Desde que eu fora recebido como pároco da Igreja de São Germano, as coisas seguiam um padrão: acordar, celebrar a missa da manhã, receber algumas fiéis e ouvir suas confissões, celebrar a missa da tarde, se necessário realizar algumas visitas aos paroquianos que não pudessem comparecer å igreja e finalmente dormir.
Raros eram os dias que seguiam um curso diferente deste. Aquele domingo deveria ser apenas mais um como todos os outros.
A igreja cheia era um sinônimo de alegria, mas não diferia muito de outros domingos, onde a maior parte dos fiéis compareciam em peso. O domingo, para nós católicos, era um dia muito "santo", por assim dizer.
Então por que, desde que eu acordara naquela manhã, tinha a impressão de que aquele dia não seria como todos os outros?
Antes que minha mente se enveredasse em conjecturas, a minha própria consciência respondeu. Toda aquela agitação dentro de mim tinha um nome: Grace. Desde que aquela mulher entrara em minha igreja, meus pensamentos se confundiam e eu não conseguia fazer nada que não fosse pensar em seus olhos expressivos e sua boca.
Guardar todos aqueles pensamentos enquanto o sacerdócio pesava sobre minha cabeça, me permitindo lembrar de minha escolha a cada vez que eu olhava para mim mesmo usando meu colarinho clerical, era basicamente impossível. Eu sentia vontade de gritar e maldizer alguém.
Ler as palavras Dele também não me foi de muita ajuda. Em muitos momentos me entreguei å pensamentos, acreditando que Grace era para mim, o que o diabo fora para Jesus durante quarenta dias no deserto. Como eu poderia tirar aquela mulher dos meus pensamentos, por Deus?
O canto do coral atravessava as paredes e chegava até mim enquanto eu terminava de vestir minha batina e ajustava minha estola verde, escolhida especialmente para a celebração daquela manhã.
- É apenas mais um dia, Colin. Apenas mais um dia.
Mesmo tentando me tranquilizar, a ansiedade não deixou o meu corpo e, ouvindo os sons do lado de fora da sala, soube que era hora de focar minha energia em outra coisa que não fosse naquela mulher e no que fazia com meus pensamentos. Era hora de celebrar uma missa e a igreja estava particularmente cheia, eu tinha que dar o meu melhor.
Não apenas porque era o que os fiéis esperavam, mas porque aquela era a minha escolha. Há anos atrás, quando eu havia decidido que o sacerdócio era a minha vocação, eu havia prometido - para mim e para Deus - que faria o melhor. Que daria tudo de mim por Ele. E isso era o que eu faria, mais um dia.
A voz de Candice Wales se propagava pela capela como se ela fosse a dona desta e eu apenas sorri, sabendo que nada havia mudado. Era apenas mais um domingo, como todos os outros.
Dei a volta pela igreja, posicionando-me em suas entradas principais para o rito de abertura, como fizera inúmeras vezes. Meus dois coroinhas sorriram e respondi da mesma maneira, mais calmo, sabendo que ali não era mais Colin, o homem cheio de pensamentos e que estava rezando para São Judas iluminar seu coração, dando-lhe clareza. Ali, de pé, diante daquela igreja, eu era o Padre O'Callaghan e essa era a única persona que eu poderia assumir, a partir daquele momento.
O coro entoou a música conhecida e, de dentro da Igreja, as pessoas levantaram-se, preparando-se para a minha entrada. Fiz uma prece rápida e segui meu caminho, sorrindo para algumas pessoas atrasadas que corriam para entrar antes de mim, acreditando ser um sacrilégio entrar na Igreja depois que o padre o fizesse.
Andei apenas alguns passos antes de sentir algo que me fez parar.
Era quase como se houvesse algo me impelindo a olhar para a esquerda, como se um imã me puxasse para aquela direção ainda que meu caminho fosse a frente, até o altar. Era quase como se eu pudesse ouvir o meu nome ser chamado, ainda que ninguém houvesse dito uma só palavra.
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Forgive My Sins
RomanceA um mês de seu casamento, Grace Samuels se vê ocupada com pesquisas sobre amor no Google e infinitas taças de vinho tinto ao invés de escolhas de flores e tabelas de cores, afinal, apesar de Jared Wales ser o homem perfeito, ele não dá a ela o famo...