Capítulo III

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Eu bem poderia jogar meu telefone em alguma lixeira na Avenida Bellevue e evitar as ligações constantes de minha futura sogra. Porém, ela começaria a me mandar e-mails e a minha rebeldia não teria valido de nada. Portanto, apenas suspirei e atendi o telefone, torcendo para que fosse algo rápido.

Candice não havia entendido como o meu trabalho funcionava, apesar de explicar para ela quase diariamente. Apesar de meu trabalho ser flexível, eu ainda tinha um trabalho. Meus chefes eram compreensivos o bastante para entenderem que eu precisava de algumas horas durante o expediente para resolver pendências sobre meu casamento, mas isso não significava que eu tinha todos os minutos do meu dia disponíveis para Candice.

- Temos uma emergência, Grace.

Sempre eram emergências. Uma simples escolha sobre quem sentaria onde na mesa principal já era considerado uma emergência de acordo com os parâmetros de Candice Wales.

- E o que seria? – respondi sem dar muita atenção, afinal, eu estava terminando de arrumar a casa para a apresentação que eu faria aos possíveis compradores. Era importante que a casa tivesse um clima acolhedor. Os compradores estavam interessados em um lar, e era isso que eu ofereceria a eles. Até mesmo havia levado alguns cupcakes, assados na hora, para que o cheiro doce pudesse envolver os clientes. Além disso, a lareira acesa acrescentava um charme ao ambiente mobiliado.

- A florista trouxe os modelos e eu estou muito em dúvida.

- Escolha qual lhe parecer mais bonito, sim?

- Não! Não posso fazer isso! Todos estão encantadores e eu tenho dúvidas sobre qual parecerá melhor no arranjo das mesas. Não posso escolher isso sozinha.

Eu realmente não compreendia qual era a urgência do caso. As pessoas levariam embora os arranjos de qualquer jeito, estivessem eles combinando ou não com sabe-se lá o que mais. Então de que adiantava perder o sono com essas escolhas?

- Eu irei até sua casa e juntas escolheremos o melhor arranjo.

O suspiro de gratidão de Candice já era esperado. Afinal, desde o começo da ligação, tudo o que ela esperava era que eu dissesse aquela frase e fosse até a sua casa, onde ela passaria horas falando sem parar sobre as coisas que ela mesma havia escolhido, fazendo parecer que eu mesma havia feito tais escolhas. E quando eu ousava esboçar a minha opinião, ela, com toda a delicadeza falsa que era capaz de exprimir, dizia:

- Ora, Grace, mas este não ficaria tão encantador. Reveja as opções.

E então eu era obrigada a analisar tudo de novo até concordar com minha futura sogra porque era justamente o que ela queria: o controle total.

Quando finalmente a campainha tocou, anunciando os meus clientes, agradeci por finalmente poder ocupar minha cabeça com qualquer coisa que não fosse o meu temido e tão próximo casamento.

&

Duas horas depois, com o humor um pouco melhor, já que o casal havia adorado o imóvel e decidido adquiri-lo, estacionei em frente à casa da minha sogra, preparando-me psicologicamente para o que viria a seguir.

Eu teria muita sorte se conseguisse sair daquela casa antes do anoitecer.

Devido à freqüência com que eu visitava Candice, bater à porta já não se fazia mais necessário, por isso simplesmente segurei na maçaneta, abrindo a porta, ainda que no mesmo momento, outra pessoa fizesse o mesmo.

A repetição do ato foi tão surpreendente que meu corpo pendeu para frente e quase cairia de boca no foyer atapetado da casa dos Wales, se não tivesse os braços segurados por mãos fortes e grandes.

Forgive My SinsOnde histórias criam vida. Descubra agora