Capítulo III - Conhecendo o campo inimigo

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Depois de algum tempo no emprego, sinto uma conformidade absoluta em relação à minha rotina e meus companheiros de trabalho, e chego à conclusão de que não é tão difícil assim ter que conviver com dois homens atraentes e lindos todos os dias.

As horas são muito corridas e agradeço a Deus por ter a companhia de Benjamim, que é o aposto de Apollo em educação e gentileza.

— Senhorita Miller, em cinco minutos preciso de você e uma xícara de café em minha sala, imediatamente e sem atrasos. Cinco minutos, entendeu?

Rapidamente, Apollo se afasta sem olhar para trás, bate com força a porta de sua sala e, antes de fechar as persianas para evitar os olhos dos curiosos como os meus, abre uma fresta entre elas e me encara com seu duro olhar durante alguns segundos.

Levanto-me e, enquanto vou em direção à copa, noto que Apollo desapareceu sala adentro; sinto um friozinho no estômago com o barulho da porta ao se abrir no instante em que acabo de dizer.

— Boa tarde para você também, senhor estressadinho!

— Disse algo, senhorita Miller?

— Me desculpe, estava somente pensando alto! Já estou indo buscar o seu café.

— Já ouviu o ditado que dizem que as paredes têm ouvidos? — Apollo diz, cruzando os braços demonstrando certa irritabilidade com meu comentário.

É indiscutível o fato de que tem o dom de deixar as pessoas extremamente desconsertadas; principalmente, quando se trata de mim.

Por não conseguir identificar se está nervoso com algo que fiz de errado no trabalho ou se é puramente por hobby, como faz em quase todas as vezes que nos cruzamos, evito fazer qualquer questionamento a respeito do que foi dito e decido seguir meu caminho sem me atrever a mencionar exatamente nada.

— Cuidado com o que diz, ou pode se prejudicar, Alicia!

Com medo e irritada ao mesmo tempo com seu jeito bipolar de ser, dou as costas e sigo rumo aos corredores, tomando o cuidado e me esforçando ao máximo para não olhar para trás, embora eu tenha a certeza que esteja recostado na porta, rindo de minhas bochechas rosadas com a latente timidez que sinto por estar constrangida.

Bato por três vezes na porta e o ouço responder do outro lado que posso entrar; então, giro a maçaneta meio desengonçada com a bandeja entre as mãos e empurro-a com a ponta do pé.

Apollo, sentado de costas, se assusta com o tremendo barulho e se vira para verificar o que estava acontecendo quando me vê de bunda no chão e todo o seu café esparramado no carpete da sala.

— É incrível como é atrapalhada!

Bendita hora em que tive a ideia de usar os pés e não as mãos como qualquer outro ser humano para fechar a porta. Se arrependimento matasse, com certeza estaria morta e enterrada.

— Me desculpe, eu vou limpar essa bagunça!

O chão está coberto por cacos de vidro quando me ajoelho para recolher e colocar na bandeja de volta, só que agora não como uma xícara inteira, mas sim espatifada em milhares de pedaços por eu ser desajeitada.

— Ai! — Reclamo automaticamente ao cortar a ponta do dedo em um dos cacos espalhados a minha volta. Por instinto, levo o dedo até a boca, a fim de estancar o pequeno sangramento que começa a se formar em minha pele.

Quando dou por mim, Apollo está ajoelhado em minha frente, me olhando com um misto de preocupação e desejo, deduzo eu, já que o percebo me olhar com certa avidez, o que para mim é uma cena deplorável ao chão de sua sala.

Amor Irreal - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora