Capítulo VII - Companhia Indesejável

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No dia seguinte, quando acordo, as lágrimas estão mais estáveis comparadas ao dia anterior, mas mesmo assim, decido continuar deitada durante todo o dia, pensando no buraco negro que estou me enfiando.

Sinto o corpo doer, como um resfriado que se aproxima, em poucas vezes que me levanto da cama, apenas para tomar café, almoçar um macarrão instantâneo e ir hora ou outra ao banheiro para eliminar as necessidades físicas.

Abro os olhos vagarosamente no final da tarde a fim de verificar o horário, e me dou conta do tamanho do desânimo em enfrentar um jantar pela frente com Benjamim tentando a todo o momento fazer todas as minhas vontades a qualquer custo.

Decido ligar e reclinar ao convite, pois não estou em meus melhores dias, além de soar como falsidade sair com Benjamim uma noite depois em que quase me entreguei à Apollo.

Sem saber do real motivo, Benjamim me convence usando o argumento de que é pior virar as costas para o problema e se trancar em casa para chorar do que enfrentá-los com segurança e inteligência. Afinal, a vida é curta e precisamos fazer o possível para que valha a pena e sei que no fundo ele tem razão.

Ás oito em ponto, Benjamim bate à porta. Quando saio ao seu encontro, ouço um sincero elogio e sinto que a noite pode ser diferente do desânimo que permaneceu durante todo o dia.

─ Está encantadora como sempre, só que hoje um pouco mais que ontem!

— Obrigada! Você também não está nada mal! Onde vamos jantar?

— Surpresa para a mais bela das gardênias!

Ele é um espetáculo de homem gentil! Usa uma calça jeans escura, com uma camisa meia manga dobrada até os cotovelos, sapatos impecavelmente lustrados e um perfume de arrepiar qualquer mulher à sua volta.

Optei por um vestido modelo clássico preto, com peep toe na cor champanhe, bolsa de mão na mesma tonalidade, os brincos de pérolas da minha adorável mãe e um leve coque no cabelo, deixando o pescoço totalmente à mostra.

O restaurante é fabuloso, iluminado por grandes luminárias com lindos detalhes em cristal e jardins de inverno por todos os lados. No alto do vigésimo andar, conseguimos apreciar uma cidade que não para nunca, com inúmeros carros nas ruas, prédios, arranha-céus e, como toque final, as luzes de São Paulo acesas em sua escuridão da noite.

— Olá, boa noite! Reserva em nome de Benjamim Becker, por favor.

— Pois não, senhor, queira me acompanhar por gentileza!

— Benjamim, é tudo tão magnifico! Esse lugar deve ser caríssimo!

— Não se preocupe, Alí. Hoje você merece cada centavo do planeta por estar tão exuberante, deixando meus olhos felizes em face da sua beleza feminina.

Em resposta, dou um sorriso afetuoso a uma das pessoas mais maravilhosas que conheci na vida.

— Alí, o que gostaria de tomar? Vinho ou champanhe?

— Acho que um bom vinho é tudo o que desejo.

— Hoje é sua noite de escolha, anjo; portanto, o que quiser tomar eu a acompanharei com enorme prazer!

— Desse jeito ficarei mimada com tantos mimos.

Benjamim olha a carta de vinhos e decide pedir um Château Mouton-Rothschild safra de 1982. Segundo sua explicação, a bebida é mais velha que nós mesmos e, por esse motivo, julga que deva ser um dos melhores vinhos do restaurante.

A imagem de um ser tira totalmente minha atenção e, a essa altura, eu já perdera até o apetite.

— Bia, venha até aqui! Gostaria de lhe apresentar um amigo em especial.

Amor Irreal - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora