Capítulo Extra Alternativo: Primeiro Encontro

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Certos dias pareciam necessitar de mais do que simples 24 horas. Talvez 36 ajudassem, mas eu tinha certeza de que, se fossem adicionados vinte minutos a mais em um dia, alguém daquela paróquia daria um jeito de preencher com tarefas que, supostamente, poderiam ser resolvidas apenas por mim.

Faltavam quinze minutos para as três da tarde e eu já podia sentir meus ombros e pescoço completamente doloridos de cansaço. O dia havia sido cheio e ainda tinha muito por vir: bênçãos, aconselhamentos, confissões, unções e mais uma porção de obrigações que eu, como padre, cumpria com o maior prazer, porém, isso não deixava de ser cansativo.

Fechei os olhos por alguns instantes para tentar relaxar meus músculos, mas nenhum alívio veio. Eu estava mesmo cansado, mas continuaria com as minhas tarefas conforme o planejado. Deus me ajudaria a terminar aquele dia da melhor maneira possível, por isso retirei o meu terço de dentro do bolso e rezei uma Ave Maria bem rápida, em intenção de receber a intervenção e energias divinas para terminar aquele longo dia.

O silêncio que fazia dentro da minha Igreja não me deixava iludir, ainda tinha muito pela frente. Um olhar para a minha agenda me mostrou que o meu próximo compromisso era um aconselhamento, por assim dizer.

A noiva de Jared Wales era agnóstica e a mãe do noivo, Candice, insistia para que eu conversasse com a noiva, explicando de forma breve como funcionava o catolicismo e a celebração do matrimônio em nossa religião para que a noiva se convencesse de vez a se casar dentro dos ditames da Igreja Católica.

Uma tarefa nada empolgante, mas eu me esforçaria. Eu daria o meu melhor para mostrar à Srta. Samuels o quanto o matrimônio dentro das leis católicas poderia ser bonito e cheio de significado.

O relógio em minha pequena escrivaninha mostrou que já eram três horas e saí do escritório em direção à nave da Igreja, onde geralmente as pessoas ficavam me esperando quando eu não estava no altar ou em algum lugar perto do confessionário.

Andei devagar, notando a mulher sentada em um dos primeiros bancos, desde o corredor. Ela parecia absorvida pelas esculturas de anjos e santos que tínhamos em nosso altar e das quais eu fazia questão de restaurar sempre que sentia necessidade. O altar era importante não só para a celebração em si, mas para os fiéis apreciarem a arte sacra.

Talvez o meu lado artista falasse mais alto que o clérigo, certas vezes.

- Srta. Samuels – chamei, decidido a começar logo o meu compromisso. Quanto mais cedo iniciado, mais cedo finalizado.

E então tudo parou por alguns segundos. Não houve mais cansaço. Todo o peso dos meus ombros pareceu se desfazer e um relaxamento que eu não sentia há anos tomou meu corpo de assalto. Eu não consegui fazer qualquer coisa que não fosse observar aquela mulher erguer-se devagar, sorrindo para mim.

A luz que entrava pelos vitrais no teto iluminava seus cabelos escuros, deixando-os incrivelmente brilhante e criando um halo que a fazia parecer divina, etérea, preciosa demais para que eu pudesse acreditar que fosse real.

Ela me olhava com atenção, como se aquela reação maravilhosa que me dominava, também a estivesse preenchendo, aos poucos, fazendo com que aquele momento se tornasse ainda mais surreal.

Uma mulher linda, de traços doces e quase juvenis, mas com olhos tão inteligentes. Ela parecia uma pintura, algo criado com a mais exímia das perfeições. Uma mulher que poderia mudar uma vida com apenas um sorriso.

O que ela provavelmente havia feito quando Jared Wales a havia conhecido.

Meus neurônios se obrigaram a entrar em ordem e implorarem aos meus hormônios, que faziam coisas engraçadas acontecerem sob a minha batina. A Srta. Samuels era uma noiva necessitando de um aconselhamento. E se não me falhava a memória, eu era um padre. Com votos e obrigações que nada tinham a ver com desejar a noiva de outro homem.

Forgive My SinsOnde histórias criam vida. Descubra agora