Depois de algum tempo no emprego, sinto uma conformidade absoluta em relação à minha rotina e meus companheiros de trabalho, e chego à conclusão de que não é tão difícil assim ter que conviver com dois homens atraentes e lindos todos os dias.
As horas são muito corridas e agradeço a Deus por ter a companhia de Benjamim, que é o aposto de Apollo em educação e gentileza.
— Senhorita Miller, em cinco minutos preciso de você e uma xícara de café em minha sala, imediatamente e sem atrasos. Cinco minutos, entendeu?
Rapidamente, Apollo se afasta sem olhar para trás, bate com força a porta de sua sala e, antes de fechar as persianas para evitar os olhos dos curiosos como os meus, abre uma fresta entre elas e me encara com seu duro olhar durante alguns segundos.
Levanto-me e, enquanto vou em direção à copa, noto que Apollo desapareceu sala adentro; sinto um friozinho no estômago com o barulho da porta ao se abrir no instante em que acabo de dizer.
— Boa tarde para você também, senhor estressadinho!
— Disse algo, senhorita Miller?
— Me desculpe, estava somente pensando alto! Já estou indo buscar o seu café.
— Já ouviu o ditado que dizem que as paredes têm ouvidos? — Apollo diz, cruzando os braços demonstrando certa irritabilidade com meu comentário.
É indiscutível o fato de que tem o dom de deixar as pessoas extremamente desconsertadas; principalmente, quando se trata de mim.
Por não conseguir identificar se está nervoso com algo que fiz de errado no trabalho ou se é puramente por hobby, como faz em quase todas as vezes que nos cruzamos, evito fazer qualquer questionamento a respeito do que foi dito e decido seguir meu caminho sem me atrever a mencionar exatamente nada.
— Cuidado com o que diz, ou pode se prejudicar, Alicia!
Com medo e irritada ao mesmo tempo com seu jeito bipolar de ser, dou as costas e sigo rumo aos corredores, tomando o cuidado e me esforçando ao máximo para não olhar para trás, embora eu tenha a certeza que esteja recostado na porta, rindo de minhas bochechas rosadas com a latente timidez que sinto por estar constrangida.
Bato por três vezes na porta e o ouço responder do outro lado que posso entrar; então, giro a maçaneta meio desengonçada com a bandeja entre as mãos e empurro-a com a ponta do pé.
Apollo, sentado de costas, se assusta com o tremendo barulho e se vira para verificar o que estava acontecendo quando me vê de bunda no chão e todo o seu café esparramado no carpete da sala.
— É incrível como é atrapalhada!
Bendita hora em que tive a ideia de usar os pés e não as mãos como qualquer outro ser humano para fechar a porta. Se arrependimento matasse, com certeza estaria morta e enterrada.
— Me desculpe, eu vou limpar essa bagunça!
O chão está coberto por cacos de vidro quando me ajoelho para recolher e colocar na bandeja de volta, só que agora não como uma xícara inteira, mas sim espatifada em milhares de pedaços por eu ser desajeitada.
— Ai! — Reclamo automaticamente ao cortar a ponta do dedo em um dos cacos espalhados a minha volta. Por instinto, levo o dedo até a boca, a fim de estancar o pequeno sangramento que começa a se formar em minha pele.
Quando dou por mim, Apollo está ajoelhado em minha frente, me olhando com um misto de preocupação e desejo, deduzo eu, já que o percebo me olhar com certa avidez, o que para mim é uma cena deplorável ao chão de sua sala.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Irreal - O Despertar
ChickLitAlicia só desejava esquecer o terrível passado e colocar tudo em seu devido lugar, após a perda da mãe. Mudar para uma nova cidade, aprender a viver sozinha e iniciar em um novo emprego. Começar tudo do zero era o que queria de todo o coração, mas e...