Sou a Helanor. Ao contrário do meu nome, não sou forte e nem bonita. Sou mais uma na multidão, não chamo atenção dos meninos, não tenho nenhuma grande qualidade... não sei atuar, cantar... dançar? Muito menos. Todas as meninas ao meu redor, pareciam ter saído de algum filme, eram lindas, carismáticas, engraçadas, cheirosas... As malditas não pareciam nem suar, ao se exercitarem. Como isso é possível? Parece que pra elas tudo era perfeito, inclusive a puberdade. Tipo naqueles sonhos de que quando você fechar os olhos e abrir, vai estar magra, peituda, com a cintura fina, o quadril largo e um bumbum gostoso? Então, pra mim não havia sido assim. A puberdade só havia me trazido tpm, espinhas, muitos medos, inseguranças. Mas foda-se, nunca dei a mínima pra isso, sempre aceitei que aquela era quem eu era. Morava desde pequena em Maresias, e aqui sou considerada a "estranha", que sempre preferia seus fones de ouvido as pessoas. Hmmm, se eu gostava das pessoas de lá? Gostava sim, de todas mortas e amarradas dentro de um saco. Hahaha, brincadeirinha, mas ainda preferia a música. Meus pais, e meus três irmãos salvavam, eram a única coisa que me prendia lá. Todo meu afeto era deles. Pra nos sustentar na nossa escolinha de elite, nossos pais tinham uma academia de luta, onde meu pai Hector era o mestre e meus irmãos Hans, Zark, Max eram instrutores e treinavam para serem lutadores. Junto à academia, a lanchonete ficava por conta da minha mãe e muitas das vezes, minha. Nosso lucro no final do mês, era revertido em estudos pro Max, que tinha 17 anos e estava no terceiro ano e pra mim que tinha 16 no segundo ano, além disso pagávamos aluguel da casa e do estabelecimento da academia, mesmo sem luxos vivíamos bem. Um respeitando o outro, e tentando levar nossa vida simples da melhor maneira possível.
(...)
Acordei com o meu despertador tocando "highway to hell", que era perfeita para o que eu faria a seguir, ir pra escola. Mesmo preferindo morrer, me levantei da cama e fui para o banheiro. Parei na frente do espelho, analisando aquele reflexo descabelado, com o rosto inchado, e com a maquiagem de ontem borrada. {Deus, porque você não me deu o dádiva da beleza, e facilitou tudo pra mim?... Será que tem alguma coisa pra acabar com essas olheiras?... Que merda de espinha é essa aqui? De onde isso surgiu? Argh, foda-se, pelo menos o cabelo da pra arrumar}. Penteei com dificuldade nos lugares embaraçados, depois de travar uma verdadeira luta, consegui prender o cabelo em um rabo de cavalo. Remontei a make de ontem, isso quer dizer que passei mais lápis preto nos olhos. Isso me fazia parecer ainda mais louca, emo, estranha, e eu até curtia. Escovei os dentes e vesti a primeira roupa limpa que vi, peguei a mochila, meu celular e fui pra cozinha. (Izabel): ainda não to aguento ver esse seu olho preto logo de manhã, isso está fechando sua energia minha filha - minha mãe era completamente good vibes... sabe daquelas vegetarianas, que acendem incenso pela casa, e aplaudem o sol? Então... bem assim. Por outro lado, meu pai era perfeccionista, observador e exigente. Muito relacionado ao seu dom, a luta. (Héctor): deixa a menina fazer o que ela quer Bel... Bom que ela fica com cara de mal! - fechou a cara e eu também em resposta, depois nós rimos da nossa própria brincadeira - (Helanor): Mãe, juro que vou parar - respondeu apenas me negando com a cabeça, depois tomou um gole do seu copo de café - vou pra aquele inf... - parei a palavra inferno, ao receber um olhar duro de ambos - fala pro Max me alcançar no caminho (Hector): come pelo menos uma fruta - jogou no ar e peguei no reflexo - você está mais ágil, Helanor, gostei (Izabel): nem começa, minha filha não vai ser lutadora também (Hector): ela tem jeito pra coisa, não adianta fugir, tá no sangue (Izabel): nem pensar - cansei de ouvir as argumentações e os deixei sozinhos, nem perceberam minha saída na verdade. Minha mãe não era a favor das lutas, sempre disse que fomentava a violência, meu pai adorava e ficava extasiado em pensar que todos seus filhos poderiam ser lutadores. Infelizmente pra ele, eu não tinha o dom dos meus irmãos. Como já disse, sou normal. {Mais uma segunda-feira, argh...}, pensei parada à frente da escola.
(Max): não me esperou pirralha (Helanor): me alcançou mesmo assim - continuei olhando os alunos entrarem na escola, impressionada em perceber que todos eram fúteis... o único papo era o que fizeram no final de semana "aí, fui pra Búzios, dei um pulinho em NY, fiz compras, beijei não sei quem" {tanto blablabla... povo inútil} - quer matar aula? - perguntei quase em súplica - (Max): tá doida? - passou o braço sobre meu ombro e foi me arrastando pra dentro - tá acabando o ano, Nono... você tem que se abrir pra fazer amigos, você que se exclui (Helanor): pra fazer amizade com eles vou ter passar por cima de tudo que eu penso, e não suporto? Obrigada, não - ele respirou fundo e por fim me soltou - (Max): tudo bem, agora vai pra sua sala - bagunçou meu cabelo e me empurrou na direção da porta - (Helanor): para Max!!! - fechei a cara pra ele, que apenas riu e foi pra sua sala, ajeitei o cabelo e entrei na minha, direto pra meu lugar de praxe no fundo da sala. Ainda haviam poucos alunos na sala, os mais estudiosos, os quietinhos, os populares se reuniam no pátio para se lamberem. Enquanto não chegava nenhum professor, liguei uma música e coloquei meus preciosos fones de ouvido, deitei a cabeça na mesa e o mundo fora do que eu ouvia, não existia pra mim.
Senti um cutucão no ombro e rapidamente olhei pra direção de onde vinha, ao mesmo tempo tirei os fones. (Luana): Bom dia gótica, como foi seu fim de semana? Passeou muito no cemitério? - olhei aquela figura loira de cima em baixo com ar de desprezo, na minha mente passavam todos os tipos de insultos que eu queria fazer a ela, mas apenas virei meu olhar pra frente, sem dizer nada. Haviam pessoas ao redor, os amiguinhos babacas, todos rindo de mim. Típico. (Karla): Não vai responder nada urubu? - os outros panacas que estavam riram que nem hienas - (Luana): Urubu foi ótimo! - bateram as mãos se vangloriando de mais uma humilhação que protagonizavam juntas. Me mantive estática, por dentro meu ódio por elas me consumia, tudo que passava pela minha cabeça era: raiva, porrada, facas, sangue, mais sangue, mais raiva. Estava involuntariamente segurando as bordas da minha carteira, com força excessiva, como se tentasse canalizar a energia que preferia estar dissipando na cara delas. (Professor): Por que esse tumulto aí atrás? Todos para suas carteiras - eles começaram a sair de perto, só aí consegui respirar de verdade. {Não pira, Helanor. Se segura, já passou!} Inspirei, expirei. Meus olhos foram até elas, que riam com deboche. {Passou, é o caralho!} Empurrei minha mesa, fui correndo pra cima delas como uma louca, cega de ódio, puxei o cabelo das duas e as derrubei ao mesmo tempo. Mantive as duas lá, e com uma força que não era minha bati nas duas o máximo que pude, não sabia o que estava fazendo, eu estava sendo comandada pela raiva e por toda mágoa, humilhação, tristeza que aquelas duas já haviam me provocado.
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p.s.: fui pra longe daqui
FanfictionHelanor é a perfeita personificação da rebeldia, mas dizem as más línguas que é a rebeldia mais doce que já se viu e quem quer aproveitar cada segundo disso, é um certo Gabriel...