4. Lívia

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Entrei na fábrica e torci o nariz, eu procurava nunca julgar ninguém pelas aparências, mas se tinha alguém cuja aparência venenosa fazia jus à personalidade essa pessoa era a Giovana. Ela devia ter pouco mais de vinte anos, mas a maquiagem carregada a fazia parecer bem mais velha e não vou negar que a garota era bonita, muito mais alta que eu tinha os cabelos cortados num chanel repicado sensual, olhos castanhos esverdeados e uma pele perfeita, junte tudo à um corpo escultural daqueles que fazem você prometer nunca mais comer pizza na vida e pronto! Quem poderia censurá-la pelos jeans apertado e a blusinha cropped? Ela podia vestir o que quisesse. Vaca!

Giovana era filha do Marcos, sócio dos meus pais, e como não havia ainda se decidido se iria ou não fazer faculdade seu pai a obrigou a trabalhar como secretária na fábrica. Minha mãe falou que no fundo ela era uma garota boa e educada e ela a entendia afinal que garota de vinte e poucos anos gostaria de passar o dia todo naquele fim de mundo? Ela odiava o emprego e algumas semanas depois que cheguei percebi que ela me odiava também, talvez pelo fato de eu ter uma profissão que me livrava de ter que dirigir até a fábrica todos os dias.

_ Boa tarde Giovana! _eu disse por educação.

_Ah, é você?_ atacou, e então me olhou de cima a baixo não fazendo nenhuma questão de reprimir uma gargalhada_ Pelo jeito fui a única que tive uma boa tarde por aqui! O que foi? Finalmente tomou consciência de onde é o seu lugar?

Cadela. Eu não queria fazer uma cena na fábrica dos meus pais e resolvi ignorar o comentário.

_Pode por favor avisar minha mãe que estou aqui?

_Nem fodendo eu posso fazer alguma coisa pra você!_ Cadela e mau educada_ Mas seus pais disseram que você poderia entrar assim que chegasse.

Me virei sem agradecer e entrei no escritório:

_Mãe desculpa o atraso, mas um idiota...

Parei completamente desconcertada, Gabriel estava ali, no escritório dos meus pais encostado na mesa com uma xícara de café nas mãos, assim que entrei vi um rápido brilho de constrangimento passar em seus olhos castanhos agora muito mais claros, mas foi realmente muito rápido, ele levou a xícara aos lábios e notei os cantos de sua boca se curvarem. Aquele imbecil estava rindo da minha cara?

_Meu Deus Lívia!_ minha mãe veio em minha direção_ O que aconteceu com você? Foi algum acidente? Você está machucada?

Sem desviar o olhar de Gabriel eu tranquilizei minha mãe.

_Não, eu estou bem. Aliás, foi só um contratempo insignificante _ eu disse estreitando os olhos ainda sem desviá-los do Caipira _ para falar a verdade nem me lembro mais do que aconteceu.

Gabriel desviou os olhos primeiro, mas não antes de eu notar que eles haviam escurecido um pouco. Ele não sorria mais.

_Minha filha, desculpa ter feito você dirigir até aqui, mas acho que não dá mais tempo, vou ter que adiar a reunião.

Virei para meu pai e o cumprimentei com um abraço.

_Ah, pai eu é que peço desculpas! Tem certeza de que não dá mais tempo? __ perguntei com remorso, se eu não tivesse perdido tempo me agarrando com aquele cretino teria chegado mais cedo.

_Até daria se fossemos direto, mas temos que dar a volta pela cidade para te deixar em casa.

_Eu levo ela!_ ouvimos a voz de Gabriel e parecia que um copo de gelo havia sido despejado em meu estômago, essa reação descontrolada que eu tinha só de ouvir aquele homem falar me desconcertava e irritava muito.

A Segunda VezOnde histórias criam vida. Descubra agora