1. Lívia

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_Você precisa ver isso! _ revirei os olhos e continuei pendurando as folhas no varal_ É sério Lívia, parece até que ele saiu de um daqueles livros que você me emprestou e ele deve ser muito bom naqueles lances.

Pendurei a última folha e encarei minha amiga:

_Pelo amor Nat, se eu soubesse que você iria ficar tão empolgada com Abbi Glines e ver um Rush ou um Woods em todo cara que usa jeans apertado e camisa eu jamais teria te emprestado os livros.

Ela inclinou a cabeça e me olhou desconfiada:

_Como é que você sabe que ele está de jeans apertado e camisa?

_Porque você não estaria interessada se ele não estivesse_ eu disse levantando as sobrancelhas com sarcasmo_ E porque estamos em Santa Clarisse onde os homens sempre estão de jeans apertados e camisa. _concluí, pelo menos os homens capazes de causar aquela reação na Natália.

Natália havia chegado a Santa Clarisse uma semana antes de mim, estávamos no final do segundo semestre do ano letivo e havíamos assumido as salas de 4 e 5 anos da EMEI. Ambas viemos de cidades grandes em busca de tranquilidade, pelo menos eu vim, já que tranquilidade não era uma palavra que combinasse com aquela loira de olhos azuis e um metro e meio de altura, mas seu tamanho nem de longe era proporcional ao seu profissionalismo, 10 anos mais nova que eu, era formada em pedagogia numa das melhores faculdades do país, era também uma das melhores professoras de Educação Infantil que conheci, porém ser linda, inteligente e autossuficiente parece que assustava os homens e Nat não tinha muita sorte com relacionamentos, algo que ela encarava com muito bom-humor: "quem sabe se eu não fosse boa de mais pra eles?", ela dizia. Mesmo assim ela estava sempre aberta à possibilidades e para minha falta de sorte, ela achava que eu também deveria estar:

_ Ah, Lívia! Vamos lá! Só uma espiadinha. Ele está conversando com a Dona Rosa, eu o vi quando passei pelo corredor e quase tive um treco, se eu não tivesse certeza de que Tiago é O Cara, eu mesma investiria.

Sorri com o otimismo de minha amiga. O pneu de sua caminhonete furou naquela manhã a caminho do trabalho e por sorte "o cara certo estava passando na hora certa" como ela disse. Nat chegou à escola com o pneu trocado, um largo sorriso no rosto e um encontro marcado para sábado a noite com um cara que, em suas palavras "era tão gostoso que ela poderia furar os outros três pneus da caminhonete só para vê-lo trocá-los" . A única coisa que ela sabe é que o cara se chama Tiago, dirige uma Ranger antiga e cheira a café torrado. Se ainda morássemos em São Paulo eu ficaria muito preocupada com a falta de informação, mas estávamos em Santa Clarisse e o único motivo de não sabermos mais sobre esse Tiago é porque estávamos o dia todo na escola e ainda não havíamos encontrado ninguém a quem perguntar. Comecei a recolher minhas coisas e já ia dizer a Natália que daria uma olhada no tal cara na saída quando D. Rosa bateu à porta aberta e me avisou:

_Lívia, tem alguém aqui que quer te ver.

_Tia, Lívia!

Reconheci imediatamente o dono daqueles cabelos loiros cacheados e olhos castanhos que entrou correndo e se jogou em meus braços.

_Oi Gabriel, que bom que você está melhor! _Disse com sinceridade, Gabriel havia ficado em casa por 15 dias por causa de uma catapora e eu realmente estava com saudade daquele pequeno.

Só percebi que há alguém a porta com a D. Rosa quando Nat me cutucou e apontou discretamente com o nariz, o brilho em seus olhos me deu uma leve ideia de quem era, virei-me para cumprimentar o pai de Gabriel e acidentalmente enguli o chiclete, e meu orgulho, quando percebi o sorriso sarcástico de Nat, "eu não disse?" ela me disse  com os olhos. Aquele homem poderia facilmente ter saído de um dos romances da Abbi Glines, como foram mesmo as palavras da Nat? "parece até que ele saiu de um daqueles livros que você me emprestou e ele deve ser bom..." Cacete! Não queria nem imaginar no que aquele cara deve ser bom.

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