20. Gabriel

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Peguei uma xícara de café e sentei-me a mesa da cozinha, eu sabia que minha família estava passando por um momento difícil, mas eu não estava em condições de consolar ninguém, não enquanto não conseguisse colocar meus pensamentos em ordem e, com certeza não enquanto não fosse capaz de consolar meu próprio coração.

Apoiei os cotovelos na mesa segurando a cabeça baixa enquanto olhava sem realmente ver o líquido fumegante a minha frente. Se alguém me dissesse que estava obcecado por uma mulher que tinha visto há poucos meses chupando um pirulito eu daria uma porrada na cara do tarado e se me falasse que estava de quatro em apenas uma semana depois de falar com ela eu mandaria internar o maluco. Isso antes de eu ser o filho da puta tarado e maluco.

Passei as mãos pelos cabelos frustrado. Tudo bem, eu já havia admitido pra mim que estava apaixonado pela professora, mas e agora? Eu não poderia falar isso pra ela, não depois do que vi na varanda. A verdade é que eu duvidava que meu primo precisasse mais dela do que eu, porque Deus, eu queria tanto aquela mulher que meu peito ardia, mas a questão é o que ela queria?

Se fosse em outros tempos com outra mulher eu simplesmente perguntaria, porque tinha a certeza de que nenhuma seria capaz de me dizer não e se, muito improvavelmente ela dissesse, eu estava pouco me fodendo. Mas eu não poderia perguntar para a Lívia, não conseguiria pedir para que ela fizesse uma escolha porque se não fosse eu o escolhido teria que admitir que eu era um porra de um covarde e não saberia lidar com o fato de aquela mulher jamais ser minha.

Ouvi passos se aproximando e meu olhar cruzou com o do Diego quando ele apareceu na porta da cozinha, assim que me viu ele parou e hesitou por um momento, no entanto decidiu entrar e foi até a geladeira.

_Vim pegar água para vovó_ ele disse e eu quase ri da sua tentativa frustrada de puxar assunto.

_Ok!_ respondi ainda com os olhos fixos no café, agora frio.

Ele colocou a mão na geladeira, mas não a abriu permanecendo de cabeça baixa por alguns instantes.

_Como está o tio?_ perguntei e Diego suspirou antes de responder.

_Acabei de falar com a mamãe, ele ainda está na UTI e seu estado é crítico. Porém ela tem esperanças e é nisso que estou me agarrando agora.

_Sinto muito, Diego_ eu disse com sinceridade.

Diego pegou a jarra de água e um copo no armário, mas ao invés de levá-lo para a sala ele os colocou a minha frente na mesa e sentou-se ao meu lado. Ficamos perdidos em nossos próprios pensamentos por um ou dois minutos e Didi interrompeu o silêncio.

_ Eu vou para os Estado Unidos. _ suas costas estavam curvadas e seu rosto demonstrava cansaço, dei-lhe dois tapinhas no ombro.

_Eu queria poder fazer alguma coisa para tornar isso mais fácil pra você.

Ele abriu a boca e desistiu três vezes antes que as palavras surgissem:

_E você pode._ o olhei confuso_ Você pode ir lá fora e contar para aquela mulher linda que você está louco por ela e nos poupar de mais drama.

Não consegui disfarçar o espanto e meu primo sorriu com um leve ar de diversão por cima da expressão triste:

_Eu vi você na escada, Gabi e nunca te vi com tanta fúria e frustração no olhar, a não ser é claro quando perde pra mim no vídeo game.

Eu também sorri, eu era péssimo em jogos eletrônicos e um péssimo perdedor também, dois pontos fracos que Didi e Tico adoravam explorar. Porém meu sorriso se desfez quando ele continuou.

_Mas isso não é um jogo, o que é uma sorte pra mim, porque se fosse você já teria ganhado faz tempo.

Do que ele estava falando? Ele já não havia se declarado para a professora e ela não o tinha aceitado? Dessa vez foi Didi quem me deu tapinhas no ombro vendo o quanto eu estava confuso.

A Segunda VezOnde histórias criam vida. Descubra agora