7. Lívia

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_ Estou tão orgulhoso de você, Lívia!

Levantei a cabeça e ofeguei assustada:

-Edu? Ai, meu Deus! Edu é você?

Ele sentou-se ao meu lado, olhei ao redor e estávamos embaixo da nossa goiabeira, a que brincávamos quando passávamos algumas semanas das férias escolares juntos no sítio de seus avós em Minas Gerais. Ele passou os braços por meus ombros e fechei os olhos:

_Claro que sou eu_ havia felicidade em sua voz_ Acha mesmo que eu iria abandonar minha menina?

_Não! _falei sem abrir os olhos com medo de que, se eu olhasse ele não estaria mais ali, e uma lágrima escorreu por minha bochecha_ Não acho, nunca achei, mas então... você... um dia você..._ Não consegui terminar a frase.

Edu virou meu rosto suavemente pra ele e abri os olhos, embora tentasse me consolar, como sempre, os dele também estavam marejados por baixo dos óculos e me perguntei se, de alguma maneira fosse possível, ele estaria sentindo a minha falta tanto quanto eu sentia a dele.

_Estou aqui agora, Lívia! Agora e sempre, lembra?_ ele abaixou um pouco para que nossos olhos ficassem no mesmo nível e acariciou meus cabelos sorrindo.

Também sorri. Agora e sempre era nosso lema, era o que nos unia desde os oito anos de idade. Coloquei minhas mãos em seu rosto e ele se apoiou fechando os olhos e suspirando, sua pele estava bem macia para alguém que precisava fazer a barba e franzi o cenho, retirei a mão lentamente para não assustá-lo com minha surpresa, mas o gesto não passou despercebido. Ele não queria demonstrar, mas estava triste:

_Não posso ficar, Lívia._ ele disse_ Mas eu tinha que te responder: Sim!

-Sim? _ perguntei confusa_ Não fiz nenhuma pergunta.

_Mas vai fazer, meu amor. Escute! A vida vai te dar algumas opções e, por mim quero que você experimente e analise cada uma delas, entendeu? E quando você fizer a pergunta decisiva lembre-se que a resposta é sim._Então ele sorriu abertamente e tocou seu ombro ao meu_ Finalmente você descobriu como é agressiva, garota!

Arregalei os olhos e percebi que eu corava. Senti uma necessidade urgente de explicar:

_Ai, meu deus! Edu você não sabe? Quero dizer, você não...

_Ei, calma! _ ele parecia se divertir_ Não sei de nada que você não queira que eu saiba, mas você sempre foi minha melhor amiga, gata! Te conheço melhor do que você mesma. Você gosta dele!

Aquilo não foi uma pergunta e eu disse:

_Acho que sim. Ele me diverte_ ele soltou um riso abafado e fechei a cara_ e me irrita muito também. Mas não o amo nem quero amá-lo e por incrível que pareça não sinto remorso por isso_ eu o encarei um pouco envergonhada_ Isso é muito horrível, Edu? Querer aproveitar do que a pessoa tem a oferecer sem querer ter sentimentos por ela? Sou uma bruxa sem coração?

Ele riu alto:

_ Só o fato de se dar conta disso já prova o quanto seu coração é enorme. Não se preocupe, gata você não está fazendo nada de errado.

Ele ficou sério e acariciou meu queixo com as pontas dos dedos:

_Só me prometa que quando perceber que chegou a hora, vai se permitir amar alguém, ok?

Olhei pra ele ofendida.

_Eu amava você!

Edu me ofereceu um sorriso torto que o deixava ainda mais fofo.

A Segunda VezOnde histórias criam vida. Descubra agora