Cap. 8- Mordida

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Acordei com uma visão embaciada e turva, cheirei o ar e olhei em volta, pestanejando vezes sem conta.

Tive um sonho muito estranho. Estava numa floresta sombria, com árvores repletas de ramificações que se distendiam para o alto, criando sombreados que me repeliam de mado... andava sozinha e sentia-me a ser vigiada, para onde quer que olhasse via um par de olhos cor de mel e ouvia também um rosnado doce e protector que me acalmava instintivamente. Finalmente cheguei a um precipício e fui mordida no pescoço por um lobo de dois metros, totalmente branco e muito bonito, com uns olhos azuis profundos que me faziam tremer de melancolia.

Poderia ter ficado chateada com ele, mas... mas agradeci-lhe, só não sabia exactamente porquê.

Levantei-me bruscamente da cama ao lembrar-me de tal sonho, e vagueei pelo quarto, muito desnorteada.

Assim que voltei a mim, tomei um duche para acalmar a dor estranha que sentia no pescoço e vesti umas jeans de ganga escura todas rasgadas, com uma camisola dos meus adorados Beales. Lavei os dentes, e por fim desci para a cozinha.

Estava sem apetite então segui logo para a escola. A minha tia ainda não havia chegado? Muito estranho...

Cheguei à escola a tremer, com medo de ver Isaac pelo caminho, mas sabia que já estava enterrada num enorme buraco, uma vez que ele era da minha turma em todas as disciplinas. Passei pelos corredores com um sorriso pobre, e sem querer esbarrei contra alguém, que logo me envolveu nuns braços fortes e pálidos, embora quentes e reconfortantes.

-Desculpa, estava distraída - Fitei aqueles olhos azuis muito bonitos e lembrei-me imediatamente do lobo do meu sonho.

-A culpa foi minha - Sorriu-me - O meu nome é James.

-Luna - Estendeu-me a mão e eu apertei-a.

-Bom... Luna, a gente se vê por aí - Deu meia volta e parou de costas para mim, depois sussurrou muito baixinho, tão baixinho que não sei como ouvi: - Mais cedo do que você pensa.

Encolhi os ombros, sem entender nada, e segui para a aula de Matemática. No meio da aula comecei a sentir-me mal e enjoada, por isso pedi à professora para sair e fui à enfermaria.

-Já foi fazer exames? - Perguntou-me a enfermeira.

-Não faço à muito tempo... - Admiti.

-Muito bem, deve ir urgentemente a um médico.

-Ok... - Fiquei com uma sensação estranha e desci da marquesa onde estava sentada.

-Vou marcar-lhe já consulta para as 6 horas do dia de hoje, pode ser?

-Sim.

-Por agora vá descansar para casa - Despediu-se de mim e fui embora para casa.

Quando chegaram as 6 horas encaminhei-me para o Hospital central da cidade, e aguardei o meu lugar, quando finalmente ouvi uma mulher chamar meu nome, entrei num consultório muito bonito e acolhedor.

-Bom, vamos fazer-lhes alguns exames e verificar se está tudo bem...

Passados 58 minutos...

-Menina Luna, temos uma notícia um pouco chocante para lhe dar - Afirmou o médico, levando-me a sentar numa cadeira confortável, depois olhou para um papel que tinha nas mãos.

Sentou-se à minha frente e olhou-me com uma cara de pena.

-À quanto tempo não faz exames?

-Muito...! À mais de 7 anos.

-Eu não sei como lhe dizer isto - Esfregou as têmporas e tornou a olhar com pena, imensa pena.

-Vá logo direito ao ponto - Apertei as mãos contra o peito e respirei, ofegante.

-Você tem cancro de pulmão - Concluiu, por fim.

-Ah... - Múrmurrei enquanto uma lágrima deslizou por meu rosto. Esfreguei-a rapidamente.

Não posso descrever o que senti, mas não podia acreditar, aquilo devia ser um sonho e eu iria acordar, agora... não, agora!!! Mas nada! Fechei os olhos, tornei a abri-los, belisquei as pernas para ter a certeza de que não sonhava, mas não... estava bem acordada e em desespero, em estado de choque!

-Acalme-se, podemos sugerir-lhe vários tratamentos - Disse o médico e a voz entrou-me turva na cabeça.

Comecei a ver tudo desfocado e finalmente se converteu num preto... Desmaiei.

........

Acordei em casa com a minha tia ao pé de mim, debruçando-se sobre a cama e expulsando várias lágrimas dos olhos.

-Meu amor, desculpa só ter chegado agora - Abraçou-me e chorou ainda mais - Eu prometo que arranjarei uma maneira de te curar, de fazer tudo passar!!!

Olhei em volta, o ar estava tenso e triste, silencioso até ao momento em que ouvi um sussurro no meu ouvido com uma voz rouca e que me era desconhecida "Eu vou-te ajudar minha pequena". E logo apaguei de novo.

Vigiada- (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora