Alguns diziam que o amor vinha cedo.
Duas crianças em um parque. Um balde de areia sendo dividido e com apenas um olhar, ali se construía um amor que duraria a vida inteira, um amor daqueles que mesmo com companheiros diferentes, ao longo da vida, sempre estaria na memória e no coração.
Outros diziam que o amor se transformava.
Inimigos no colégio, tipos completamente diferentes que um dia se olharam de outra maneira, fazendo com que todo aquele declarado ódio se transformasse em algo bonito, algo que os ligaria de uma maneira tão profunda que não saberiam explicar. Diziam também que a paixão das brigas fazia com que esse amor tivesse ainda mais calor.
Havia ainda quem dissesse que era um processo lento.
Algo no misto de companheirismo, respeito e afeição que levava a esse estado tão sublime chamado amor. Não era nada incomum ver amizades virando amores duradouros.
E então haviam os amores fulminantes.
Aqueles que, segundo dito, vinham em um toque, um sorriso ou simplesmente um olhar. Aquele tipo de amor que bastava um segundo, um simples piscar de olhos para que o amor entrasse em suas veias, fazendo o seu coração pulsar, fazendo, subitamente, a vida adquirir todo o sentido que até então tanto se buscava.
E avançando mais uma página em minha pesquisa na internet, tentei compreender como funcionava o meu amor por Jared, meu noivo. As páginas avançavam, as definições ficavam mais específicas e em nenhum momento eu chegava sequer perto de compreender meu sentimentos. Faltava muito pouco para o casamento e havia algo estranho em meu peito que me levava a estar, em plena madrugada, sentada no balcão da cozinha, com uma taça de vinho e o computador, buscando sobre como o amor costumava acontecer.
Eu e Jared tínhamos um bom relacionamento. Havíamos nos conhecido durante a faculdade, por apresentação de amigos em comum que acreditavam que seríamos perfeitos um para o outro. Quando nos encontramos, eu também cheguei a pensar isso. Tínhamos o mesmo estilo de pensamento, estudávamos matérias parecidas e nossos planos para o futuro eram semelhantes. Então por que não juntar os planos e tornar aquele futuro um só?
Jared Wales era uma boa companhia. Um homem bonito, com seus cabelos escuros e olhos castanhos com toques esverdeados, simpático, inteligente e carinhoso. Como diziam as minhas amigas, ele era tudo o que qualquer garota poderia querer e eu era uma sortuda por ter um namorado como ele.
Acreditei que era mesmo. Afinal, ele me tratava tal qual uma princesa e me fazia bem, me deixava segura. Mas em nenhum momento eu sentira aquele sentimento sobre o qual os poetas e músicos falavam. Meus pés não formigavam, meu coração não batia mais rápido e meu estômago não era assolado por borboletas.
No entanto, ele era um bom cara, aquele com que todas as garotas sonhavam, então deixei que as coisas apenas progredissem. Eu tinha esperanças de que um dia, no café da manhã, enquanto ele estivesse verificando seus emails, eu o olharia com outros olhos. O amor me abalaria e então eu daria a mais completa razão a todos aqueles que acreditavam que fazíamos um bom casal. A todos aqueles que diziam que éramos feitos um para o outro.
Como todos eles poderiam estar tão certos de algo que eu mesma fora incapaz de sentir?
Conforme eu acreditara, as coisas realmente progrediram. Terminamos a faculdade, conseguíramos bons empregos, ele no ramo jurídico, e eu no imobiliário, e com isso, nos mudamos para a sempre fria e úmida Seatle.
Alugáramos um apartamento bom em uma área privilegiada. Tínhamos ótimos empregos com chances constantes de promoção. Nossa relação era estável e boa, éramos felizes juntos, éramos um casal compatível, e audaciosamente, tinha de acrescentar que a nossa vida sexual era boa.
Então não fora nenhuma surpresa o que aconteceu em seguida. Numa noite fria, enquanto jantávamos em um dos mais bem conceituados restaurantes da cidade, comemorando um aniversário de namoro, do qual eu nem me lembrara até aquela manhã, quando fora presenteada com flores.
Ao ver Jared de joelhos ao meu lado, com a pequena caixa azul turquesa em sua mão, aberta para que eu visse o anel lindo e incrivelmente valioso que ele havia comprado para mim, minha cabeça parou. Por vários minutos eu o encarei, as mãos na boca, parecendo completamente chocada, o que até estava, mas no meu interior, uma pergunta ecoava, tentando achar a resposta depressa.
Eu queria me casar com Jared Wales?
Haviam vários fatores que me levariam a responder que sim. Nossos planos para o futuro, nossa estabilidade financeira, nossa compatibilidade enquanto casal. Mas havia outro fator, apenas um, vindo de uma voz fraca no fundo da minha mente, que dizia pelo meu coração: mas eu o amava?
O amor viria com o tempo.
E por isso a minha resposta fora sim. Para o delírio de todos os outros clientes do restaurante, contentes por fazerem parte daquele importante momento da minha vida, enquanto Jared me abraçava, contente por eu ter aceitado o seu pedido, deslizando a aliança com inúmeros pequenos diamantes em forma de uma rosa em meu dedo.
Logo tivéramos que anunciar nosso enlace aos nossos pais e começar os preparativos para o casamento. Meus pais, protestantes não praticantes, acharam que a escolha da cerimônia deveria ser feita por mim. Grande, íntima, ao ar livre, numa igreja histórica, o que minha imaginação me permitisse, eles apoiariam a minha escolha fosse qual fosse.
No entanto, a opinião da mãe de Jared não era a mesma. Candice Wales era católica e praticante até demais para a minha humilde opinião agnóstica e insistira para que a nossa cerimônia, a religiosa ao menos, fosse feita na mesma igreja em que Jared fora batizado e crismado, alegando o quanto a sua comunidade ficaria radiante ao ver o seu pequeno filho celebrando outro sacramento na mesma igreja em que nascera.
Candice sabia ser bem convincente quando queria, por isso logo me vi aceitando apenas para que ela parasse de me ligar nos mais inconvenientes horários para contar sobre como a igreja era especial ou como aquilo significaria muito para Jared.
Eu não me importava em casar-me em uma igreja católica, pelo contrário, se aquilo faria Jared feliz, que fosse daquela forma. O caso era que eu ainda não me sentia completamente pronta para me casar. Mesmo com todo o planejamento seguindo como o esperado e todas as questões principais sobre o casamento já devidamente solucionadas, eu ainda sentia que havia algo. E sentia todas as noites quando me deitava ao lado de Jared, olhando para o seu rosto sereno, esperando que aquele sentimento se manifestasse.
Jared sempre alegava que se apaixonara por mim no momento em que me vira pela primeira vez, naquela festa durante a faculdade, quando fôramos apresentados pelos nossos amigos. Desde aquele momento ele sabia que era amor. Todos os nossos amigos adivinharam que era amor.
Por que apenas eu não conseguia ver aquele sentimento dentro de mim?
Avancei mais uma página e um bipe discreto avisou-me que eu tinha um novo e-mail em minha caixa de entrada. Uma breve olhada foi o suficiente para sondar o assunto: eu teria um encontro com o padre da paróquia onde realizaríamos o casamento para discutirmos sobre os meus votos e como eu pretendia que a cerimônia seguisse.
Nada que eu não pudesse resolver. E sozinha, ao que indicava o email. Já que Jared teria que estar no fórum no mesmo horário da reunião com o padre e Candice tinha que resolver assuntos inadiáveis com a florista. O que significava que eu teria que encarar o chefe católico sozinha.
Respondi o email apressadamente, garantindo à minha futura sogra que estaria lá no horário marcado e fechei todas as abas de pesquisa, sabendo que ela não me levara a lugar nenhum, tampouco a garrafa de vinho me ajudara a ficar mais calma.
Restava um mês antes do meu casamento, talvez todas as minhas dúvidas fossem fruto da ansiedade e do nervosismo ao ver-me diante de um compromisso tão importante quanto um casamento. Eu tinha certeza de que quando estivesse em meu vestido branco, diante de Jared no altar, eu teria certeza do que eu queria. Teria certeza de que ele seria o homem que eu sempre sonhara.
Teria certeza de que era amor.
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Forgive My Sins
RomanceA um mês de seu casamento, Grace Samuels se vê ocupada com pesquisas sobre amor no Google e infinitas taças de vinho tinto ao invés de escolhas de flores e tabelas de cores, afinal, apesar de Jared Wales ser o homem perfeito, ele não dá a ela o famo...