Destino cruel

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Eu morri a alguns anos atrás. Sim, morri. Vinte segundos do outro lado e voltei, duas vezes.

Era por volta da meia noite e nosso carro tombou na estrada, meus pais estavam nervosos e haviam discutido alguns minutos antes. Meu irmão mais velho estava no banco de trás comigo, minha mãe, grávida de gêmeos, no banco do carona. Papai se distraiu por dois segundos e o carro capotou.

Não me lembro de nada sobre minha vida antes de acordar do coma, de quase um ano, no hospital regional. Só tenho flashes e pesadelos sobre o acidente.

Mas antes de entrar em coma tive duas paradas cardíacas morri e revivi duas vezes.

Dizem que minha mãe ficou presa nas ferragens agonizando e perdendo sangue por horas até morrer, não conseguiram salvar os bebês, meu irmão e meu pai morreram na hora, crânio amassado e coraçao perfurado.

Eu tinha sete anos.

Depois do acidente as coisa se complicaram, morei em vários orfanatos, casas para delinquentes, na rua. Minha vida é realmente uma porcaria.

Hoje que tenho 19 anos, sou mais responsável, aluguei um apartamento perto do centro, trabalho em uma boate e não dependo mais do estado.

Sempre consegui me virar sozinha. Terminei a escola no ano passado mas não consegui nenhuma bolsa para universidades e também não tenho dinheiro para pagar. Agora pretendo fazer minha vida, Adam é gentil e disse que vai me dar um aumento, ele disse que só preciso servir as bebidas, as outras garotas precisam tirar a roupa e as vezes até mesmo fazer programas. Eu sou só a garota das bebidas.

( ...)

- Ximena! Tem clientes implorando no balcão pelos seus drink's - Adam me puxa pela porta de trás e me leva até o meu local de trabalho. - Hoje a casa está cheia! - Grita feliz.

- Olá rapazes! - Cumprimento os homens me esperando enquanto tiro meu sobretudo.

Nos palcos vejo as outras garotas, glamurosas e sexy's, dançando e tirando suas roupas, algumas já nuas.

- Quero Whisky, gata. - Um homem de aparêcia de uns quarenta e poucos anos se antecipa.

- Gata? - Olhei-o irritada.

- Prefere que te chame de gostosa?

- Vá se fuder velho nojento! - Mostro a ele o dedo do meio e atendo outro cliente.

- Vou reclamar com seu gerente, sua puta! A hora que gozar na minha pica não vai reclamar! - Faz vai e vem com seu quadril.

- Eu não faço programas, filho de uma puta, eu sirvo bebidas! - Aponto para as garrafas de Vodka e pro tanque de chop. - Se quiser usar esse teu taco murcho fique á vontade, muitas dançarinas estão desesperadas para conseguir dinheiro, elas dariam pra qualquer lixo. Adam!! - Grito.

O homem é expulso do recinto.

- Cara novo? - Jason, um cara de 28 anos que sempre vem á boate mas nunca o vi com garota nenhuma.

- Sim. - Respondo com pressa, a casa está mesmo cheia hoje, muitos drink's para preparar.

Olho o relógio e já são quase seis horas. Logo vou para casa. A noite foi movimentada e nem vi as horas passarem.

- Já pode ir, Ximena. - Era Beca, uma das dançarinas. - Eu limpo a boate hoje.

Assenti com a cabeça. Pego minhas coisas e vou pra casa. Como não tenho um automóvel vou de apé.

Atravesso a rua correndo antes que abra o sinal.

- Ximena! - Olho pra trás. - Sua bolsa! - Era Beca me chamando.

Um ônibus vinha a toda velocidade na direção dela.

- Cuidado!

Foi tarde de mais. Ele passa por cima dela. Saio correndo até o corpo da moça.

- Beca! - Meu rosto todo encharcado com lágrimas.

Ouço passos atrás de mim, vindo para cá, não me viro, apenas digo:

- Chame uma ambulância! - Os curiosos já estão aqui, penso. - Não me ouviu, seu idio... - Viro e não vejo ninguém.

Amante Do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora