Amor pela Floresta

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Ao mesmo tempo que Johanna começava a sua rotina diária, Peter também acordava com o barulho da manhã. O despertador tocou e lembrou-se de que era o primeiro dia de aulas do décimo segundo ano. Cheio de energia, levantou-se da sua pequena cama de solteiro e abriu a janela da sua velha casa e deixou a luz invadir o seu quarto maioritariamente azul. Olhou para a floresta que se estendia à sua frente e suspirou. Nos tempos livres, aquela floresta era o seu refúgio do mundo exterior. Peter gostava de se sentar à beira do tronco de algum pinheiro e de ouvir os sons provenientes dos animais que habitavam aquela floresta. Ele não tinha medo, até pelo contrário, já que considerava os animais como seus amigos.
-Peter, já estás acordado? Tens que ir para a escola- disse-lhe a mãe.
Peter limitou-se a acenar afirmativamente com a cabeça, sem se abstrair dos seus pensamentos mais profundos. Voltou a suspirar e arranjou-se para o começo de um grande dia.
-A Chloe esteve cá ontem à noite.- disse a sua mãe quando entrou na cozinha.
Aquela abordagem por parte da mãe pareceu-lhe estranha. A sua mãe não gostava da namorada, Chloe, por achar que era muito superficial. Na noite passada tinha estado na floresta a observar os animais, apesar da escuridão. Mesmo sabendo que Peter conhecia a floresta melhor que a palma da sua própria mão, a mãe nunca ficava completamente descansada até o filho chegar a casa são e salvo. "Tens que ter cuidado com os lobos, Peter. Aquelas criaturas são terríveis.", no entanto, o filho não partilhava a mesma opinião. A sua parte preferida de estar na floresta era ouvir o uivar dos lobos e imaginá-los a caçar. A primeira vez que um lobo se tinha aproximado dele, Peter tinha achado melhor voltar para casa, antes que algo de mal lhe acontecesse. Era necessário ganhar confiança dos animais. Nunca esqueceu o lobo que viu nesse dia. Estava escuro, por isso não percebeu se era macho ou fêmea, mas os olhos azuis tinham-no hipnotizado e podia dizer que o pêlo daquele animal era tão brilhante que era capaz de refletir a luz da Lua.
-O que queria ela de mim? Por que só me avisou agora que ela esteve cá?
-Chegaste tarde e não te quis incomodar.
-A Chloe nunca é um incómodo, mãe.- os olhos castanhos de Peter, com um toque da cor de mel, encheram-se de frieza.
Peter abriu um armário e tirou de lá a sua chávena de eleição: com fotos suas e de Chloe abraçados, a beijarem-se ou simplesmente a rirem-se de algo bastante engraçado. Preparou café e encheu a chávena. Encostou-se ao balcão da cozinha, com as pernas cruzadas e esperou que a mãe falasse, enquanto bebericava o seu café.
A mãe de Peter puxou de uma cadeira e sentou-se com as mãos cruzadas sobre o colo. Ela era a única pessoa que Peter tinha. Vivia sozinho com a mãe desde pequeno e não sabia do pai, que os tinha abandonado quando ele nascera. Era compreensível que a velha senhora se preocupasse com o seu único filho. Peter não gostava de apoquentar a mãe, pois já tinha sofrido de vários AVC e ataques cardíacos, por isso, preferia guardar tudo para si mesmo. É claro que essas precauções nem sempre surtiam efeito, já que passava quase todas as noites enfiado na Floresta Grey, rodeado de lobos e outros animais selvagens.
-Ela disse que precisava de falar contigo, e que tu não ias gostar da conversa.
Peter suspirou. Afastou-se do balcão e ajoelhou-se aos pés da mãe.
-Mãe, ela não lhe disse mais nada?
Com a cabeça voltada para o chão, acenou apenas.
-Eu falo com ela hoje na escola. Vai ser um longo dia.
Peter acabou de comer o seu pequeno almoço, lavou a loiça que sujara e despediu-se da mãe com um beijo fugaz na face. Como estava atrasado, saiu a correr de casa, sem ter tempo para admirar os altos pinheiros da floresta cobertos de neve e gelo.

Out of the WoodsOnde histórias criam vida. Descubra agora