5. Lívia

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_Você o quê? _Nat falou alto no meio da loja e olhei ao redor constrangida notando que as pessoas pararam para nos observar, peguei em seu cotovelo levando a para a área dos provadores.

_Xiu, Natália! Por isso que eu não queria te contar.

Mentira, a verdade é que parte de mim estava louca para contar pra Nat sobre o que aconteceu na noite anterior, mas a outra parte, aquela que havia sido cautelosa por anos dizia que não era o momento então optei por meia história e contei somente que Gabriel e eu havíamos nos encontrado no escritório do meu pai, que ele me deu uma carona, me convidou para jantar e eu aceitei. Diante da reação da Natália vi que foi melhor assim, se ela surtara só de saber do jantar imagina o que ela faria se soubesse do que rolou naquela estrada deserta?

_Você o quê?_ Ela repetiu, mas desta vez sussurrando_ E você me conta agora? Posso saber porque não me contou ontem? Assim que aquele gato saiu de sua casa?

_Porque não tenho 13 anos Natália! _respondi com cara feia e me virei fingindo interesse nas roupas da arara, porém eu estava mentindo de novo, acontece que a Lívia que eu acabara de descobrir existir até ficou com vontade de ligar para a amiga, mas, pensei e me virei ainda mais escondendo um sorriso bobo, aquele Caipira tinha despertado em mim uma pessoa que até então eu desconhecia e eu gostava daquilo. Me sentia muito egoísta em relação ao Gabriel, pensei franzindo o cenho.

_Ai meu Deus!_ ela gritou novamente e me virei rapidamente no momento que ela tapava a boca com as duas mãos_ Ai meu Deus! _ repetiu com a voz baixa_ Nós duas conhecemos dois caras gatos ontem e nós duas vamos encontrá-los hoje, acho que somos gêmeas!_ piscou pra mim.

_Quase siamesas, Nat! _respondi sorrindo_ Acho que deveríamos comprar roupas iguais e terminar a frase uma da outra.

_ Não seria uma má ideia, se eu pudesse escolher os vestidos é claro, nem morta vou jantar com o Tiago vestida de professora universitária. _ juntei as sobrancelhas e mostrei a língua para ela em resposta a sua opinião sobre as roupas que eu costumava usar em eventos. Ela não se intimidou. _ Agora temos que ir atrás de uma roupa pra você.

_Não precisa, já sei exatamente o que vou vestir. _falei com convicção.

Nat não pareceu sentir a mesma confiança que eu.

_Ah, Lívia! Se você disser que é um dos seus conjuntinhos azul marinho vou ter que me enforcar com esse vestido horrível. _Ela puxou uma peça tie die da arara e eu sorri.

_ Não Natália, nem só de conjuntinhos se alimenta o meu armário. _Ela não pareceu muito convencida então prometi_ Quando estiver pronta te mando uma foto, ok?

Ela abriu um sorriso e logo depois o desfez:

_Agora você me deixou insegura, não sei o que eu vou vestir. Ah, droga! Apresentei minha tese de mestrado para uma bancada com os maiores especialistas de uma das melhores faculdades do país sem piscar e não consigo escolher um vestido para um encontro. Esse lado fútil da minha personalidade é tão patético!_ ela concluiu fazendo beicinho.

Não pude reprimir uma gargalhada:

_Vamos, loira! _eu a encorajei_ Vamos achar o vestido perfeito e quando seu cavaleiro de caminhonete brilhante a vir, nem vai saber o que o atropelou.

E dessa vez nós duas rimos alto.


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Olhei para o espelho satisfeita com o que vi, e a mensagem de corações da Natália me deixou ainda mais segura. Gabriel havia me dito que quando eu deixava de ser a professora e me transformava em Lívia eu me tornava agressiva. Aquelas palavras ficaram martelando em minha mente não só pelo significado, mas pelo seu olhar quando disse aquilo. Seus olhos me intrigavam porque eram de um castanho claro como um chá mate fraco quando sorria, chegavam a um marrom cor de uísque quando se irritava ou era irônico, porém eram os castanhos quase negros como um pedaço de Imbuia que eu vi naquele dia que eu buscava, era por essa cor que eu me vestia hoje e ela só aparecia quando ele estava excitado.

A Segunda VezOnde histórias criam vida. Descubra agora