Capítulo IV

5K 476 71
                                    


Diversas tendas brancas podiam ser vistas mesmo de onde Jared havia estacionado o carro. Apesar das minhas apostas, fazia um dia agradável e o sol decidira prestar uma visita aos moradores de Seatle. Apesar do dia maravilhoso, meu noivo precisaria ficar trancado em um escritório climatizado lidando com casos que me reviravam a cabeça apenas por ouvir seus comentários acerca deles.

- Você vai ficar bem?

- Claro que sim, não se preocupe.

- Se precisar de qualquer coisa, me ligue, certo?

Assenti e deixei que seus lábios tocassem a minha testa, como Jared tanto gostava de fazer. Era um beijo calmo, puro, que demonstrava todo o seu carinho por mim apenas com aquele toque.

Abri a porta do carro, descendo e acenando-lhe, enquanto meu futuro marido fazia um desvio e rumava em direção ao escritório no qual era associado, no centro comercial.

Ao mesmo tempo em que observava seu carro partir, aproveitava aqueles momentos sozinha, sob a luz da manhã, pensando em como Jared era maravilhoso. A forma como se preocupava comigo, como sempre fazia questão de demonstrar o seu afeto, eram tocantes. Ele merecia alguém que correspondesse esse amor na mesma medida. Apesar de eu sentir carinho e admiração, o amor ainda parecia tão longe.

Havia a atração física. Algo como uma paixão que me levava a tocar seu corpo com ânsia, esperando que o seu corpo abrandasse aquele calor que começava a partir de meu ventre. E Jared aplacava a ânsia, fazia com que meu corpo respondesse ao seu.

Então por que não conseguia fazer com que meu coração respondesse ao seu?

Era amor quando era incompleto daquela forma?

- Um bolinho por seus pensamentos.

Um pequeno muffin de chocolate foi estendido à minha frente e não pude evitar sorrir, mesmo sem ver quem o estendia. Mais uma vez, era como se os choques em minha pele me alertassem de sua identidade.

- Estava pensando sobre chamados de corações, padre. – respondi honestamente enquanto pegava o bolinho de suas mãos e lhe dava uma generosa mordida, uma vez que eu não tomara um café da manhã tão reforçado naquele dia. O que me fez acabar com o fofo bolinho com apenas três mordidas, sem sequer ligar para o fato de parecer uma esfomeada na frente do jovem padre.

- Talvez eu possa lhe falar sobre isso, em alguma ocasião. O sacerdócio exige um chamado verdadeiramente do coração.

Voltei-me para ele, notando como o sol daquela manhã fazia com que suas sardas se destacassem ainda mais. Seus olhos estavam apertados, uma vez que os raios solares estavam diretamente em seu rosto, e aquele gesto lhe fazia parecer ainda mais jovem, apesar de suas vestes negras e seu colarinho clerical desmentirem a sua verdadeira idade.

- Há a possibilidade do coração nos enganar? De ouvirmos errado ou sermos surdos, de alguma maneira? – perguntei enquanto andávamos calmamente em direção às tendas onde o bazar aconteceria, lado a lado, tomando o cuidado de não permitir que nossos corpos se encontrassem, sabendo, ambos, o que acontecia quando eles se roçavam, ainda que de leve.

- Eu acreditava que sim.

Sua resposta fora feita em um sussurro, a cabeça baixa, o sol fazendo o seu cabelo castanho parecer mais claro e convidativo aos dedos. Eles pareciam macios, daqueles em que os dedos escorriam sem preocupações. Minhas mãos foram enfiadas no bolso de meu agasalho, esperando que o cativeiro as impedisse de tomar vida própria e elas mesmas desejarem tocar os cabelos castanhos do Padre O'Callaghan.

Forgive My SinsOnde histórias criam vida. Descubra agora