Uchiha

46. Sasuke - Esperança

Ela está diferente outra vez.

Hoje ela sorriu pra mim, um sorriso largo, não como os sorrisos de antes, mas ela sorriu. E na sala ela parecia relaxada, ou quase isso. Parecia a Hirunna de antes.

Talvez ela tenha voltado ao que era antes. Talvez finalmente tenha se resolvido com o que quer que seja que tenha acontecido aquele dia, ou talvez eu só esteja me iludindo... 

Já percebeu o quanto é difícil realmente estar com esperança zero?  

Sempre achei impressionante como ela é algo difícil de se acabar ou matar de verdade e 100%.

Não importa como as coisas estão ruim, não importa o quanto pareça impossível que algo de bom aconteça; nós sempre teremos uma ponta de esperança.

Ela é como uma faísca quente, que por qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, ela vira uma chama e então uma fogueira forte e vibrante. E isso é em questão de segundos. Até a coisa mais banal a reanima e quanto mais você a percebe ou tenta se enganar dizendo a si mesmo que não há mais esperanças, mais ela ganha força porque você simplesmente pensou nela.

Eu estou assim agora. Mas ela não está sozinha, a desconfiança está com ela. O que é uma coisa bem rara de se acontecer. Algo dentro de mim me diz que algo ainda está errado. Que ela não está tão bem assim, alguma coisa mudou, algo aconteceu. 

Não sei o que é, e se eu perguntar ela muito provavelmente não me contará. Talvez minta novamente, diga que estou só imaginando coisas, se finja de boba ou me ignore como anda fazendo ultimamente e eu não quero isso. Eu não sou um idiota, e ela sabe muito bem disso.

...

Fui o último a arrumar minhas coisas hoje. Não tenho nada de especial pra fazer, então pra que sair correndo da escola? Pra mergulhar no tédio?

Quando olho pra frente depois de guardar tudo, vejo Hirunna me olhando a duas carteira à frente.

- Oi. - Ela diz sorrindo minimamente de lado.

- Oi. - Respondo e fico calado parado ao lado da carteira sem a mínima ideia do que falar ou fazer. Ouço-a suspirar e então ela se desescora da carteira e vem até mim. Ela para em minha frente e diz:

- Desculpe. - Fico em silêncio por alguns segundos, tentando absorver o momento e a espera de explicações mais profundas dela, como não diz nada, eu a questiono.

- Por?

- Tudo. - Fico em silêncio novamente. Não é como se eu simplesmente conseguisse esquecer tudo. Se é isso que "tudo" quer dizer. Um simples "desculpa" não é o bastante. Afinal, ficamos semanas sem sequer nos olhar direito. Mas acho que ela não percebeu isso, porque se aproximou de mim ainda mais e pôs de lado a minha franja. Ela se aproximou até que nos beijamos, e eu deixei. Foi muito tempo sem pra conseguir me afastar agora.

Aquele beijo estava diferente de todos os outros que já damos. O clima era outro, foi tão tenso que nem consegui prolongá-lo pelo tempo que eu realmente queria.

Ela me olhou retraída depois que nos afastamos - depois que eu a afastei, na verdade. Ela não parecia confusa, apenas triste. Acho que já esperava por essa reação minha.

- Ok. - Foi o que saiu por entre seus lábios. Eu olhei pro quadro na frente da sala. Sim, ela já esperava por aquela reação. Então aquele beijo estranho só pode estar querendo dizer uma coisa: despedida.

Ela deu um sorriso fraco, os lábios tremiam minimamente.

- Sinto muito. - Sussurrou. Ela mordeu o lábio inferior por um momento, se aproximou e beijou minha bochecha antes de se virar, pegar a mochila e ir.

Na porta eu a vi parar, ela olhou pra mim. Seus olhos estavam levemente marejados, ela deu mais um sorriso simples, sem nenhuma felicidade real e saiu.

Fiquei entorpecido por um momento, processando o que aconteceu e quando voltei pra realidade saí correndo até as escadas.

"É realmente isso o que eu quero?"

Me perguntei, e do corredor do andar de baixo a vi sair correndo em direção ao portão. Gritei seu nome e ela nem ousou olhar pra onde vinha a minha voz.

Já era. Estava tudo acabado.