15. Convicção

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Quando eu era criança, sempre gostei de brincar de dar aula, chamava meus primos e primas, e cheguei até a comprar uma caixa de giz para "dar aula" para eles. Até que uma vez, e depois por sucessivas vezes, ouvi de minha mãe as seguintes palavras:
- Vamos acabar com isso e vai arranjar outra coisa pra você brincar. Isso é brincadeira de homem?

E isso me machucou. Muito. Parei de querer ensinar. Parei de brincar. Me isolei. Até que comecei a me interessar por informática. E aprendi muito sobre tecnologia. Cresci um pouco e todos que tinham problemas me chamavam para consertar seus computadores.
Minha prima, então, pediu para que eu desse aula para a filha dela. Eu pensei muito e aceitei. E me dei super bem. Mas eu ainda estava machucado. Magoado. E pensando nas palavras que eu ouvira. Abandonei-a. Desisti mais uma vez de uma pessoa por algo me disseram.
Sempre gostei de cantar, vivia cantando no chuveiro, e quando aprendi inglês, vivia cantarolando por aí.

Até que, um dia, uma pessoa que eu namorava virou pra mim e disse:
- Cara, você não serve pra cantar. É muito ruim.

Mais uma vez, de quem eu menos esperava, eu havia levado uma facada na alma.

Parei de cantarolar, até mesmo no chuveiro. Eu tinha vergonha de falar, pensando ser dono de uma voz horrível.
Passados algum tempo, tive uma nova oportunidade de ensinar, hesitei, mas aceitei, e hoje sou um dos melhores professores de onde trabalho e um dos mais bem falado. Os alunos, até os que não são meus, gostam de falar e estar comigo. E advinha quem se orgulha de mim hoje? Exatamente. Minha mãe. Aquela que disse que não era coisa pra mim.

E quer saber outra coisa?
Comecei a cantar novamente e ouvir as pessoas dizerem que canto muito bem.
E o que eu aprendi com tudo isso? A não viver uma vida que não é minha, somente para que os outros se sintam bem, se sintam privilegiados. Aprendi a viver meus sonhos, e não deixar ninguém sonhar por mim. Aprendi que posso cantar sim, e posso até ser muito ruim, mas contanto que eu me sinta bem e esteja convicto do que eu quero, nada mais importa, e a opinião e aceitação dos outros é apenas um bônus.

- Emm Rocha

Cartas inspiradoras.
Para E. C.

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