumentou quando abri minha boca, mas não soltei nenhum som e como um atleta disputando as Olimpíadas ele mergulhou emergindo segundos depois no meio da lagoa.

_Pode ficar tranquila ninguém vai passar a menos de um quilometro daqui.

_Como você pode ter certeza?

_Porque avisei que estava vindo pra cá hoje e tenho meus meios de manter as pessoas longe.

O olhei desconfiada e ele sorriu:

_O que foi professora? A garota da cidade tem medo de molhar o cabelo?

Fechei a cara pra ele e cheguei mais perto da margem tocando meus dedos na água gelada.

A Segunda VezOnde histórias criam vida. Descubra agora