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Era meio que impossível de ignorar os cochichos e olhares sobre mim enquanto Brier pegava os nossos cafés.

A noite de ontem ainda estava meio confusa e meu tornozelo ainda doía. Não lembro de ter trocado de roupa e muito menos de ver Kyle saindo.

- Hailey! - Brier me puxa de volta para a realidade.
- O que foi? - Digo franzindo o cenho graças a ressaca.
- Quer açúcar? - Com as sobrancelhas erguidas.
- Não. - Respondo tirando os óculos escuros. - Que porra de cara é essa?
- Como foi ontem à noite? Do jeito que você está área....- Pergunta ao se ajeitar na cadeira. Sabia que ele estava morrendo pra saber.
- Foi normal. - Respondo bebendo meu café.
- Normal?
- É, Brier, normal. Para de me encher. - Coloco os óculos de novo.
- A ressaca só faz o seu humor piorar.
- A ressaca faz o humor de qualquer pessoa normal piorar.
- Há há. Nada arruina meu bom humor.
- Percebe-se; Mas sério, já basta a faculdade inteira cochichando sobre eu e Kyle.
-  O que você esperava? Vocês saíram da festa juntos. - Nesse momento só consigo pensar em seus braços me carregando e seu perfume que ainda pairava meus sentidos.
- E? - Brier não precisava saber dos detalhes.
- Hailey, seja sincera. Vocês transaram? - Me engasguei com o café e todos ao redor me olharam enquanto Brier ria.
- Lógico que não.- Ele me olhou como quem diz "Há tá bom".
- É sério. Não mentiria pra você.
- Tudo bem...mas você é cega? Que homem é aquele? - Ele diz se abanando. - Tiro os óculos, mais uma vez, para que Brier possa me ver revirando os olhos, e em seguida, vejo ele encostado do lado de fora da cafeteria, com um cigarro na boca.

Me levanto deixando para trás um melhor amigo confuso.

Como ainda sinto dor em meu tornozelo, me encosto ao seu lado, o que faz com que as pessoas que passam pela calçada (também) nos encarem.

Antes de eu falar qualquer coisa, Kyle entorta a cabeça e assopra a fumaça de seu cigarro toda em meu rosto.
- Oi pra você também. - Digo abanando a fumaça.
- O que você quer? - Ele pergunta apoiando a cabeça no vidro.
- Obrigada por...- Ele resolve me interromper: - Pensava que você ia dizer que não havia pedido pela minha ajuda. - Estreito os olhos.
- Eu não pedi, mas obrigada. Você já ouviu o que estão falando sobre nós dois?
- Sobre eu ter te comido? - Graças às suas palavras ríspidas, o clima fica constrangedor, pelo menos pra mim, já que Kyle continua. - Bem que você queria...
- Antes de saber quem você é. - Digo irritada.
- Te garanto que você ainda não sabe nem metade; E pra falar a verdade, sorte sua que ontem a Jordyn estava no quarto, porque enquanto eu te trocava, esse papo todo estava prestes a deixar de ser só boato. - Ele retruca com um sorriso malicioso.

Parece que a dúvida sobre como troquei de roupa acabou, mas acho que preferia morrer com ela. Talvez não...

Aquele toque áspero e quente que não saia da minha cabeça desde a primeira festa, passando pelos meu braços, descendo pelas minhas pernas...

Kyle parece perceber o quão zonza eu fico em sua presença e aproveita a oportunidade para enlaçar os braços em minha cintura e me puxar pra perto; Me forço a voltar para a realidade (por mais que no fundo, mas bem no fundo mesmo, eu não quisesse).

Kyle estava prestes a tirar o cigarro da boca, mas consigo ser mais rápida e puxa-lo antes.

Coloco nos lábios, dou uma tragada e dessa vez, eu quem assopro em seu rosto. Kyle morde os lábios, mas consigo perceber o fantasma de um sorrisinho:
- Pena que não estou mais interessada. - Jogo o cigarro no chão e volto para a cafeteria.

- E depois você não quer que os outros falem.- Brier comenta assim que me sento.

(...)

- Jordyn. - Digo assim que entro no quarto e a vejo sentada na sua escrivaninha.

Ela me olha da cabeça aos pés e me ignora.

Merda.

- O que foi? - Digo me fingindo de desentendida.
- Você pode fazer silêncio? Estou tentando ler.

Só pra deixar claro que ela folheava as páginas de uma revista de fofoca.

- Pensava que você não era de acreditar em boatos. - Digo me sentando na cama ao seu lado.
- Deixam de ser boatos quando existem testemunhas.
- Não aconteceu nada. Eu juro. Eu estava tão bêbada quanto você. - Ela manteve os olhos fixos em sua revista.
- Jordyn...Ele me trouxe pra cá e foi embora. - Achei melhor deixar de fora os detalhes.
- Por favor, Hailey. Ele é o Kyle, você poderia estar morta que ele tentaria alguma coisa. - Então por que não tentou? Não que eu quisesse que ele
tivesse tentado. Não que eu não quisesse. Enfim; não sou bonita o suficiente? Bom, ele me viu vomitar.... Hailey, para!!! Não importa!! Nada aconteceu e pronto. A parte consciente da minha cabeça tenta me trazer de volta.
- Honestamente? Eu estou falando a verdade. E se você não quer acreditar, não sei o que poderia fazer para te provar o contrário. Realmente espero que você perceba que isso não passa de uma fofoca de banheiro.

Ela assentiu, parecendo acreditar.

- Tudo bem. Eu acredito.

Eu sorrio e vou deitar na minha cama.

- Ele realmente te carregou? E te trouxe até o quarto? - Ela perguntou triste.
- Meu tornozelo estava machucada e eu ainda estava chapada.
- Você não precisa tentar justificar.

Não sabia o que falar, então achei melhor ficar na minha.

(...)

Meu despertador tocou as 6:00, indicando que era hora de voltar à realidade.

Depois de tomar banho, coloco uma calça branca, uma camiseta preta e um casaco de couro. Como Brier tinha aula no mesmo horário, resolvemos tomar café juntos.

- Animada para o primeiro dia de aula? - Ele perguntou enquanto andávamos até a minha sala.
- O que você acha? - Dou um sorriso forçado e ele solta uma risadinha.

Depois de nos despedirmos, sigo para minha primeira aula, enquanto Birer segue para outro prédio, já que ele cursava publicidade.

Me sento na parede, três cadeiras da porta.

Miley, a amiga de Brier, se senta ao meu lado e conversamos com algumas pessoas que estavam ao nosso redor até a professora de Direito Penal entra na sala; Ela se apresenta e começa a falar sobre como seria o ano.

Miley não teve todas as aulas comigo, afinal, era um ano mais velha.

No intervalo, ela havia me apresentando alguns de seus amigos, que eram legais e me deram algumas dicas de como aguentar o professor de Sociologia, que segundo eles, era muito rígido e meio estranho.

Na última aula, de Filosofia, uma garota de cabelos castanhos sentou ao meu lado. Tentou puxar assunto falando de como havia gostado do meu par de botas ugg, e parecia legal até eu perceber que ela só havia sido simpática para (tentar) disfarçar seu desespero ao perguntar sobre Kyle. Assim que ela citou o nome dele, a ignorei e troquei de lugar.

Depois disso o professor (surpreendentemente) gato entrou e, graças a Deus, a aula foi bem interessante fazendo com que eu não pensasse nos milhares de boatos que me cercavam por ali, e provavelmente pelo resto do campus.

(Im)PerfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora