Havia algo de muito errado comigo.
Afinal, de que outra maneira eu poderia explicar o fato de que eu estava, novamente, diante da Igreja de São Germano, observando a chuva bater contra o vidro do carro enquanto uma torrente de pensamentos ainda mais fortes que a tempestade minava a minha sanidade?
O que diabos eu estava fazendo ali de novo? E ainda mais um dia depois de ter conversado tão franca e apaixonadamente com Jared sobre o nosso presente e, por consequência, nosso futuro. Ainda mais depois de passar toda a semana me esquivando de qualquer pensamento que pudesse ter conexão com Colin, me enganando e buscando não pensar nele e em meu casamento tão perto de se realizar.
Apoiei a cabeça contra o volante e respirei fundo, segurando a chave, ainda na ignição, tentei fazer com que minha cabeça funcionasse da maneira esperada. Eu estava na vizinhança, poderia passar na casa de Candice e verificarmos os últimos detalhes para o casamento. Na semana seguinte eu teria que experimentar meu vestido de noiva pela última vez, e outros pormenores ainda precisavam ser discutidos. No entanto, não encontrei forças para fazer mais do que ficar ali.
Eu deveria estar no escritório, me mostrando produtiva, galgando a minha chance como sócia ou algum cargo alto o bastante para me realizar de algum modo. Todavia, lá estava eu cultivando uma paixão completamente proibida e impossível por um padre católico.
Duas batidas do lado de fora me levaram a pular no lugar, assustada por ter meus pensamentos interrompidos tão bruscamente. E percebi o quão desafortunada eu era quando vi, do lado de fora, parado sob a chuva praticamente torrencial, o Padre Colin O'Callaghan.
- Pretendia entrar ou só observar de longe enquanto se consome de culpa? - perguntou ele, sério, assim que abaixei o vidro e permiti que sua voz chegasse até mim.
Era estranho vê-lo tão sério, com o semblante fechado daquela maneira. No entanto, eu reconhecia que merecia aquele tratamento. Afinal, depois de nos beijarmos tão apaixonadamente, eu simplesmente desaparecera e agora, do nada, voltava a aparecer diante de sua igreja.
Se eu estava confusa, não chegava perto da situação em que eu estava colocando o pároco.
- Eu não sei.
Minha honestidade era tudo o que eu poderia oferecer naquele momento em que meu coração pesava de culpa e conflito, ao mesmo tempo em que as borboletas se avultavam por vê-lo ali, tão perto, ainda que tão longe.
- Então entre. Precisamos conversar.
Sem dizer nada contra, retirei a chave da ignição, e o acompanhei para dentro da igreja, onde entramos não pela nave, como eu estava acostumada, e sim por um corredor completamente desconhecido para mim, identifiquei, depois de algum tempo, que deveríamos estar seguindo para os aposentos do padre. Jared ou Candice haviam comentado que havia, no fundos da enorme igreja, uma pequena casa que era ocupada pelo clérigo vigente.
O cheiro de café recém-feito chegou às minhas narinas e facilitou o meu reconhecimento. Logo o corredor se abriu em um grande jardim, onde a chuva banhava rosas amarelas, violetas e uma grama invejavelmente verde. Um casebre de pedras claras se apresentava no fim do jardim, diante de uma passagem feita com pedras redondas que levava diretamente à casa.
Atravessamos sob a chuva, o jardim e como um cavalheiro, Colin abriu a porta de sua casa e esperou que eu entrasse para fazer o mesmo. Ali dentro, de uma forma já esperada, tudo era rústico, ainda que confortável. Apesar de não seguir aquela religião, eu tinha consciência de que os padres deviam fazer um voto de pobreza, o que explicava o fato daquela pequena casa possuir apenas o essencial.
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Forgive My Sins
RomanceA um mês de seu casamento, Grace Samuels se vê ocupada com pesquisas sobre amor no Google e infinitas taças de vinho tinto ao invés de escolhas de flores e tabelas de cores, afinal, apesar de Jared Wales ser o homem perfeito, ele não dá a ela o famo...