Capítulo V - Armadilhas de Apollo

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Enquanto esperamos o manobrista trazer o carro, sinto o vento gelado de uma madrugada impiedosa soprar e fazer meu rosto congelar, acompanhado de um calafrio que percorre por toda extensão do corpo.

Encolho-me no peito de Henry como um escudo em defesa de algo ruim que estivesse acontecendo. Por fim, o carro chega e Henry abre a porta da mesma forma de quando chegamos ao bar.

Antes que conseguisse entrar no carro, ouço gritos e xingamentos ao fundo e viro-me para ver o que está acontecendo.

— Onde pensa que vai, Alicia? Me beija, me usa e depois joga fora?

— O que está acontecendo? — pergunta Henry, confuso.

— Como assim me beija, usa e joga fora? Você está ficando louco, só pode! — respondo com indignação a Apollo.

Como se não bastasse acabar com minha autoestima me humilhando de tal forma como um cachorro com sarna, quer acabar também com minhas verdadeiras amizades.

Primeiro com Bia e agora com Henry. Eu não consigo acreditar nas coisas que esse homem impiedoso é capaz de fazer para me maltratar desde quando me viu pela primeira vez.

— O que está acontecendo é que ela não é para o seu bico, otário! É melhor você ir embora antes que eu faça um estrago em seu carro — Apollo ameaça Henry sem o menor receio de acabar com o nariz quebrado por um soco certeiro.

— Alí, resolve o que você tem para resolver e depois nos falamos com calma. — Henry bufa impaciente e sei que por muito menos sairia aos socos com Apollo, mas me respeita o suficiente para não fazer tal papelão.

Henry entra no carro, bate com força a porta e sai cantando pneu tão depressa que não há tempo de dizer nada em minha defesa.

Apollo sorri como se tivesse ganhado na loteria enquanto mantém seu olhar perverso de pura maldade em minha direção.

O que acabara de acontecer era o que eu chamava de "meu nível máximo de estresse", mas com essa situação, o estresse passou para um estágio maior, chegando quase a um colapso nervoso em último grau de fúria.

A situação se tornara ainda mais crítica e descontrolada quando damos início a um show de loucura em meio à rua. Gritos e sessões de tapas com todos à nossa volta prestigiando o pequeno espetáculo que encenamos de forma gratuita.

Minhas atitudes eram totalmente impensáveis e sem controle. A cada segundo que se passava diante as loucuras de Apollo, mais estressada eu ficava com sua perseguição desenfreada.

— Nunca fiz nada a você e se comporta como se tivesse ódio mortal da minha existência? Precisa se decidir Apollo se me maltrata ou se me trata bem, pois sinceramente você é confuso demais para tentar compreender!

— Se ódio para você for igual a desejo descomunal sem controle e reprimido, essa é a resposta para sua pergunta!

— POR QUÊ? — Esbravejo, exigindo uma resposta enquanto vou para cima dele novamente com mais pancadaria.

Não sei se o motivo foi o álcool em minha corrente sanguínea ou o nervoso que acabara de passar, mas sinto uma grande onda de pontadas no peito e minhas pernas ficam totalmente trêmulas no instante que perco a consciência e despenco ao chão em um desmaio profundo.

— Como você é ridícula, Alicia! Todos estão nos observando. Levanta logo! Você precisa de um bom banho para passar essa bebedeira.

De princípio, Apollo achou que fosse parte do espetáculo toda a cena de dramaturgia que atuamos. Mas quando chamou de novo e nada ouviu em resposta, sua preocupação começou a aflorar.

Amor Irreal - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora